O título é apenas chamativo, não há nele pretensão ou jactância. Ocorre simplesmente que um amigo de geração, convidado a dar seu depoimento para um livro sobre a condição de idoso, comum a nós dois, provocou-me a fazer o mesmo. E reconheci que, ao completar setenta e três anos, o momento seria bem propício a uma reflexão sobre o tema.
Se me sinto velho? Em muitos aspectos, não. É verdade que já não corro, e certos movimentos simples, como o sair do carro, em vagas de estacionamento apertadas, exigem um esforço de que não tenho memória do passado. Se dirigir por mais de duas horas, tenho as pernas emperradas ao final da viagem. Mas caminho, jogo vôlei e tênis de praia, e nado com alguma regularidade. Aprecio sobretudo as longas jornadas em contacto com a natureza, como o Caminho Inca, feito oito anos atrás, ou as trilhas do Parque Nacional Torres Del Paine, na Patagônia Chilena, ano passado.
Às academias de musculação não me adaptei. Todas, ao gosto da garotada, mantêm um fundo musical atordoante, que a mim irrita, quando o desejo é relaxar. E tenho a convicção de que, para fazer flexões e ativar músculos, não são necessários equipamentos sofisticados.
A memória às vezes falha, ou tarda, mas não a ponto de comprometer o trabalho ou a atividade intelectual. E tende-se a perder a exata dimensão do tempo: falamos de coisas que nos aconteceram há vinte, trinta anos, como se tivessem ocorrido recentemente. Sentimo-nos como se continuássemos sendo sempre os mesmos.
Só o espelho, ou às vezes a reação estranha de um interlocutor, é que nos trazem de relance à realidade. Como observou um artista sombrio, o barbear diário nos faz acompanhar o trabalho da morte, no lento avanço das rugas e dos cabelos brancos.
Essa revelação dos espelhos e dos circunstantes foi bem retratada, há cerca de um século, pelo poeta Marcello Gama, cuja feiúra começava no próprio nome de batismo (Possidônio Machado), e que a formulou em belos versos alexandrinos:
“Sou feio se não mente o juízo dos espelhos
Nem é falsa a expressão do que olha para mim”
Pois é. Contra o juízo dos espelhos nós, os velhos, só temos a opor o nosso próprio sentimento e algumas compensações: mais histórias para contar, o conforto das lembranças amenas, a sensação de que nada de dramático, insolúvel ou desconhecido pode mais nos surpreender. Já vimos tudo. E se a paisagem à frente se faz nebulosa, os caminhos percorridos mantêm-se banhados de luz. Para contrapor à labilidade do presente e à incerteza do futuro, temos as coisas findas, “muito mais que lindas”, que permanecem – na nossa memória.
Quanto ao sexo, espero não surpreender os amigos e amigas ao afirmar que não me preocupa. É claro que a capacidade orgástica juvenil já vai distante. Mas considero o sexo uma servidão. Muito prazerosa, é bem verdade, mas sempre uma servidão, pois exige uma parceira, para ser praticado de forma plenamente gratificante. Portanto, quando me faltar, em futuro incerto e não perquirido, talvez me sinta até mais livre, para desfrutar de outros prazeres do corpo e do espírito.
Só há mesmo uma pena irremediável na velhice: a solidão crescente com a perda dos amigos, parentes, companheiros de geração. Falando destes últimos, irmãos de pensamento e de sonhos, que se foram, os dedos das mãos já não são suficientes para contá-los. E as novas amizades não os substituem plenamente.
Há quem veja nessas ausências uma prévia da solidão radical e definitiva da travessia na barca de Caronte, para a qual iríamos sendo preparados. Mas para um racionalista convicto como eu, e otimista por princípio filosófico, a morte é apenas o último ato da vida. A única maneira de bem viver é não lhe atribuir importância. Quem não gosta de descansar, quando a jornada o fatiga? E falamos aqui de um repouso perfeito, sono sem sonhos em que cessa o tempo, por não mais se ter a consciência dele. A ideia de uma alma imortal me parece tão absurda quanto a de um corpo imortal. E ainda mais: inquietadora.
