Esqueçam as bobagens da ministra Damares Alves. Estão virando piada. E, levadas ao ridículo, perderam força e estão esvaziadas. Ela não vai mudar os costumes e comportamentos dos brasileiros nem desmontar os direitos civis, consolidados e cristalizados na maioria da população, com seus delírios religiosos ou as afirmações ingênuas sobre vestimentas de meninos e meninas. Por isso, não vale a pena perder tempo com estas afirmações grotescas, exceto lamentar a mediocridade que se abate sobre o Brasil. Basta uma boa charge para transformá-las em riso. Num momento de tantas dificuldades econômicas e sociais, e de fanatismos políticos, é necessário focar no principal, evitando a dispersão nos detalhes pitorescos e insignificantes, que terminam desviando as atenções das questões relevantes e fundamentais. Devemos concentrar a observação e a análise crítica nas propostas e medidas que, de fato, podem impactar na realidade brasileira e decidir nosso futuro, tomando posição e nos mobilizando, seja para protestar e rejeitar os equívocos reacionários do governo, seja para apoiar as propostas de mudanças corretas e necessárias. Pelo menos em um aspecto, os brasileiros devem dar suporte às iniciativas do Governo Bolsonaro: as reformas econômicas e, mais particularmente, a reforma da Previdência, sem a qual o Estado brasileiro vai afundar, e tudo o que se deseja para o Brasil, como a geração de empregos e a melhoria dos serviços públicos, será frustrado. Quase tudo o mais anunciado até agora pelo governo é preocupante e merece atenção e critica dura e qualificada, para impedir as decisões que representem ameaças reais à democracia, à imagem internacional do Brasil e ao desenvolvimento, como a anacrônica política externa anunciada pelo “templário”” Ernesto Araújo, o afrouxamento na gestão ambiental e a revisão da demarcação de terras indígenas. A manifestação contrária a estas medidas não pode, contudo, impedir o reconhecimento e mesmo a defesa de propostas e iniciativas de grande significado para o futuro do Brasil.
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Alcides Pires A Opinião da Semana Aécio Gomes de Matos camilo soares Caruaru Causos Paraibanos civilização Clemente Rosas David Hulak democracia Editorial Elimar Nascimento Elimar Pinheiro do Nascimento Eli S. Martins Encômio a SPP Estado Ester Aguiar Fernando da Mota Lima Fernando Dourado Fortunato Russo Neto Frederico Toscano freud Helga Hoffmann Ivanildo Sampaio Jorge Jatobá José Arlindo Soares José Paulo Cavalcanti Filho João Humberto Martorelli João Rego Lacan Livre pensar Luciano Oliveira Luiz Alfredo Raposo Luiz Otavio Cavalcanti Luiz Sérgio Henriques manifestação Marco Aurélio Nogueira Maurício Costa Romão Paulo Gustavo Política psicanálise recife Religião Sérgio C. Buarque Teresa Sales
A lista de “bobagens”, como se refere o complacente editorial, em apenas 11 dias de governo, é espantosa e não se restringe às mencionadas. É bem maior, atinge várias áreas (educação, saúde, política habitacional, política ambiental, política indígena etc.), além de incluir uma densa série de ações descoordenadas entre idas/vindas, ditos/não ditos, fica/sai. Não acho perda de tempo atacar o obscurantismo nelas embutido porque tais medidas, muitas de caráter puramente ideológico, acabarão tendo efeito perverso sobre as condições de vida da população brasileira, especialmente mais humilde e vulnerável.
Quanto a focar no essencial, para variar elege-se a economia, o mercado, a sanidade fiscal do estado e por aí vai. Não discordo, mas a citada reforma da previdência, por exemplo, para ser crível, teria de incluir estratos privilegiados: carreiras do executivo, legislativo e judiciário com altos salários, militares, etc. Não é o que se esboça.
Também desconfio das fórmulas que endeusam o mercado, restringem severamente os direitos sociais duramente conquistados, colocando tal binômio em primeiro plano, sob a promessa de que o desemprego diminuirá e a economia voltará a crescer. No ano passado, Temer e seus aliados, por exemplo, prometeram exatamente isso ao incinerar direitos trabalhistas e hoje vemos que o impacto sobre o emprego foi pífio. Lembra também a justificativa de Delfim nos anos setenta de que era preciso antes fazer crescer o bolo para depois repartir. Depois quando?
