Cat eating a Bird (1939) Pablo Picasso.

Cat eating a Bird (1939) Pablo Picasso.

A rejeição ao uso de animais em experimentos científicos é compreensível e merece o respeito de todos, mesmo daqueles que entendem e defendem a necessidade de cobaias não humanas para o avanço da ciência e para a melhoria da qualidade de vida da população. Como já foi dito e demonstrado por cientistas sérios, a ciência não pode avançar sem experimentos. Como estes têm riscos, seria condenável a utilização de testes em seres humanos. Sendo assim, temos duas alternativas: recorrer a animais que tenham estrutura anatômica e biológica semelhante aos humanos, para uma primeira experimentação, ou parar com a grande maioria das pesquisas científicas. Ora, esta é uma escolha política envolvendo um debate ético e precisa ser travado de forma democrática e com argumentos. O belo texto do poeta Marcus Accioly (Os beagles, publicado no Jornal do Commércio de 14/11) emociona e só pervertidos podem machucar e maltratar os animais por puro prazer. Mas, rejeitar a utilização de animais como cobaias tem consequências que devem ser assumidas clara e explicitamente. Seria como resignar-se a viver sem a penicilina e as inúmeras medicações que vêm salvando vidas e melhorando a qualidade de vida de milhões e milhões de seres humanos. É isso que queremos? Estamos dispostos a deixar a natureza definir nosso tempo e nossas condições de vida sem novos recursos médicos? Duvido que a maioria da população, mesmo tocada pela poesia de Accioly, faça esta escolha. O mais grave desta controvérsia, contudo, é o recurso à violência de uma minoria arrogante e intolerante, destruindo laboratórios com décadas de informação acumulada, degradando o patrimônio público, desempregando pesquisadores e cientistas.

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