Só a vida é importante. E enquanto mantivermos a curiosidade em relação a ela e ao nosso mundo, viver será sempre agradável. De minha parte, tenho todo o interesse em acompanhar o espetáculo pelo máximo de tempo. Melhor ainda: tenho a pretensão – talvez ingênua, talvez romântica – de bem participar dele, contribuindo, mesmo em pequena escala, para que meus contemporâneos e descendentes vivam mais alegres e felizes.
Velho, sim! E satisfeito! Nada a reclamar.
¨O que o senhor acha?¨; ¨O senhor pode fazer isso?¨; ¨Vou pegar uma cadeira para o senhor¨…..Confesso que me chamarem de senhor foi o que mais me chamou a atenção. Embora eu já esteja com 64 anos, só com o ¨senhor¨ é que me dei conta que me viam como idoso (uau, idoso…). Na fila do caixa, de repente a moça me chama para a frente, pois sou idoso…Mas eu não quero ser idoso!!! Mas não tem jeito, eu sou idoso. A fila do caixa, do estacionamento, de qualquer lugar, não nos deixa mentir, ou melhor, nos enganar e enganar os outros. E espelho, como disse o Clemente Rosas acima, é terrível. Sempre fiz a barba diáriamente por anos a fio, e de poucos anos pra cá, aumentei o intervalo: 3 dias, 5 dias. Mas quando me olho no espelho, tá lá uma figura que não conheço: barba branca, cabelo branco. Quem é esse cara? Um corpo usurpou o meu, como nos velhos seriados. NÃO SOU EU!
Bem que eu queria…..
Também já virei “senhor”, aos 57, para secretárias, garçons, comerciantes… Um motorista de ônibus já me ofereceu a gratuidade que só terei aos 60. Mas ainda não me percebo “velho”, embora já me prepare para viver a nova fase da melhor forma possível; tanto que já percebi mudanças naturais em algumas rotinas e certa serenidade que não tinha há poucos anos. Enfim, velho ainda não, mas estou chegando lá. E o espelho é testemunha não apenas das cãs e rugas, mas de um “encolhimento” generalizado. A cada dia noto que encolho, o meu rosto diminui. Ou será ilusão de ótica?
Clemente: Estou ganhando para todos vocês, já emplaquei 85 anos e os meus exames de laboratório confirmam que todas as minhas (malditas) taxas continuam rigorosamente dentro dos padrões. Conclusão: deverei ser um defunto extremamente saudável! Mas chega de brincadeiras, pois subscrevo o seu texto da primeira à ultima palavra, sobretudo “a solidão da perda” dos contemporâneos e o pior é que ainda existem alguns amigos que mais parecem donos de funerária. Têm um prazer enorme de nos saudar com a indefectível pergunta: sabe quem morreu? e estou me preparando para responder-lhe na próxima vez: Seguramente a puta que o pariu… De qualquer forma, encarei sua crônica como um tremendo ato de solidariedade que me confortou. Sem esquecer a metáfora do espelho, lembrei-me de uma música do nosso tempo: NOS OLHOS DAS MULHERES, NO ESPELHO DO MEU QUARTO, É QUE VEJO A MINHA IDADE. Grande abraço de Ivan Rodrigues
Ivan, e nós, mulheres, sequer podemos dizer que vemos a nossa velhice nos olhos dos homens! Pois eles sequer olham mais para nós! Já ouvi confidências dolorosas de amigas nesse sentido e termino achando que o bom é cuidar de ter “casca grossa”, coexistindo com a pele que vai afinando e despencando! Fazer o quê? Consolar-se com os versos de Cora Coralina:”Jovem! Tu és o meu passado./Eu sou o teu futuro!” No caso do Clemente, um futuro desejável por qualquer jovem. Só faço uma pequeníssima ressalva: é quanto à opção por outros prazeres do corpo e do espírito porque, ao que percebo, a lei da gravidade atua de forma muito sábia tanto nos jovens quanto nos velhos e, como disse o Picasso: “Leva-se muito tempo para se ser jovem”, algo assim!
