David Hulak

O Pensador.

O Pensador.

Vai ter Petrobrás? 

Dizem que o velho Marx escreveu: “a história se repete, a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa.”

Tudo bem que o capital estrangeiro se interponha em nossa economia, mas para tanto é preciso que tenhamos um governo honrado, digno de absoluta confiança em termos de moralidade administrativa”. Quem disso isto? “Surprise”, foi Bilac Pinto insigne udenista, relator do projeto que aprovou o monopólio estatal do Petróleo, em 1953.

A UDN que passou dois anos defendendo a privatização exploração do petróleo com posições desde o liberou geral, isto é, para exploradores nacionais e estrangeiros, até os que admitiam uma empresa estatal com participação de quarenta por cento dos privados.

O indefectível Carlos Lacerda liderava na UDN os do liberou geral. Na última hora o relator udenista apoia a versão estatal e justifica como se apresenta acima.

Ele toparia um parceria minoritária Standard Oil contanto que não houvesse tanta corrupção. Vôte!

Quem conta isso é Almino Afonso no seu imperdível livro “1964 na visão do ministro do trabalho de João Goulart, Almino Afonso.

Vai daí eu penso o que está nos jornais e na CPIM é farsa, tragédia ou um conúbio jagode, sem=vergonha?

 

Profecia sabugosa.

Disseram no Sítio do Pica-pau-amarelo que Brasil ficaria mais rico que os Estados Unidos e teria muitas escolas técnicas, educação universal, Universidades primeiro-mundistas, infraestrutura bacanuda, saúde para todos os brasileiros.

Isso se, furando poços -atividade da maior importância-, ficasse demonstrado que tínhamos petróleo, apesar dos de mau caráter negarem a existência dessa riqueza por aqui.

Digo que disseram e abono através do Visconde de Sabugosa:

“Então por que não se perfura no Brasil?

– Porque as companhias estrangeiras que nos vendem petróleo não têm interesse nisso. E como não têm interesse nisso foram convencendo o brasileiro de que aqui, neste enorme território, não havia petróleo. E os brasileiros bobamente se deixaram convencer….. mas que quer você? Quando um povo embirra em não arregalar os olhos, não há quem o faça ver. As tais companhias pregaram as pálpebras dos brasileiros com alfinetes. Ninguém vê nada, nada, nada… E cada ano o Brasil gasta mais de meio milhão de contos na compra do petróleo que as companhias espertalhonas nos vendem”.

Apelo para a turma do Sitio propondo o que fazer com o dinheiro gerado pelo Caraminguá I:

“ Podemos começar aqui pelo nosso município e depois iremos nos alastrando pelo país inteiro. Isto é, iremos construindo estradas de rodagem de verdade – pavimentadas de concreto, com um lado para ir e outro para vir – e uma faixa de grama no meio, como as da Alemanha.–

Aprovo o programa – disse Dona Benta.– E também poderemos criar boas escolas profissionais para esta caboclada bronca – propôs Narizinho. – Eles são aproveitáveis, mas têm que ser ajudados. Por si nada fazem porque nada podem fazer.– E também organizaremos umas casas de saúde bem modernas, com os melhores médicos e todas as comodidades, como os hospitais americanos que a senhora contou outro dia.– Aprovado! – disse Dona Benta.– E construiremos para eles casas decentes, com higiene e coisas modernas, que lhes sejam vendidas a prestações bem baixinhas. É uma vergonha para nossa terra como moram as gentes da roça – em casebres de sapé e barro, imundíssimos, sem mobília, sem nada lá dentro. Qualquer toca de bicho do mato, qualquer ninho de joão-de-barro, vale mais que um casebre de caboclo.– Aprovado! – disse Dona Benta. O Visconde tomou a palavra.– E eu acho que devemos criar casas de ciências para o aproveitamento dos meninos que mostrarem vocação para os altos estudos. E mais tarde poderemos criar uma universidade como a de Harvard”

Lobato sonhava alto com os pés no chão. Sabia que o Brasil, riquíssimo em recursos naturais, podia transformar-se em um país desenvolvido

Deu certo O poço Caraminguá I deu óleo e agora eles se multiplicaram até nos abissais Mas só mais ou menos.

