Pinóquio – autor desconhecido.

 

Gepetto é um marceneiro solitário que sonha em ser pai. Deseja que Pinóquio, o boneco que acabou de construir, ganhe vida. Seu pedido é atendido. Mas, desobediente, Pinóquio acalentou o hábito de mentir. E, a cada vez que mentia, seu nariz crescia um pouco.

Esta estória foi criada pelo escritor florentino, Carlo Collodi, em 1883. E, a partir de então, Pinóquio passou a ser metáfora. Acentuando a atitude de falsear fatos. E distribuir mentiras.

Mentiras convencionais são consideradas de menor gravidade. No plano filosófico, Aristóteles e Kant entendem que mentir é inadmissível. E na política ? Para Hannah Arendt, “política ideológica leva à obliteração da realidade. Mentira fascista produz realidade de fantasia”.

O Senado brasileiro, na CPI da pandemia, virou cena teatral, fantasiosa. Na qual o público assiste, quedo, incrédulo, a desfile de pinóquios. Uns, floreados de circunlóquios, como os do ex chanceler. Outros, mais chegados a redondo primarismo, dão vexame. Ambos, em malabarismo de fancaria, se desinventam em opróbio caricatural.

Os pinóquios firmam suposto drama. Que não honra Rio Branco, nem Caxias. Mais que isso, protagoniza genuína tragédia. Tragédia com duas dimensões. Uma dimensão pública. E uma dimensão privada.

A dimensão pública dos pinóquios consagra apequenamento da função política. Política, no senso aristotélico, é transformar o fazer em usufruto público. Mentir é transformar, na distorção de fatos, o bem em mal. Homens eticamente anões.

A dimensão privada dos pinóquios distingue vergonha particular. Ressaltando desmanche de tristes figuras. Homens com os primeiros fios de cabelos brancos. Sinal de tempo vivido. Cuja certidão (retidão ?) deveria imprimir, por gestos, respeitabilidade. Ledo engano.

No final de contas, estamos vivendo, em capítulos improváveis, um desastre. Desastre mortal. E moral. Fico imaginando como as pessoas encaram filhos, netos. Se os papéis de pai e avô exigem exemplaridade. Capaz de tornar a descendência testemunho de melhor espécie.