Afirmar que a intervenção federal no sistema de segurança pública do Rio de Janeiro não vai resolver o problema da violência é uma obviedade ululante, como diria Nelson Rodrigues. Claro que uma ação focada no combate ao crime organizado não vai desarmar uma bomba montada ao longo de décadas de abandono das favelas e comunidades pobres e de descontrole completo do território. São necessários elevados investimentos em educação, tanto para aumentar as oportunidades sociais como para retirar os jovens da ociosidade, os milhares de jovens que não trabalham nem estudam, e são facilmente atraídos para o crime. Ao mesmo tempo, é necessária uma reformulação da política de drogas, separando o consumo e a distribuição no varejo dos grandes traficantes, poderosos donos dos morros e detentores de um grande arsenal militar. A intervenção federal não resolve um problema tão complexo e tão irradiado na sociedade. Ocorre, contudo, que o fenômeno da violência urbana no Rio, mais do que em qualquer outro Estado brasileiro, ganhou proporções que exigem uma repressão ao crime organizado. Tornou-se uma premência, para quebrar o ciclo de consolidação e irradiação do poder do crime organizado, que não se mede apenas pelo negócio das drogas, pelos homens, jovens e crianças circulando com armas, ou pelos tiroteios seguidos nas favelas, ameaçando a vida das famílias, mas também pelo roubo de cargas que agrava a crise econômica e fiscal do Rio de Janeiro. Em 2017, foram registrados 10.599 roubos de cargas no Rio de Janeiro (em 2010 foram 2.619), número que já chegou a 977 no primeiro mês deste ano. Claro que os governos devem revisar, agora, a política de drogas, e implementar, desde já, grandes investimentos em educação. Mas os seus resultados amadurecem muito lentamente, e a questão é de urgência. Por outro lado, com o controle do território pelo crime organizado e sua infiltração na sociedade e nas instituições (política, polícia e Judiciário), é impossível avançar nas mudanças estruturais que confrontam as causas fundamentais da violência no Brasil.
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