Editorial

O Brasil está vivendo um dos momentos mais delicados da sua história, com o dramático descompasso entre a necessidade urgente de decisões para enfrentar a crise fiscal e a total desmoralização da política e dos políticos. Os tímidos sinais de recuperação da economia brasileira, neste semestre, podem se esgotar rapidamente, se não for aprovada uma profunda reforma da previdência, que detenha o processo de degradação das debilitadas finanças públicas. Mas as instituições políticas que devem tomar decisões drásticas e impopulares, como a reforma da previdência, estão desacreditadas e desmoralizadas pelas graves denúncias da descarada e desenfreada corrupção que assola o país, envolvendo, em diferentes níveis e formas, parte dos parlamentares e quase todos os partidos políticos. Embora não seja a causa principal da crise fiscal do Brasil, a corrupção vem saqueando o Estado brasileiro há décadas, com superfaturamento e desvio de recursos públicos para políticos e gestores públicos desonestos. Apenas a Odebrecht distribuiu cerca de R$ 10 bilhões de reais em propina, nos últimos oito anos. Para além do escândalo da corrupção, o Brasil precisa de uma reestruturação da economia e das finanças públicas, para a retomada do crescimento econômico. A reforma trabalhista pode esperar pelo novo governo e pelo novo Congresso que assuma com as eleições de 2018, embora seja importante para a criação de novas regras compatíveis com as mudanças tecnológicas e organizacionais. A reforma da previdência, ao contrário, é urgentíssima, o sistema não pode continuar acumulando déficits que comprometem parcela significativa e crescente das receitas públicas da União e dos Estados. No fio da navalha, o Brasil espera que esta legislatura do Congresso Nacional, mesmo com a sua credibilidade duramente maculada pela “delação do fim do mundo”, assuma a responsabilidade política de aprovar a reforma fundamental para preparar o Brasil para os desafios do futuro.