Sob o olhar complacente das autoridades e com a simpatia de Jair Bolsonaro, de políticos e prefeitos locais, uma leva selvagem de garimpeiros ilegais está invadindo a reserva Ianomâmi, em Roraima, deixando um rastro de destruição, estupro e morte da nação indígena. A pressão do garimpo foi sempre uma ameaça à integridade territorial e étnica dos ianomâmis, mas esta invasão bárbara, com mais de 20 mil homens avançando na reserva, tem sido alimentada pelas palavras e iniciativas do presidente da República, incluindo o esvaziamento dos órgãos de controle ambiental e a proteção das reservas indígenas, e o projeto de lei que autoriza a exploração mineral em terras indígenas, ainda não aprovado no Congresso. De acordo com dados da Hay-Hutukara, associação ianomâmi, o garimpo ilegal nas terras ianomâmis vem crescendo rapidamente, e já ocupa 3.272 hectares de terra, provocando desmatamento, degradação e poluição dos rios, corrupção da cultura indígena, trabalho escravo, prostituição, doenças e morte. O líder Júnior Hekurari Ianomâmi denunciou, na semana passada, o estupro e morte de uma menina de 12 anos, e o desaparecimento de uma comunidade inteira de indígenas ianomâmis, possivelmente fugindo das ameaças dos garimpeiros. 

A invasão do garimpo ilegal é uma operação de grande escala e de características empresariais, com utilização de pistas de pouso clandestinas e apoio logístico de aeronaves, helicópteros e embarcações para transporte de máquinas, implementos, incluindo mercúrio, e alimentos, assim como escoamento do minério extraído. Ao longo dos rios da reserva indígena começam a se formar vilas inteiras de garimpeiros, com casas, pousadas, mercados, bordéis, consultórios de dentistas, acesso à internet e outros serviços. Para agravar o caráter criminoso desta invasão bárbara, investigações realizadas na região indicam a presença ativa do crime organizado (PCC-Primeiro Comando da Capital) no fornecimento de equipamentos, armas e segurança para os garimpos. O ritmo e a intensidade da entrada do garimpo ilegal na reserva ianomâmi constituem uma ameaça clara de genocídio, atingindo diretamente 16 mil indivíduos de 273 comunidades indígenas. O Estado brasileiro é responsável pela vida e a integridade territorial e cultural dos povos indígenas, e deveria implementar medidas urgentes e combinadas da Polícia Federal, do IBAMA e da FUNAI, para deter os crimes socioambientais e impedir a penetração dos garimpeiros nos territórios indígenas.