Editorial

Analistas políticos vêm comentando que o governo não tem oposição e, na verdade, nem precisa de oposição, considerando o festival de equívocos, bobabens e molecagens do próprio Presidente da República, dos seus filhos e de alguns dos seus ministros. Como dizia o jornalista Élio Gáspari, Bolsonaro não pode ver uma casca de banana do outro lado da rua, que atravessa para poder escorregar. Pior, se não encontrar nenhuma casca, ele compra uma banana na feira e joga no seu caminho. Ontem, os primeiros sinais de oposição ao governo apareceram na sessão da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara de Deputados que analisa a proposta de reforma da Previdência. Lamentavelmente, contudo, esta oposição se mostra tão rude, despreparada e irresponsável quanto tem sido o Presidente e sua entourage, transformando um espaço nobre de debate de ideias em plataforma de discursos panfletários. Se o Presidente ainda não conseguiu descer do palanque eleitoral, esta oposição tampouco percebeu a responsabilidade do Congresso na discussão, negociação e deliberação sobre os temas de relevância para o futuro do Brasil. O ministro Paulo Guedes submeteu-se a quase oito horas de interpelação, argumentou e fundamentou os termos da reforma da Previdência, mas a oposição não ouvia nem entendia, não queria mesmo entender e limitava-se a manipulações capciosas, atacando a única área do governo que tem uma proposta séria e consistente para enfrentar o principal estrangulamento do Brasil atual. A CCJ não deveria sequer analisar os conteúdos e o mérito da proposta do governo, limitando-se a analisar a sua constitucionalidade, uma vez que uma comissão especial será instalada depois para dicustir cada um dos itens propostos. Não importa, a oposição aproveitou a reunião para armar um grande circo. A base parlamentar do governo é frágil, carente de direção e liderança, e está contaminada pela confusão ideológica do bolsonarismo. Pelo primeiro ensaio público, a bancada de oposição mostrou que também não está à altura dos desafios do Brasil. Sem governo e sem oposição, predomina a insensatez nestes tristes trópicos.