Editorial

Die angeklagte Susanna und der Prophet Daniel by Sebastiano Ricci.

Die angeklagte Susanna und der Prophet Daniel by Sebastiano Ricci.

Refletindo a visão que a sociedade tem das suas políticas e dos seus eventuais resultados, a popularidade dos governantes pode ser muito enganosa, o sucesso presente podendo levar a complicações e fracassos futuros (previsíveis ou não). Para não falar no efeito da propaganda, que constroi fantasias, e dos impactos diferenciados das políticas sobre segmentos sociais de maior ou menor capacidade de formação da opinião pública. Na busca desesperada por popularidade, os governantes costumam preferir medidas de resultados imediatos e de grande visibilidade, mesmo quando podem gerar desdobramentos e resultados negativos na realidade futura, impressionando no presente, mas escondendo as eventuais consequências nefastas. Popularidade vantajosa para o governante pode, em certas condições, ser desastrosa para o país. Foi assim que a ex-presidente Dilma Rousseff conseguiu uma popularidade reazoável, em 2014, suficiente para a sua reeleição, mas a um custo elevado na economia e na vida das pessoas: pressão inflacionária e degradação das finanças públicas. A popularidade inicial foi alcançada graças a medidas que levaram a um desastre posterior e que terminaram comprometendo a sua própria popularidade no segundo mandato. Na crise atual, a relação se inverte: a implementação de medidas que reequilibrem a economia, incluindo o enfrentamento de velhos estrangulamentos estruturais, como a reforma da Previdência, será altamente impopular. O governante que decidir realizar o ajuste fiscal e implantar as reformas estruturais, medidas necessárias para reequilibrar a economia e recuperar o crescimento econômico, terá que renunciar à sua popularidade. O presidente Michel Temer afirmou agora (entrevista em Nova York) que irá realizar o ajuste e as reformas no seu curto governo, mesmo que tenha que conviver com uma popularidade baixa. Se conseguir, pode terminar seu governo com avaliação negativa mas será resgatado pela história: mal avaliado no presente, mas respeitado no futuro. Mas se ceder (tinha cedido uma vez com os reajustes de salários do Judiciário), preocupado com a popularidade e com a avaliação positiva do seu governo nestes dois anos, a crise econômica brasileira poderá se agravar e se aprofundar com desdobramentos sociais e políticos devastadores. Será mal avaliado no presente e condenado pela história.