Refletindo a visão que a sociedade tem das suas políticas e dos seus eventuais resultados, a popularidade dos governantes pode ser muito enganosa, o sucesso presente podendo levar a complicações e fracassos futuros (previsíveis ou não). Para não falar no efeito da propaganda, que constroi fantasias, e dos impactos diferenciados das políticas sobre segmentos sociais de maior ou menor capacidade de formação da opinião pública. Na busca desesperada por popularidade, os governantes costumam preferir medidas de resultados imediatos e de grande visibilidade, mesmo quando podem gerar desdobramentos e resultados negativos na realidade futura, impressionando no presente, mas escondendo as eventuais consequências nefastas. Popularidade vantajosa para o governante pode, em certas condições, ser desastrosa para o país. Foi assim que a ex-presidente Dilma Rousseff conseguiu uma popularidade reazoável, em 2014, suficiente para a sua reeleição, mas a um custo elevado na economia e na vida das pessoas: pressão inflacionária e degradação das finanças públicas. A popularidade inicial foi alcançada graças a medidas que levaram a um desastre posterior e que terminaram comprometendo a sua própria popularidade no segundo mandato. Na crise atual, a relação se inverte: a implementação de medidas que reequilibrem a economia, incluindo o enfrentamento de velhos estrangulamentos estruturais, como a reforma da Previdência, será altamente impopular. O governante que decidir realizar o ajuste fiscal e implantar as reformas estruturais, medidas necessárias para reequilibrar a economia e recuperar o crescimento econômico, terá que renunciar à sua popularidade. O presidente Michel Temer afirmou agora (entrevista em Nova York) que irá realizar o ajuste e as reformas no seu curto governo, mesmo que tenha que conviver com uma popularidade baixa. Se conseguir, pode terminar seu governo com avaliação negativa mas será resgatado pela história: mal avaliado no presente, mas respeitado no futuro. Mas se ceder (tinha cedido uma vez com os reajustes de salários do Judiciário), preocupado com a popularidade e com a avaliação positiva do seu governo nestes dois anos, a crise econômica brasileira poderá se agravar e se aprofundar com desdobramentos sociais e políticos devastadores. Será mal avaliado no presente e condenado pela história.
Sobre o autor
Postagens Relacionadas
Postagens recentes
-
Será que agora vai?nov 22, 2024
-
Jornada de trabalho e produtividadenov 22, 2024
-
Onde está o nexo do Nexus?nov 22, 2024
-
Janja xingou e levou um sabão da mídianov 22, 2024
-
Brasil, o Passadonov 22, 2024
-
Camões, 500 Anosnov 22, 2024
-
Última Páginanov 22, 2024
-
O ódio político no Brasilnov 15, 2024
-
Quem mentiu: Trump, Putin ou The Washington Post?nov 15, 2024
Assinar Newsletter
Assine nossa Newsletter e receba nossos artigos em seu e-mail.
Alcides Pires A Opinião da Semana Aécio Gomes de Matos camilo soares Caruaru Causos Paraibanos civilização Clemente Rosas David Hulak democracia Editorial Elimar Nascimento Elimar Pinheiro do Nascimento Eli S. Martins Encômio a SPP Estado Ester Aguiar Fernando da Mota Lima Fernando Dourado Fortunato Russo Neto Frederico Toscano freud Helga Hoffmann Ivanildo Sampaio Jorge Jatobá José Arlindo Soares José Paulo Cavalcanti Filho João Humberto Martorelli João Rego Lacan Livre pensar Luciano Oliveira Luiz Alfredo Raposo Luiz Otavio Cavalcanti Luiz Sérgio Henriques manifestação Marco Aurélio Nogueira Maurício Costa Romão Paulo Gustavo Política psicanálise recife Religião Sérgio C. Buarque Teresa Sales
comentários recentes