Grande Clemente: gostaria de poder dizer enfaticamente: eu sou vc amanhã! Texto brilhante. Parabéns! Abração…
Sinto-me bem, mas minhas idéias e sonhos são tão joviais como nunca os tive.
Porém, alguns sustos me reconduzem à realidade de meus setenta anos.
Alguém me falou, outro dia , que eu era “expressão do Estatuto do Idoso”. Fere ? Sem dúvidas.
Com frequência, belas e joviais garotas, me chamam de “tio”. Eu gostaria muito que elas tivessem me conhecido ainda jovem, que elas não escapariam de minhas pretensões amorosas ou afetivas. Cabeça e desejo jovens, corpo combalido, já contando alguns poucos fracassos. Ainda bem que foram poucos, até agora. Mas outros virão e amiudarão. É a velhice chegando, sorrateira, implacável, cruel. Mas não tenho do que me queixar: vivi muito, vivi meu tempo, amei, o quanto pude, ainda amarei mais, enquanto as energias me permitirem. Resisto. Enfrento. Quero viver. A vida é bela e única. Não alimento nenhum sonho para depois da morte. Quero viver aqui e agora. A vida depois da morte, no mínimo, é duvidosa.
Amo, como se eu fosse um garotão, trabalho intensamente, alimento meus sonhos com entusiasmo de viver, faço planos para os 90 e os 100 anos, que quero comemorar amando. Viva a vida! Nem quero saber da morte.
Que bom ler este artigo, no qual salta aos olhos a aceitação de si e a importância de estar vivo, essenciais para aceitar com serenidade as transformações e as limitações que a velhice nos trás.
Desse jeito, caro amigo Clemente, caros amigos, vou terminar me convencendo que a nossa é mesmo “a melhor idade” como propaga a hipocrisia do politicamente correto. Na verdade, o que o sábio texto de Clemente e os outros comentários mostram (sabedoria que talvez seja permitida apenas aos que já viveram um bom tempo) é que não existe uma idade melhor do que outra, cada idade com seus encantos e suas dificuldades. E que a sabedoria consiste em conviver com as dificuldades e aproveitar os encantos de cada fase da vida, incluindo os encantos da velhice. Mesmo com dificuldades crescentes.
Coisa boa ler este seu texto Clemente.
Grande verdade: ” só há mesmo uma pena irremediável na velhice : a perda dos parentes, amigos e companheiros de geração ” . Um grande abraço.
Clemente! Voce como sempre dando show na escrita! Otima perspectiva…ate me deu vontade de ficar velho logo! (e de fazer a trilha de Machu Pichu!).
Grande abraco.
Guilherme Rego
O ser humano ainda não se preparou ou aprendeu a conviver com a possibilidade do fim. Tudo é meio. Daí a grande dificuldade de conviver com a velhice(que muitas vezes nem é) e, começar, antecipadamente, a menosprezar a vida ao invés de vivê-la intensamente. Quando se chega a 65, 70, 80 anos, é porque já se viveu, amou, dançou, fez tudo de direito e etc., e, ainda, tem o privilégio de estar contando. Se pensar na vida como fim, é no mínimo, um egoismo sem limites. A vida é uma só. E individualíssima. Cada um tem sua vida. Cada um aproveite enquanto pode. Velhice não se comenta, se vive!
Muito bom, Clemente! Valeu pela lição de suas reflexões, mais do que lúcidas. Grande abraço.
Muito bom Clemente. O texto trata do tema com leveza e lucidez, deixando explicíta a beleza de saber viver. Agradeço por me chegar via Yara (face book). Abraço
Uma luz. Radiante. Contagiante. Resignação e inquietação. Conforto e agonia.O velho e o novo, juntos e misturados. Lindo, Clemente! Brilhante, como sempre! Grande abraço!!
