
Roman Krznaric
Os imensos desafios do tempo presente podem ser assustadores, mas não são necessariamente insolúveis. Requerem, dispensável dizer, mudanças corajosas. Ao redor do mundo, a Esperança tem visitado mentes brilhantes para que a nossa civilização não tenha como corolário a sua autodestruição. Ao que parece, uma era de radicalismos precisa de uma esperança radical.
O filósofo social e sociólogo político australiano Roman Krznaric, pesquisador da Universidade de Oxford, em seu mais recente livro, “História para o amanhã: inspirações do passado para o futuro da humanidade”, de 2024, propõe exatamente uma esperança radical, e, segundo ele, fundamentada em experiências extraordinárias, mas nem sempre bem lembradas, do passado humano. A exemplo do historiador inglês Theodore Zeldin, com quem trabalhou, Krznaric faz suas reflexões ligando pontos aparentemente mortos da História aos vivíssimos e grandes desafios do tempo presente.
Nas palavras do filósofo, nossa época “subestima profundamente a experiência acumulada do passado como guia”, pois “a tirania do agora governa a vida pública”, isso inclusive a despeito do permanente fascínio que o passado e a História sempre provocam. É nesse passado tão pontuado de soluções inovadoras quanto rico em revoltas, numa “história vista de baixo”, que o autor vai buscar inspiração para a solução dos mais urgentes problemas globais da atualidade. Para tanto, assume uma “abordagem dualista do passado”, tanto apontando insights positivos quanto narrativas negativas que se podem ler como advertências.
Uma das seduções de “História para o amanhã” é que cada um de seus capítulos pode ser lido de uma forma autônoma, aliás como chama a atenção o próprio autor. Os temas não poderiam ser mais pertinentes: a superação dos combustíveis fósseis, o abandono do hábito do consumo, as redes sociais, a garantia de água para todos, a revolução genética, a redução das desigualdades, o controle das máquinas, além da defesa da democracia e da tolerância. É com essa pauta febril que o livro se desdobra como um incitamento à ação de ativistas, de políticos, de educadores e empreendedores.
Como epílogo do seu trabalho, Krznaric alinha cinco razões para “a esperança radical”. A primeira é que “Movimentos disruptivos podem modificar o sistema”. Para ele, “a disrupção funciona”, e, por isso, advoga uma “chama alta”, pois, em face de “uma janela de mudança cada vez mais estreita” para o suicídio ecológico, “seria irresponsável empregarmos a chama baixa do gradualismo”. Como uma segunda razão, aponta como a nossa espécie, em vários momentos, fez prevalecer o “nós” sobre o “eu” (o livro traz vários exemplos históricos). A terceira razão é que “Há alternativas ao capitalismo”, a exemplo do que ocorreu no Japão do século XVIII e da “economia cooperativa da Emília Romagna” no século XIX. Uma quarta razão seria a de que os seres humanos são, por excelência, inovadores sociais. Finalmente, a quinta razão: “Outros futuros são possíveis”, pois a História “nos dá novas possibilidades por onde seguir” e pode nos livrar da “camisa de força do presente”.
Escrito não só com um amplo conhecimento social da História, mas igualmente, como fica patente ao longo de suas páginas, com a arte da imaginação e o clamor da revolta, “História para o amanhã” pretende de fato ser um agente de mudança, com o autor torcendo para que cada um de seus leitores tenha uma cidadania ativa (sobre isso, a seu favor, pelo que sabemos, conta a coerência pessoal de viver o que defende). Enfim, se no princípio era a Ação, como escreveu Goethe, devemos reconhecer que, agora, para evitarmos o fim e termos uma história no amanhã, será novamente a Ação que estará em jogo. Uma ação coletiva e cidadã.
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