Numa das suas inspirações literárias, José Saramago escreveu o romance Jangada de Pedra (1986), no qual a Península Ibérica se desgarra da Europa e flutua à deriva no Oceano Atlântico. Naquela grande jangada que vagueia perdida no mar, os personagens vivem cenas surrealistas como a própria metáfora de um improvável acidente geológico que muda a vida e a paisagem numa parte do continente europeu. A metáfora parece útil para diagnosticar o Brasil de hoje. Estamos à deriva num mar revolto e incerto enquanto os políticos eleitos para diferentes cargos e funções, obtusos e alienados, se banqueteiam e não percebem os riscos de um iminente desastre. Discursos e declarações desencontradas, propostas descabidas e inapropriadas, decisões irresponsáveis que empurram a jangada para as áreas mais inquietas do oceano, todos parecem conspirar contra o Brasil, cada um querendo se apropriar do melhor pedaço da ilha que navega sem rumo. Os brasileiros estão perplexos, indignados, com medo. Mas cada grupo de interesse e segmento social se agarra às migalhas que sobram do banquete e rejeitam qualquer mudança que exija sacrifícios, principalmente aqueles que vêm acumulando privilégios nas benesses de um Estado generoso mas à beira da falência. Ajuste, sacrifícios, cortes só para os outros. Mas, os outros, os outros somos nós. Estamos todos na jangada perdida. E a tripulação está mais perdida que os passageiros.
Na verdade, vivemos uma crise anunciada não por conta de “políticos eleitos para diferentes cargos e funções, obtusos e alienados, se banqueteiam e não percebem os riscos de um iminente desastre.” Mas por conta de treze anos de governos comprometidos, mais com seus “negócios” e projeto de Poder do que com um projeto de Nação.
Essa leitura obtusa de que “os políticos, são todos iguais”, esconde a complacência com mal-feitos de um governo notabilizado por usar a corrupção como instrumento de apoio político (mensalão) ou partilha de butim (petrolão)
Sim, a instabilidade, o declínio econômico, a falta de direção são o resultado dos erros de política dos dois últimos governos, Lula II e Dilma I. E Dilma II por um lado tenta corrigir, e por outro lado boicota qualquer medida que poderia levar a uma correção. E Congresso tampouco está ajudando.
Prezados,
Diz-se que não tem vento bom para um velejador que não sabe pra onde vai.
Creio que esse seja o caso da Nau Perdida Brasil…
Uma verdadeira tragédia, isso sim, é pelo que estamos passando.
Estamos a deriva, um vice querendo derrubar o comandante para ficar no comando. Vai mudar o que nisso tudo.
São interesses particulares e partidários desta balaida toda.
A análise representa bem o modus operandi da súcia quadrilheira, mensaleira e petroleira lulo-petista.
Pior do que a crise é o governo não saber o que fazer ou ainda pior, não consegue fazer nada pois não há base ou governabilidade. Um país continental, com terras férteis, milhares de pessoas inteligentes e comunicativas, que querem trabalhar na indústria, no comercio e prestação de serviços. Mas a administração pública conseguiu fazer o sistema travar. E agora, tudo indica que vem a crise hídrica pra fazer o papel da cereja do bolo. Um governo inteligente saberia ligar os pontos e sair da crise. Mas vamos aguardar o tsunami da corrupção e incompetência passar.
Concordo plenamente com Claudio Vitorino e acrescento que não há condições de aceitar que o mesmo governo que foi omisso,conivente,participante principal desse caos seja o mesmo que propõe medidas de ajuste que se necessárias não nos moldes em que estão sendo apresentadas.Não é com arrocho para o povo nas medidas propostas que sairemos dessa.Eu não sou partidária de que a saida deste governo seja um trauma porque o trauma maior e principal é a recessão e essa já estamos conscientizados e vivenciando.A verdade que ninguém tem coragem de afirmar é que os governos Lula e Dilma não possuiam projeto de país,não tem capacidade para gerir tanto que está comprovado agora diante desse tsunami,que estavam preparados apenas para subtrair de nós qualquer reação o que facilitaria à eles nos venezuelar,e foram pegos de surpresa com a reação popular.Se existem parlamentares descomprometidos existem os comprometidos com o povo e esses é que precisam ter a coragem de assumir e pedir a saida dela e aí sim chamar a um pacto nacional para mais uma vez consertar as coisas.Os elogios às medidas de distribuição de renda não cabem também porque se para atingir os fins comprometeram os meios ou foi por incompetência ou por demagogia e aqueles que receberam os “beneficios” agora estão largados a mingua para pagar uma conta semeada por mentiras e ilusões.Já se sabe a muito tempo que tudo que sobe rápido tem curta duração e a queda livre costuma ter muitos mortos e feridos.