Caro amigo Clemente, que prazer ler um artigo seu e esse então, maravilha!!! Precisamos nos encontrar para relembrar nosso tempo de estudantes e atletas. Abraço!
Parabéns pelo texto, tio Clemente! Muito bem escrito!!! Espero que você continue acompanhando e participando do espetáculo da vida por muito e muito tempo!!! Tenho muito orgulho de ter um tio tão aventureiro, que já saltou de paraquedas e fez a trilha de Machu Picchu! Dois feitos que também pretendo realizar! Estão na minha lista!
Espero saber envelhecer como você… pelo menos já compartilhamos o gosto pela vida, pelas aventuras, pelo contato com a natureza!
Grande beijo.
Maravilhosa descrição! Novo ou velho, não importa, saiba que você é o tio do meu coração. Um grande beijo e agradecimento por fazer nossas vidas mais felizes sim. Sandrinha.
Clemente. Ler seu texto é como olhar para a vida com simplicidade e clareza. Gostando dela em qualquer tempo. Abraço
Muito lindo, Clemente. Fico emocionada quando contato com a serenidade, banhada de sabedoria. É isso que senti ao ler o texto. Um grande abraço.
Maravilhei-me! O texto induz a ideia de uma paz interior que só a experiência de vida traz. Nada mais reconfortante do que “a sensação de que nada de dramático, insolúvel ou desconhecido pode mais nos surpreender”, como afirma o autor. O mais é manter a curiosidade sobre a vida e não dar muita bola pra morte. Girlene Melo.
Parabéns Clemente. Realidade maior que esta, somente o seu pai, meu velho amigo Evandro poderia me dizer.
Com certeza viver é agradável e a cada dia tenho mais certeza de que: “Já vimos tudo. E se a paisagem à frente se faz nebulosa, os caminhos percorridos mantêm-se banhados de luz..”. Porém o que me atormenta em encarar a velhice é esta verdade que abre uma espécie de vazio em meu ser: ”só há mesmo uma pena irremediável na velhice: a perda dos parentes, amigos e companheiros de geração”, tirando isto, Velha eu? Sim e com muitas histórias e estórias para contar e encantar. Parabéns Clemente Rosas, pelo texto que me deu a oportunidade de somar 30 anos aos meus 33 e e me imaginar vendo a vida a alguns anos a frente sem a obrigatoriedade de carregar o peso da idade! Gabriela Rosas
Stupendo testo Clemente . Congratulazione sempre ! Vera Riccardo Petrucci
Meu querido Tio Clemente, como é prazeroso ler os seus escritos,o texto acima está rico em reflexões sobre envelhecer na sua visão lúcida e tranquila de um pensador que é. Na estrada da vida vemos paisagens diversas, vivenciamos situações e levamos dentro de nós todos os sentimentos que nos tornam as pessoas que somos.
A muitos anos tornei-me sua fã.
Meu caro Clemente,
Você sabe, somos colegas de caserna, por isso, temos a mesma idade. Gostei muito do seu artigo. É um retrato fiel do que somos e das nossas pretensões para nosso futuro incerto. Somos vertentes de uma época onde a imaginação infantil era cultuada. Somos de uma geração onde os folguedos eram constantes e sadios. Somos o reflexo de um passado cheio de amor e de carinho familiares. Fizemos parte de uma juventude regada a maresia, água salgada, pesca submarina, vôlei, basquete e outros esportes.
Você, em especial, é feito de uma genética familiar sempre voltada ao esporte e à intectualidade. Posso dizer, um privilégio de poucos. A resultante de tudo isso, meu amigo, é uma velhice recheada de saúde, voltada para o privilégio de apreciar as coisas boas da vida.