Então creio que o essencial é atacar a perversa estrutura de privilégios mantida por nossas elites e combater a terrível desigualdade reinante no país, investindo em educação e na formação de cidadãos (e, diga-se de passagem, não apenas de consumidores, como por vezes fizeram os governos petistas). Tudo isso pelo menos concomitantemente à melhora das condições econômicas, e não depois. Sem isso em mira – e a mira deste governo passa longe da justiça social – o Brasil fica difícil.
Caro Oswaldo
O editorial não discorda que se deva “atacar o obscuratismo” das propostas do governo Bolsonaro. Pretende, contudo, alertar para que não se perca o foco e seja feita uma separação clara entre os discursos pitorescos que distraem a atenção para o que é essencial, menos as falas grotescas e mais as propostas efetivas que podem comprometer a democracia e o desenvolvimento brasileiro, como está dito no editorial. O Editorial destaca algumas dessas medidas que, alimentadas pelo “discurso obscurantista”, tendem a gerar graves problemas econômicos e sociais no Brasil, incluindo as questões ambientais e indígenas que você ressalta no seu comentário.
Em relação à economia, a Revista entende que a maioria das propostas anunciadas são positivas e necessárias para recuperar a capacidade de investimento e ação do Estado e que, porisso, como está dito, merecem o apoio da sociedade. Mas, ao contrário do que você insinua, não se trata de “eudeusar o mercado”. O editorial parte do entendimento que o Estado brasileiro está falido e, portanto, sem uma reestruturação não será possível fazer nada do que você defende no seu comentário e que converge com nossa posição, principalmente na educação. Como pessoa bem informada, você deve saber que o déficit da Previdência da União (INSS e previdência do setor público) representa quase três vezes o orçamento da educação. Por outro lado, as diversas propostas de reforma da Previdência em discussão, incluindo a que Temer tinha enviado Congresso, vão direto contra estes “estratos privilegiados” dos servidores públicos que você cita. Estes são também os mais poderosos estratos da República a ponto de conseguir enganar a opinião pública com um discurso enganoso contra a reforma da Previdência, e que tem sido, lamentavelmente, assumido por políticos oportunistas de vários partidos (artigos anteriores da Revista abriram um bom debate sobre o tema). Até agora as propostas evitaram incluir os militares na reforma da Previdência o que, do nosso ponto de vista, é um equívoco, considerando o peso que já têm no déficit previdenciário. Mas parece que o ministro da Economia não pretende poupar esta categoria.
Concordamos com você que é necessário atacar a “perversa estrutura de privilégios” porque, do contrário, o Estado brasileiro não terá recursos para investir no desenvolvimento econômico e social, principalmente na educação. Nada a ver com a fala de Delfim Neto. Ocorre que o Estado (União) não tem recurso no momento porque compromete quase 70% das despesas primárias com salários do servidor público e previdência social, precentual que deve crescer continuamente com o próprio envelhecimento da população. E tende a ter cada vez menos recursos livres para investimento em educação, saneamento e segurança, ou seja na oferta de serviços públicos de qualidalde.
Embora não seja tema do editorial, entendemos que o seu comentário comete uma grande injustiça com o governo Temer quando diz que a sua reforma trabalhista teria o efeito de “incinerar os direitos” trabalhistas. Esse foi o discurso difundido pela oposição e que, do nosso ponto de vista, não tem fundamento. Para alimentar o debate sobre o tema, gostariamos de convidá-lo a escrever um artigo para a Revista no qual explicasse em que exatamente a reforma trabalhista quebrou direitos sociais.
Os Editores
Editorial objetivo e pertinente. O processo eleitoral findou. Agora é enfocar o principal, aquilo que é de fato relevante para o pais.
Na economia, ênfase na reforma da previdência é crucial. Uma legislação atualizada, inclusive para os criminosos de “colarinho branco”, é indispensável. Nesses dois aspectos não estamos indo mal.
