“Por que o senhor atirou em mim?” – mortalmente ferido, o adolescente Douglas Rodrigues, de 17 anos, só teve forças para formular a dramática pergunta que deveria agora estar martelando a consciência das autoridades, em todos os níveis de governo (federal, estadual, municipal).
Mas talvez seja demais esperar uma resposta honesta de autoridades envolvidas em suas engrenagens eleitorais, com seu sem mundo de avaliações midiáticas e orientações de marketing, cujo conteúdo tem a ver com tudo, menos com o que o comum dos mortais chama consciência.
A presidente Dilma, dois dias depois do crime, encaminhou via Twitter algumas palavras de preocupação e solidariedade – muito menos enfáticas, diga-se – do que as pronunciadas, quando da agressão do cel. Reynaldo Rossi, por manifestantes em luta na semana passada.
Do histriônico governador paulista, posso estar com má-vontade em relação a ele, mas não encontrei nenhum sinal de qualquer providência concreta, no sentido de apurar responsabilidades e punir possíveis responsáveis (talvez o governador tenha emitido uma daquelas hipócritas notas lamentando os fatos – de resto, dispensável).
Dos comandos militares, aí seria ingenuidade – beirando a idiotice – esperar qualquer coisa mais que tentativas solertes de acobertamento dos fatos, através das tradicionais fantasiosas versões – os mesmos contos de carochinha contados no transcurso do caso Amarildo, no Rio de Janeiro, e de centenas de outros constantes da atrabiliária história das policias militares deste pais.
Das entidades representativas dos direitos humanos – cuja ferocidade na repulsa às agressões sofridas pelo coronel da polícia paulista, confesso que me deixou absolutamente perplexo, pelo unilateralismo implícito, pela estupidez política contida na acusação de se tratar de uma agressão fascista, pela despreocupação completa de averiguar o contexto em que a agressão se teria dado – há uma inércia preocupante, reveladora de um temor inexplicável, no sentido de pedir o encaminhamento de providências que levem a algo mais rigoroso quanto å aplicação imediata da lei.
Enfim, dos atores protagonistas dos acontecimentos do último fim de semana e da última segunda-feira na maior capital do país, restou apenas o povo, mesmo circunscrevendo o conceito a pequenas parcelas de moradores da pequena comunidade diretamente atingida pela nefasta ação policial. E ele reagiu à altura. Com a comovente combatividade dos que ainda preservam a dignidade e os princípios da solidariedade humana, apesar do massacre diário dos seus mais elementares direitos.
Os moradores afirmam que, durante os protestos, policiais chegavam “atirando sem dó”.
“Foi muito tiro. Podia ter matado mais alguém. Estavam atirando pra matar mesmo” – disse um adolescente morador da área.
Nesse clima, é muito difícil que algum ouvido esteja aberto para ouvir a pergunta feita por Douglas, à beira da morte. “Por que o senhor atirou em mim?” Ela continuará ecoando até o próximo confronto. Até a próxima bala. Até que se compreenda que tem total razão a conclusão de um artigo de Renato Roval, numa secção de Carta Maior:
“0s jovens de periferia não querem mais ver irmãos, parentes, amigos, colegas ou apenas conhecidos, serem enterrados porque cometeram o crime de terem nascido, em geral negros, e viverem nas periferias. Eles estão dizendo chega.”
Sem alarme, a situação criada a partir do ocorrido em São Paulo no fim dessa última semana (associada aos sinais visíveis de exaustão social verificados no Rio de Janeiro, quando da luta dos professores entrelaçada a outras lutas), tem que levar a uma reflexão que nos retire do primarismo de algumas análises, expostas a rodo na mídia ou em blogs pertencentes a antigos militantes da luta revolucionária contra a ditadura, absolutamente aturdidos com a perda de comando nas ruas. De um lado, elas incidem na conclusão única de pedir “mais e mais repressão”. De outro, na estupidez política de considerar fascista a explosão de uma revolta que toma cada vez mais a forma de uma revolta generalizada, vinda de uma população, cujos direitos mais elementares são criminosa e diuturnamente esmagados.
O que ocorreu em São Paulo na última segunda–feira não teve nada a ver com a atuação dos black-blocs, que ganhou espaço e expressão, a partir das grandes manifestações de junho. Os que pensaram que elas se haviam esgotado, no refluxo natural das massas que haviam impulsionado tais manifestações (e experimentaram um sentimento de alívio com isso, voltando a dormir tranquilos e achando que tudo voltara a ser como antes), tiveram que acordar sobressaltados. A reviravolta que os acontecimentos produziam os obrigava a procurar fórmulas onde pudessem enquadrar seus ultrapassados conceitos, para explicar o ressurgimento do mesmo espírito de junho, só que em pedaços menores, ora agregados às lutas de categorias profissionais (como a dos professores e dos petroleiros, que ganharam novo vigor), ora às bandeiras difusas por dignidade e melhor qualidade de vida (que as jornadas de junho trouxeram à tona, a meu ver, de modo definitivo). O fenômeno dos black–blocs – embora antigo no mundo – é relativamente novo no Brasil e merece algumas ponderações.