A gente só não deve esquecer que tudo isso vem revestido dos reflexos gerados pelo passar do tempo que marca, dilacera e distorce. No entanto, ele só consegue fazer isso com o nosso exterior. Interiormente, enquanto pudermos manter viva aquela criança travessa que sempre habitou em nós, seremos, sempre, jovens. É através dela que nossa força interior se mantém permanente e nos alavanca no sentido de apreciarmos a vida, ainda por muito tempo. Por isso, enquanto o tempo faz com que “a paisagem à frente se faz nebulosa”, nossa criança interior faz com que “os caminhos percorridos mantêm-se banhados de luz.”, como você escreveu. Quando ela envelhecer, aí sim, envelheceremos, também e estaremos prontos, como os antigos gregos e entregar a moeda ao barqueiro Caronte para nos transportar para o “outro lado”.
O mais importante é que tenhamos a satisfação de termos sido úteis e estarmos sendo úteis regados a uma velhice cheia de alegria calcada, principalmente, no estarmos juntos aos nossos entes queridos, no podermos curtir um bom quadro, uma boa música, uma boa leitura ( como é o caso desse seu artigo) e no podermos continuar abrindo as gavetas do tempo recordando momentos repletos de alegria e felicidade.
Um abraço, Wilmar.
Muito bom texto e gostoso de se ler. Parabéns Clemente.
Meu exemplo, meu espelho, meu ídolo, meu pai!
Orgulho de dizer que tenho um companheiro, um amigo e um aventureiro sempre ao meu lado. Velho? Sim. Mas, e daí?
Como filha rezo todos os dias pra ter herdado pelo menos um pouquinho de toda essa vontade de viver!
Parabéns pelo texto, pai! Pra variar, excepcional!
Um grande beijo de sua maior fã!!!
Cá de São Paulo leio a revista de minha amiga Teresa e vou conhecendo pelos textos, com curiosidade, os outros editores cuja fisionomia vejo nas fotografias do sofá.
Neste texto sobre a velhice, o ponto de vista de Clemente é bem parecido com o meu, e fui tocada pela observação “sentimo-nos como se continuássemos sendo sempre os mesmos”. Minha mãe aos 65 anos um dia me disse isso com quase as mesmas palavras, explicando como era espantoso ela se sentir por dentro sempre igual e por fora, para quem olha, não ser assim que parece. Tenho hoje essa mesma idade e me espanto com a mesma coisa.
Também quando sonho (eu adulta) não aparece a idade: sou eu com o jeito de sempre. E as pessoas que eu amo ou amei, com quem tenho a felicidade de sonhar de quando em quando, não me aparecem de rugas e cabelos brancos como estão hoje, mas com a cara que eu conheço, aquela que é identificada pelo meu amor. E não sonho com meu pai e minha mãe velhinhos como quando morreram, eles aparecem bem, com a cara deles… Percebo que o sonho é um permanente presente! nos dois sentidos.
Suponho que isto é porque no meu imaginário (no de todo mundo?) o que conta são as pessoas e os afetos, e como as relações afetivas são de longa duração, com que cara imaginá-las? Nos meus sonhos e na minha lembrança, evoco sua imagem mais significativa, isto é, em sua maior pujança e força!
Deve ser mais ou menos isso que acontece com a auto-imagem. No reconhecimento da minha identidade a idade não conta, conta quem eu sou: este contínuo que venho sendo, cujo formato se fixou mais nitidamente em algum ponto do início da minha vida adulta, mas que segue mudando continuamente no sentido de desenvolver aquilo que intrinsecamente sou eu – o que inclui tudo aquilo que posso vir a ser, desde que experimente.
Concordo com Sérgio sobre não existir uma idade melhor que outra, pois as dificuldades têm a ver principalmente com a própria pessoa. Aquilo que efetivamente discrimina as possibilidades que se abrem ao longo da vida de cada pessoa, creio eu, dependem da saúde, da energia, dos desejos e da generosidade de cada uma, e da amplitude de desafios que ela gosta ou topa correr atrás, e o quanto ela quer desenvolver as possibilidades desconhecidas que traz dentro de si. Há sem dúvida o desgaste e envelhecimento do corpo, mas um espírito jovial tem força para animar um corpo mais velho.
