Granada

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Nenhum brasileiro minimamente informado acredita que o ex-presidente Jair Bolsonaro tenha algum apreço pela democracia, nem mesmo muitos dos que tenham, eventualmente, votado nele nas últimas eleições. Por tudo que andou dizendo ao longo da sua carreira política, com elogios à ditadura militar e a torturadores, ele demonstrou seu desprezo pelo sistema democrático. Pelas ameaças e ações enquanto presidente da República, questionamento da lisura do processo eleitoral, pelos discursos e mobilização dos seus seguidores e pelas evidências de articulações golpistas, Bolsonaro tem sido coerente com a sua vocação autoritária. Por tudo isso, Bolsonaro deve ser condenado politicamente pelos democratas brasileiros, condenação que se manifesta na denúncia das suas iniciativas e ações, no debate de ideias e no processo eleitoral. 

Para a sua prisão é necessário um processo jurídico que deu um passo importante com a denúncia apresentada pela Procuradoria Geral da República contra o ex-presidente e mais 33 comparsas pelos crimes de organização criminosa, tentativa de golpe de Estado e abolição violenta do Estado Democrático de Direito. De acordo com a acusação, o ex-presidente esteve à frente das articulações políticas e militares para dar um golpe de Estado, anular as eleições e neutralizar as instituições democráticas, especialmente o STF-Supremo Tribunal Federal. A denúncia da PGR apresenta um farto material comprobatório de testemunhos, gravações, vídeos, documentos e trocas de mensagens que deixam evidente a conspiração golpista que, felizmente, não conseguiu esmagar a democracia brasileira. 

Como é provável que a Primeira Turma do STF aceite a denúncia da PGR, o Brasil vai viver, nos próximos meses (talvez anos), um longo e complexo processo jurídico carregado de forte conotação política. O julgamento envolve não apenas um ex-presidente que tem uma base política na população e no Congresso, como também militares de alta patente, incluindo generais da ativa. E, num momento político muito delicado, a pouco mais de dois anos das eleições presidenciais, deverá intensificar a polarização política, com Bolsonaro no banco dos réus e o governo Lula desorientado, e espremido entre o Centrão fisiológico e as pressões populistas dos companheiros do PT-Partido dos Trabalhadores, assanhados com o resultado decepcionante das últimas pesquisas de opinião. Serão tempos de muita turbulência e de uma provável radicalização política no Brasil, que deve crescer na medida em que nos aproximarmos das eleições presidenciais. Só não podemos deixar que algum irresponsável arranque o pino da granada.