Serviços públicos, principalmente educação e saúde, carecem de profundas e amplas reestruturações. Vamos aguardar um pouco mais pela eficientização da máquina pública.
Na área ambiental e na política externa, saímos de um radicalismo maniqueísta e fomos para outro de sentido inverso.
Enfim, como se diz por aqui, “o Brasil não é para amadores”…
Virou moda no Brasil, o governo ter um bobo da corte, ou uma boba da corte. Nesse sentido, este atual governo melhorou porque a boba da corte não é mais a suprema mandatária, é uma subalterna para dar circo ao populacho.
Prezados editores
Agradeço de antemão a atenção dispensada a meu singelo comentário.
Sinceramente tenho muitas dúvidas se o eixo principal das políticas econômicas até aqui propostas seja “recuperar a capacidade de investimento e ação do Estado”, como vocês alegam.
Creio que enxugar, desidratar e privatizar o estado, acusando-o de ineficiente e corrupto (o que infelizmente em vários casos é verdadeiro), designam melhor o programa (diga-se de passagem, aqui em São Paulo também perseguido por Dória) da atual equipe econômica, ignorando seu potencial papel de protetor e indutor de desenvolvimento social em um país tão injusto como o Brasil.
Nesse sentido é que há um endeusamento do mercado, concebido como capaz, por si próprio, de corrigir distorções. O sistema até aqui aventado de capitalização da previdência é um exemplo. Ele pode até funcionar para determinados estratos de classe média, mas é pouco crível que seja eficiente do ponto de vista de proteção social das classes mais baixas, que dificilmente terão condições de a ele aderir. Se implementado cabalmente, provavelmente funcionará mais como política de extermínio de inativos. Lemos esta semana reportagens indicando o que vem acontecendo no Chile (https://www.hypeness.com.br/2018/08/sem-previdencia-publica-chile-tem-numero-recorde-de-suicidio-de-idosos/).
Agradeço também o gentil convite para aprofundar os efeitos da reforma trabalhista, mas estou certo que carece-me competência para tal. Apenas tenho acompanhado o noticiário a respeito, cujos pontos principais passo a destacar:
1. a necessidade da reforma foi justificada sob a alegação de que sua aprovação geraria muitos empregos e reduziria a informalidade; o que é no mínimo discutível, até o presente (o então ministro do Trabalho, Ronaldo Nogueira, chegou a dizer que a reforma poderia tirar 45 milhões de pessoas da informalidade, o que hoje soa como piada…)
2. o pequeno incremento de empregos foi na faixa mais baixa do ponto de vista salarial, o que demonstra que talvez o que estejamos vivendo seja uma pequena migração de trabalhadores de postos com mais direitos para postos de trabalho menos protegidos;
2. para os defensores da reforma, o principal triunfo foi a redução do número de ações trabalhistas no período, o que, de meu ponto de vista, não pode ser tomado como vantagem absoluta. De fato, ao obrigar o trabalhador a arcar com as despesas de perícias necessárias a processos trabalhistas, além dos honorários em caso de perda na ação, a reforma trabalhista cria obstáculos econômicos, torna o processo mais oneroso e gera um clima de medo entre os trabalhadores, que receiam ser penalizados por buscar seus direitos. O trabalhador tem medo de sair endividado. Se for esta a razão pela queda das ações trabalhistas, creio que não há nada de bom e virtuoso nisso;
3. Em um país como o Brasil, as várias possibilidades de prevalência do negociado (empresa x trabalhador individual) sobre o legislado aumentam a vulnerabilidade do trabalhador, ainda mais aguda em período de crise econômica e desemprego. A reforma traz assim a ameaça iminente da precarização das condições de trabalho em diversas frentes de atuação do profissional;
4. Embora concorde que o financiamento da estrutura sindical merecesse ser revisto, a maior perda provavelmente é da classe trabalhadora, que, entre outros riscos, ficou assim mais desassistida judicialmente.
Por último, gostaria de mencionar apenas mais um desacerto (este mais de minha área de atuação) do atual governo: os novos rumos da política migratória. Mas fica este tema para outra oportunidade, atrevendo-me aqui a sugerir que talvez pudéssemos Teresa Sales e eu esboçar um artigo nesse sentido.