É muito bom ler um bom texto, a gente é instigada a seguir pensando no assunto. Em síntese, tem razão a Paula: a questão não é a idade, mas a intensidade da vontade de viver!
Prezado Clemente Rosas,
“… sono sem sonhos em que cessa o tempo, por não mais se ter a consciência dele”. De fato, a vida é um tempo… e a consciência da sua existência.
Muito bom o seu artigo e fica ainda melhor quando lido com o fundo musical do Adrian Von Ziegler
https://www.youtube.com/watch?v=T6r5bo_D9QY
Sds,
Liana
Verônica: obrigado pelo seu comentário ao meu texto, feito um ano e meio após a sua publicação. E também ao amigo Ivan Rodrigues, pela sua observaçao, feita ainda em 2013, que provocou mais este retorno ao meu trabalho.
Aproveito também para agradecer, mesmo tardiamente, a todos os que leram, sentiram e repercutiram o meu depoimento, parentes queridos, amigos fraternos ou desconhecidos. É gratificante saber que o meu ensaio continua palpitando.
Bom Clemente, se você não mudou de opinião nesse ano e meio, o teor do seu texto sobre a velhice continua atemporal! Se mudou, espero que escreva outro e lhe asseguro que lerei em tempo menor. (Só agora em 2015 tomei conhecimento da existência da Sera). Mas essa história de tempo, é meio “invenção de calendário”, como já disse em verso o Mário Quintana! Em tempo: mas é óbvio que a “galera” que se move nos limites e ritmo da comunicação virtual não pensa assim!
Não, não mudei de opinião, Verônica.
E já que você lembrou Mário Quintana, aproveito para citá-lo;
“Aberta numa flor ou na polpa de um fruto
A vida aí está, eterna, nossa mão
É que dispõe apenas de um minuto”
Beleza Sr. Rosas! Em fração de um segundo você usou sua mão me fazendo abrir o meu mais largo sorriso! Esse Mário Quintana…. é lírio no meu jardim!
Receba então, Verônica, mais esta joia do nosso Mário Quintana:
“Oh esses deuses, que em sua pobre eternidade
Desconhecem o preço único do instante”…
Para quem tem mais de 65 anos
Ivone Boechat (autora)
1 – Tome posse da maturidade. A longevidade é uma bênção! Comemore! Ser maduro é um privilégio; é a última etapa da sua vida e se você acha que não soube viver as outras, não perca tempo, viva muito bem esta. Não fique falando toda hora: “estou velho”. Velho é coisa enguiçada. Idade não é pretexto para ninguém ficar velho. Engane a você mesmo sobre a sua idade, porque os psicólogos dizem que se vive de acordo com a idade declarada!
2 – Perdoe a você antes de perdoar os outros. Se você falhou, pediu perdão? Deus já o perdoou e não se lembra mais. Mas você fica remoendo o passado… Não se importe com o julgamento dos outros. Só há dois times no Universo: o do Salvador e o do acusador. Neste último você sabe quem é goleiro. Continue no time do Salvador.
3 – Viva com inteligência todo o seu tempo. Viva a sua vida, não a do seu marido, dos filhos, dos netos, dos parentes, dos vizinhos… Nem viva só pra eles, viva pra você também. Isto se chama amor próprio, aquilo que você sacrificou sempre! Nunca viva em função dos outros. Faça o seu projeto de vida!
4 – Coma muito menos; durma o suficiente; não fique o dia inteiro, dormindo, dando desculpa de velhice. Tenha disciplina. Fale com muita sabedoria. Discipline sua voz: nem metálica, nem baixinha; seja agradável!
