No meio de uma grave crise econômica e social, a Argentina parece dedicada a copiar a polarização política que vem predominando no Brasil. Apesar do enorme desgaste do governo, que levou a Argentina a uma inflação de 140% ao ano, e está ajudando a afundar o país e elevar a pobreza a patamares jamais alcançados, o candidato peronista, Sérgio Massa, ministro da economia do governo, foi o mais votado no primeiro turno das eleições de domingo, com 36,7% dos votos. Este resultado indica que o peronismo sobrevive como a principal força política da Argentina, talvez pelo fato de existirem vários peronismos, numa estranha mistura de tendências de direita e de esquerda, oportunistas, corruptos e mafiosos que circulam em torno do poder e da imagem idolatrada de Juan Domingo Perón. Se o peronismo continua sendo capaz de atrair mais de um terço dos votos, mesmo com o fracasso do seu governo, o restante do eleitorado argentino tem um claro sentimento anti-peronista. O que, nos últimos anos, se manifesta numa rejeição ao clã dos Kirchners, particularmente à ex-presidente Cristina Kirschner.
O que mais surpreende nestas eleições é que o anti-peronismo tenha levado ao segundo turno Javier Milei, o bufão anarco-capitalista (como ele se define), com suas propostas estapafúrdias e inconsequentes. Ele afirma que conversa com seu cachorro, e que toma decisões baseadas no tarô, e promete que, se eleito, vai desmontar o Banco Central, implodir o MERCOSUL e romper relações com a China, além de liberar o mercado de órgãos humanos e eliminar os ministérios sociais. Mais estranha ainda foi a decisão de Patricia Bullrich (de centro-direita, que obteve 23% dos votos) de apoiar Milei na disputa pela presidência da República com o peronista Massa. Quando anunciou o seu apoio ao histriônico Milei, Bullrich deixou claro que o seu objetivo é combater o kirchnerismo. Numa campanha altamente polarizada, o eleitorado argentino parece condenado a escolher entre o populismo peronista, que vem afundando a economia da Argentina, e o desvairado anarco-capitalista, que pretende mesmo jogar o país no abismo.
As crises de valores são recorrentes na sociedade humana. E graças a elas evoluímos, conforme podemos constatar conservando a narrativa histórica que registra os passos que vimos dando nesse planeta desde os tempos primordiais. O problema é que este processo, em determinados momentos, causa dissabores e sofrimentos. Estamos atualmente sob o forte impacto de mudanças no arcabouço das categorias éticos e morais que nos nos tem orientado nestes últimos tempos. De oportuno, nossos parabéns pela excelente análise contida no artigo.
Ótima dissertação sobre a crise de valores atualmente em curso mundo a fora. Na Argentina e nos Estados Unidos o panorama mostra uma face mais agressiva e assustadora. Todavia, trata-se de uma fase que se renova no decorrer da história e que, de acordo com suas características, demandam soluções específicas. Tem sido assim e são importantes na medida em que instigam a elaboração de novos valores como fatores de renovação e progresso da humanidade.