Petróleo há e as consequências vaticinadas nem tanto. Será que a razão estava com Bilac Pinto?

Vai daí, eu penso: será que a Diretoria que fura poços deveria ser gerida pelo sábio Visconde, o sabugo inteligente e outras, tão importantes quanto, por dona Benta e seus netos? Seria um arregalar de olhos.

 

Deu na imprensa.

Disse João Ubaldo Ribeiro que soube que a patuleia vai poder conhecer as histórias que Machado de Assis contou, mas escoimadas da forma que usou para conta-las. Cito:

“…Segundo o que saiu nos jornais, concluíram que os jovens e pessoas menos cultas não leem Machado porque não entendem as palavras e não percebem o que querem dizer certos arranjos sintáticos. Ou seja, o problema é com Machado, cujos textos obsoletos são preservados supersticiosamente e já não têm serventia para as gerações presentes. Urge, portanto, que nos livremos dessa tralha inútil e elitista, corrigindo o muito que clama por atualização.”

Disse Demétrio Magnoli que o jornalista Lourival Sant`Anna disse que a socióloga Esther Solano, da USP disse: “ Num país onde mais de cinquenta mil pessoas são mortas por ano como é possível essa histeria com quarenta garotos?” Os referidos garotos eram os black blocs.

Disse o jornalista Merval Pereira que periodistas gringos perguntaram à Presidenta os motivos pelos quais o Brasil crescia tão pouco e ela respondeu “Não sei”.

Vai daí eu não sei mais o que pensar.

 

Abonação resenhada.

Quem mata cobra tem que mostrar o pau.

O livro de Almino Afonso foi editado pela “Imprensa oficial de São Paulo”, em quase setecentas páginas, com prefácio de Fernando Morais. Traz uma abordagem diferente de tudo que saiu sobre o fatídico primeiro de abril e em diante. Ele tenta entender como chegamos àquela data. Fundamenta o que diz abonando com credibilidade as suas memórias. Vem de Getúlio, passa pelo General Lott, por JK e Jango concatenando-os. Bem escrito e esclarecedor.

O autor, amazonense com raízes potiguares deputado federal, líder do PTB e do governo Jango e na volta da ampla, geral e irrestrita exerceu cargos no governo paulista tendo sido, em vacâncias, governador em exercício.

O livro de Monteiro Lobato é o Poço do Visconde onde ele ensina geologia, politica, relações internacionais, química dos derivados de petróleo e muito mais. E todas as crianças entendem e aprendem, como aconteceu comigo no final da década de quarenta, no século passado.

Ainda por cima é muito divertido, engraçado e ótimo para reler e comprar para filhos e netos.

Infelizmente a edição original com as ilustrações de Belmonte, obras de arte do grafismo no Brasil, só pode ser encontrada em pouco sebos e são pagáveis com os olhos da cara.

O autor, como todo mundo sabe, um dos maiores da literatura tupiniquim para crianças e adultos foi ensaísta, militante nacionalista e denunciador de maus feitos, sobretudo daqueles que não queriam o que depois dele veio ser o Petróleo é Nosso.

Aquele mesmo que o politicamente correto tentou censurar, Alias na crônica de João Ubaldo ele trata muito bem desse fato.

As crônicas

As três citadas foram publicadas em O Globo nos dias um e cinco de junho. Estão na internet, mas a de Ubaldo, muito boa e importante vou solicitar aos editores de Será? Que a coloquem no Face da revista, pois seria longo reproduzir aqui.

P.S . Abaixo o link para o artigo de João Ubaldo Ribeiro

http://oglobo.globo.com/opiniao/reescrevendo-historia-12671527