5 – Poupe seus familiares e amigos das memórias do passado. Valorize o que foi bom. Experiências caóticas, traumas, fobias, neuroses, devem ser tratadas com o psicoterapeuta. Não transforme poltrona em divã, ouvido em descarga.
6 – Não aborreça ninguém com o relatório das suas viagens. Elas são interessantes só pra quem viaja. Ninguém aguenta ouvir os relatórios e ver fotografias horas e horas. Comente apenas o destino e a duração da viagem, se alguém perguntar. Aprenda a fazer uma síntese de tudo, a não ser que seus amigos peçam mais detalhes. Se alguém perguntar mais alguma coisa, seja breve.
7 – Escolha bons médicos. Não se automedique. Não há nada mais irritante do que um idoso metido a receitar remédio pra tudo o que o outro sente. Faça uma faxina na sua farmácia doméstica.
8 – Não arrisque cirurgias plásticas rejuvenescedoras. Elas têm prazo curto de duração. A chance de você ficar mais feio é altíssima e a de ficar mais jovem é fugaz. Faça exercícios faciais. Socorra os músculos da sua face. Tome no mínimo oito copos de água por dia e o sol da manhã é indispensável. O crime não compensa, mas o creme compensa!
9 – Use seu dinheiro com critério. Gaste em coisas importantes e evite economizar tanto com você. Tudo o que se economizar com você será para quem? No dia em que você morrer, vai ser uma feira de Caruaru na sua casa. Vão carregar tudo. Não darão valor a nada daquilo que você valorizou tanto: enfeites, penduricalhos, livros antigos, roupas usadas, bijuterias cafonas, ouro velho… prataria preta, troféus encardidos, placas de homenagens. Por que não doar as roupas, abrir um brechó ou vender todas as suas bugigangas, apurar um bom dinheiro e viajar?
10 – A maturidade não lhe dá o direito de ser mal educado. Nada de encher o prato na casa dos outros ou no self-service (com os outros pagando); falar de boca cheia, ou palitar os dentes na mesa de refeições (insuportável).
11 – Só masque chiclete sem testemunhas. Não corra o risco de acharem que você já está ruminando ou falando sozinho.
12 – Aposentadoria não significa ociosidade. Você deve arranjar alguma ocupação interessante e que lhe dê prazer. Trabalhar traz muitas vantagens para a saúde mental, além do dinheiro extra para gastar, também com você.
13 – Cuidado com a nostalgia e o otimismo. Pessoas amargas e tristes são chatíssimas, as alegres demais, também. Elogie os amigos, não fique exigindo explicações de tudo. Amigo é amigo.
14 – Leia. Ainda há tempo para gostar de aprender. A maturidade pode lhe trazer sabedoria. Coloque-se no grupo sempre pronto para aprender. Não se apresente em lugar nenhum dizendo: sou muito experiente!
15 – Não acredite nas pessoas que dizem que não tem nada demais o idoso usar roupas de jovens, cuidado. Vista-se bem, mas com discrição. Cuidado com a maquiagem, se for pesada, você vai ficar horrível.
16 – Seja avó do seus netos, não a mãe nem a babá. Por isso nem pense em educá-los ou comprometer todo o seu tempo com as tarefas chatas de ir buscar na escola, levar a festinhas, natação, inglês, vôlei… Só nas emergências. Cuidado com aquela disponibilidade que torna os outros irresponsáveis.
17 – Se alguém perguntar como vão seus netos, não precisa contar tuuuuuuuudo! Evite discorrer sobre a beleza rara e a inteligência excepcional deles. Cuidado com a idolatria de neto e o abandono dos filhos casados…
18 – Não seja uma sogra chata. Nunca peça relatório de nada. Seu filho tem a família dele. Você agora é parente! Nunca, nunca, nunca mesmo, visite seus filhos sem que seja convidado. Se o filho ligar pra você, não diga: ah! lembrou finalmente da sua mãe? É melhor dizer: Deus o abençoe meu filho.
