Sérgio C. Buarque >

The Dictator’s pet Rat - Manfred Hennessy

The Dictator’s pet Rat – Manfred Hennessy

As manifestações públicas das últimas semanas no Brasil fertilizaram a política brasileira. Como resposta, o governo da Presidente Dilma Roussef, atrapalhado e despreparado, pariu um rato. Tudo que ela pensou como reação aos gritos das ruas contra a péssima qualidade dos serviços públicos e a corrupção na política e na gestão pública brasileiras foi um plebiscito para mudança nas regras eleitorais. Será que ela acredita que com o voto distrital puro e a lista fechada nas próximas eleições a educação pública dá um salto, a saúde pública chega ao “padrão FIFA” e o transporte público ganha qualidade a preço baixo? Será que ela acredita que o financiamento público das campanhas eleitorais acaba a corrupção política e governamental no Brasil e elimina os riscos de caixa dois e do mensalão? Difícil acreditar.

Como é difícil imaginar o eleitorado brasileiro diante da urna eletrônica tendo que escolher entre voto proporcional, distrital puro ou distrital misto, financiamento de campanha público, privado ou misto, proibição de coligações proporcionais ou outra qualquer opção, simplesmente porque não dá para perceber em que estas alternativas influenciam o futuro do Brasil e vida dos cidadãos. E se a intenção do governo é mesmo combater a corrupção que assola o Brasil, esta reforma política representa muito pouco, quase nada, mesmo considerando os múltiplos ralos de negociatas na política e na gestão pública. A forma de financiamento das eleições pode ser relevante para evitar desequilíbrio nas campanhas dos candidatos, mas está longe de ser fonte importante de combate à corrupção, a não ser quando gera as chamadas “sobras de campanha”.

O mecanismo central de corrupção é o superfaturamento de contratos e compra de serviços pelos governos nas diversas instâncias e órgãos públicos, forma endêmica e permanente de desvio de dinheiro público para partidos ou para os patrimônios pessoais dos governantes e políticos. Por isso os cargos comissionados nos governos são tão disputados pelos políticos desonestos e seus apadrinhados, por isso tantos políticos vendem seu apoio aos governos por cargos, de ministro de Estado aos escalões mais simples, desde que ordenadores de despesa. Trinta e nove ministérios e mais de 22 mil cargos comissionados na União formam uma ampla e inesgotável malha de desvio de recursos públicos. Neste sentido, o plebiscito e a reforma política, quase apenas eleitoral, são uma enganação e uma resposta ridícula ao grito dos milhões de brasileiros que invadiram as ruas e praças do Brasil.

A reforma eleitoral proposta pela Presidente não vai alterar em nada este terreno movediço de corrupção. Mais uma vez, o governo desvia o foco da questão e inventa um artifício para encobrir sua incompetência e desinteresse. O combate à corrupção requer uma reforma mais profunda a começar por uma reforma do Estado e do sistema de governo para acabar com a farra dos cargos comissionados. Excetuando o segundo escalão dos governos, todo cargo público deveria ser assumido exclusivamente por servidores de carreira com profissionalização total das atividades de direção governamental e não por indicação política. A profissionalização dos cargos comissionados evitaria a contaminação da gestão pública por pessoas despreparadas e apadrinhadas, frequentemente especialistas em superfaturamento, e impediria o mecanismo nefasto de compra do apoio político dos parlamentares com cargos de confiança.

A corrupção tem vários outros ralos, é verdade. Mas, bastaria quebrar esta relação promíscua dos políticos com os executivos e gerentes dos governos para reduzir drasticamente o sumidouro ilegal dos recursos públicos que compromete a qualidade dos serviços públicos no Brasil. Simples e rápido, sem necessidade de emenda constitucional muito menos de consulta popular. E sem esta figuração marqueteira da Presidente.