“Nosso destino é morrer. E também é viver”.
Paulo Mendes Campos.
Toda tentativa de acender uma luz na escuridão atual, em terras palestinas e israelenses, vale a pena. Por isso, soa incompreensível o veto dos Estados Unidos à proposta brasileira para facilitar suspensões temporárias ao bombardeio. E para abrir um corredor humanitário.
Suspender bombardeios significa desativar o clima bélico. E emitir sinais de que o silêncio sem bombas é coisa civilizada. Abrir corredor humanitário significa dizer que somos humanos. Que somos capazes de fornecer água, comida e remédio a quem tem sede, fome e precisa de cuidado médico.
Pois bem. Nem assim. O placar da votação da proposta brasileira foi eloquente: 12 a favor, duas abstenções e um voto contra. Não só eloquente. Foi uma sinfonia diplomática. Compartilhada pelos corpos de diplomatas de 14 nações. Com observação relevante: as duas abstenções foram da Inglaterra e da Rússia. Que são de tendências políticas diferentes. Portanto, o projeto brasileiro teve a lógica necessária para abranger opostos.
A diplomacia brasileira é reconhecidamente competente. Respeitada. Profissional. Com breve intervalo de um delírio ideológico. Logo despachado. Aproveito para mencionar dois nomes de seus quadros: Francisco Santiago Dantas e Araújo Castro.
Santiago Dantas foi professor de Direito e ex-ministro das Relações Exteriores. Falava pouco. E dizia muito. Sempre em tom baixo. E seus alunos, circunstantes, colegas, todos, não precisavam de esforço para ouvir. E entender. Um de seus alunos me disse que havia conhecido dois homens muito inteligentes: Carlos Lacerda e Santiago Dantas.
O segundo nome é Araújo Castro. Intelectual preparado, ágil no pensar e no fazer, ex-ministro das Relações Exteriores. Na sua primeira fala na ONU, ele lançou uma doutrina que, por algum tempo, baseou o debate na entidade. Defendia três conceitos, três D: desarmamento, desenvolvimento e descolonização. Marcou época pela positividade. E rigor técnico.
Por sua vez, o presidente Biden subscreveu, sem ressalvas, um dos piores mandatários judeus. Um país que teve políticos como Yitzahc Rabin, Shimon Peres, Golda Meir. À parte o fato de se filiar firmemente a Netanyahu, o presidente americano parece ter quebrado a louça. Porque, com tal iniciativa, provocou o desmanche de encontro com autoridades palestinas e árabes.
Ora, esta é hora de juntar os cacos. De fazer com que todos dialoguem. De ponderar. Ao invés de açoitar. E subscrever a linha de um populista autoritário. A cena diplomática perdeu a chance de falar o idioma da paz. Biden votou pela guerra. E os diplomatas brasileiros mostraram que o Itamaraty está no nível do Quai d’Orsay.
Concluo com Paulo Mendes Campos: “Há pessoas antigas, belas e fora de moda como os grandes relógios de mogno”.
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