19 – Cuidado em atender ao telefone: se a pessoa perguntar como você vai e você responder “estou levando a vida como Deus quer”; “a vida é dura”; “estou preparando a partida”; “estou vencendo a dureza”; você vai ver que as ligações dos amigos e dos parentes vão rarear, cada vez mais.
20 – A maturidade é o auge da vida, porque você tem idade, juízo, experiência, tempo e capacidade para se relacionar melhor com as pessoas. Então delete do seu computador mental o vírus da inveja, do orgulho, da vaidade, promiscuidades, cobranças, coisas pequenas e frustrantes para tomar posse de tudo o que você sempre sonhou: a felicidade.
Extraído do livro Educação-a força mágica de Ivone Boechat
Registro minha alegria por mais este comentário ao meu texto, dois anos após publicado. Sábios conselhos, que todos agradecemos.
Caro Clemente, meu vizinho de tanto tempo, só agora estou lendo esta preciosidade de texto! Em 2013, ano da sua divulgação, estava eu assoberbada com problemas que você bem os conhece, no momento atual um pouco mais amenos apesar dos pesares. Parabéns pelas palavras tão bem colocadas, o que não é nenhuma surpresa. Seu texto nos estimula a encarar esta fase da vida com mais leveza. “E se a paisagem à frente se faz nebulosa, os caminhos percorridos mantêm-se banhados de luz”. Bem ou mal usada, esta tem sido minha máxima de vida e será daqui por diante minha inspiração para seguir em frente. OBRIGADA MEU AMIGO!!!!
Querida amiga Ritinha,
Ver o meu texto ainda lido e comentado, três anos após a sua veiculação, é muito gratificante para mim. Ainda mais por ser esse comentário de uma vizinha de praia, de quem passarei a ser, a partir do próximo ano, um vizinho permanente: vou me fixar lá. Meu melhor agradecimento pelas suas palavras. Termino com um bordão com que um comentarista de rádio terminava as suas bem humoradas crônicas diárias, nas manhãs da minha infância: VAMOS VIVER A VIDA!
Caro primo Clemente,
Foi com grande prazer que reli esta sua reflexão sobre o envelhecer.
Nesta releitura , vejo sem surpresa que meu encantamento por este texto continua muito presente.
Um grande abraço
Rosalina
Querida Rosa,
Merecer um comentário nesta revista eletrònica três anos após a publicação de um texto é coisa rara. Ainda mais quando vem de além-mar. Agradeço a alegria que me proporcionou com o seu retorno.
Um abraço saudoso.
Clemente
Caro Clemente
Tantos anos que não nos vemos.
Mas hoje, por um desejo de ter notícias de antigos companheiros, resolvi me socorrer do meu “amigo” Google saindo em busca de Sérgio Buarque.
Encontrei-o na revista Será? E nela encontrei também esse seu belo artigo sobre a nossa querida velhice.
Fico feliz ao saber que segues, como sempre, com “a pretensão, talvez ingênua, talvez romântica” de continuar contribuindo para que nossos “contemporâneos e descendentes vivam mais alegres e mais felizes”
Compartilho desse seu querer e desse seu sonhar.
Creio que ele é que nos dá o ânimo permanente na busca, sempre presente, por um mundo melhor.
Parabéns por seu artigo.
Voltarei aqui na revista, outras vezes, e tenho esperança de encontrá-lo em outro texto de sua autoria.
Querido amigo,
Confesso – e peço que me perdoe por isso – que não me lembro de onde e como nos conhecemos. Mas seu comentário ao meu texto, quatro anos depois de publicado aqui, é motivo de imensa alegria. Vejo que ele continua repercutindo. E quero registrar o meu agradecimento.
Tê-lo como leitor é grande honra para os editores da Será?, entre os quais agora me incluo. Se nos fizer a gentileza de voltar, me dê notícia de nossa convivência no passado. Assim ajudará a memória de um idoso assumido e feliz.