Editorial

Depois do lamentável desastre de Brumadinho, a Vale do Rio Doce decidiu desativar dezenove barragens de resíduos de minério de ferro em Minas Gerais que utilizam a técnica a montante, semelhante à que se rompeu nesta semana. Muito tarde. Tarde e inútil para as centenas de vítimas e para os que perderam amigos e familiares debaixo do mar de lama. Nada pode recuperar as vidas perdidas ou conter a dor e a angústia dos sobreviventes. Tarde também para o patrimônio destruído e para o meio ambiente, degradado pelos dejetos minerais acumulados, com reconhecido risco e potencial destrutivo. Incomensurável custo em vida e sofrimento e enorme prejuizo para a natureza. A ganância da empresa, apoiada por manipulações fraudulentas de alguns técnicos, e a irresponsabilidade do governo mineiro provocaram  um crime contra a vida e contra o patrimônio. A empresa é reincidente. Poderia ter evitado esta tragédia, se tivesse adotado providências rigorosas nas barragens depois do desastre de Mariana, há apenas três anos. Assumiu o risco de manutenção das barragens, e tudo indica que ainda utilizou lobbies nas conclusões de laudos técnicos e na liberação do aproveitamento do minério acumulado. Infelizmente, a catástrofe de Brumadinho não é um caso isolado neste Brasil tão pouco afeito à manutenção dos equipamentos e das edificações, públicas ou privadas. A cultura imediatista e irresponsável das empresas e dos governos despreza a necessária manutenção das instalações e, principalmente, a prevenção dos riscos de sinistros. Mesmo para a lógica empresarial, o custo da prevenção e da manutenção é sempre menor que os prejuizos provocados pelas calamidades decorrentes do desleixo e da irresponsabilidade, além de evitar desastres como este de Brumadinho. Além do mais, a gestão ambiental e de segurança das empresas leva, normalmente, à incorporação de novas tecnologias que aumentam a eficiência empresarial. O investimento para introdução de novos processos, mais seguros e de menor impacto ambiental, costuma reduzir os custos de operação.  E as despesas com prevenção e manutenção são mais que compensadas pela diminuição de descontinuidades na produção e, principalmente, pelos custos dos eventuais desastres, mesmo os custos diretos das empresas. Esta cultura imediatista dominante no Brasil parece impermeável à percepção das vantagens da prevenção e da manutenção para a sociedade, para a natureza, e até mesmo para as próprias empresas.