O sociólogo português Boaventura de Sousa Santos remete o nascimento desses grupos aos anos 70, na Alemanha, na luta contra a energia nuclear. Na década de 80, adquiriram uma ideologia autonomista, a partir da qual foram plasmando a ideia que os sustenta até hoje: “temos que criar na sociedade espaços de autonomia que não dependem do capitalismo e que, portanto, podem oferecer outra maneira de viver”. Eles praticam ações anticapitalistas em sua origem e se recusam a ser vistos sequer como movimentos (dizem–se apenas uma tática de luta). Pode–se então chamá–los de anarquistas, radicais, delirantes, porra–loucas. Mas ver qualquer relação da atuação deles no Brasil, com uma possível articulação, para desestabilizar ou mesmo derrubar o atual governo petista, ou fazer alguma associação dessa atuação com movimentos de direita ocorridos no pré–64 do Brasil ou no pré 73 do Chile (derrubada de Allende) é de um primarismo grotesco. Pedro Albuquerque, ex–guerrilheiro do Araguaia, ex-preso político, ex–exilado no Chile e no Canadá, sociólogo, advogado, professor da UNIFOR e doutorando em Direito Criminal, na Universidade de Otawa–CA, vem em meu socorro, para uma conclusão lapidar:
“Se nós, que participamos de tantas lutas, chamarmos os “blocks”de vândalos é porque nos deixamos dominar pela preguiça de pensar. Volto a dizer: a coisa é mais complexa, bem mais complexa. Os blocks são um forte sintoma do que ainda não captamos da extensão do mal-estar social”.
Mas talvez não seja correto nos resumir ao exame de um único fenômeno – embora ele tenha sido de fato o marco diferenciador desse último período – na tentativa de configurar o complexo quadro político em que estamos inseridos. Talvez seja preciso ir um pouco mais fundo.
O sociólogo alemão Ralf Dahrendorf, que acompanhou os terríveis anos nazistas de Berlim, traçou alguns paralelos entre a situação que estavam vivendo os países desenvolvidos nessa época e a era que antecedeu o nazismo. Sua preocupação central era o que ele chamou de anomia, situação que ele considerava resultante da impunidade e que consiste em se ter “um número elevado e crescente de violações de normas, sem a correspondente punição”. Segundo ele, é uma condição em que, “tanto a eficácia social, quanto a moralidade cultural das normas, tendem a zero”. Tudo passa a ser visto como permitido, já que nada é punido.
Evidente que ainda não chegamos a esse ponto. Mas não deixa de ser tentador investigar os índices de impunidade atravessando a história do Brasil, como se dela fizesse parte natural. Basta considerar a esteira infinita de crimes hediondos conduzida no embalo dos 21 anos de ditadura civil-militar que infelicitou este país. Ao considerá–la e ao tentar esmiuçar os horrores nela contidos, é inevitável a pergunta: seria apenas casual a incrível semelhança dos métodos repressivos então utilizados – até hoje, criminosamente impunes – com os que se evidenciaram no sequestro, tortura, morte e desaparecimento do trabalhador Amarildo, numa UPP do Rio de Janeiro? Mais do que uma casualidade, não seria o caso de se pensar na manutenção quase intacta da estrutura repressiva e criminosa posta em execução pela ditadura? Em outras palavras, talvez mais dramáticas, poderíamos dizer com firmeza: nós somos sobreviventes do pau de arara; mas o pau de arara também sobreviveu a nós. E rola solto na relação que o Estado mantém com as populações periféricas. O blogueiro Bruno Cavas, autor do blog Quadrado dos Loucos, tenta um resumo aterrorizante do clima estabelecido nessa relação:
“O ataque aos manifestantes é indiscriminado. Basta estar na rua, no bar, voltando pra casa. É-se bombardeado com armas químicas, menos letais apenas para quem as experimenta através das imagens do JN. É-se agredido, humilhado, abusado sexualmente e cegado. Os bairros são varridos por pogroms, enquanto ativistas são levados para “passear” pela polícia. A polícia secreta deita e rola nas redes sociais, violando a correspondência e montando arquivos políticos sobre organizações, militâncias ou qualquer um com opinião firme no facebook. Proíbem-se as máscaras, cuja maior ameaça, a eles, é propiciar que negros, pobres e favelados possam se juntar democraticamente e em segurança aos protestos. Chovem mandados de busca e apreensão com o intuito de intimidar as pessoas. À agressão indiscriminada segue a prisão indiscriminada, com base em tipos penais vagos e abstratos, sem provas, verdadeiras aberrações jurídicas produzidas por investigações ordenadas pela cúpula dos governos, a quem muitas instituições penais capitularam”.
É inacreditável que alguém de bom senso julgue possível chegar a algum bom lugar, seguindo trilha tão desastrosa. A bem da verdade, o governo federal tem revelado algumas nuances de sensatez. Os ministros Gilberto Carvalho e Eduardo Cardoso manifestaram–se de forma razoavelmente lúcida, reconhecendo a profundidade social do que está ocorrendo e recusando–se a embarcar na canoa furada da neurose esquerdista, para a qual os chamados “vândalos” não seriam apenas “bando de malucos quebrando tudo”, mas agentes extremistas a serviço do golpe. Mas é tudo ainda muito tímido, sem clareza de propostas, sem um plano convincente de enfrentamento equilibrado da situação.No discurso, há uma constatação quase unânime de que é preciso criar um ambiente institucional democrátic, capaz de coordenar essa situação descontrolada.
Mas, a meu ver, isso jamais ocorrerá, enquanto num dos lados da mesa estiverem sentados os defensores de crimes hediondos (como o praticado contra Amarildo, já referido acima), ou de práticas animalescas, como as praticadas pela polícia paulista, quase diariamente. Gostaria que alguém respondesse, com a devida sinceridade, claro, como se deve comportar o pai que teve a filha gratuitamente revistada na vagina, por vândalos fardados e ditos defensores da ordem democrática. Ou a mãe que teve o filho estupidamente assassinado, por um policial desprezível e também se valendo da farda e da condição de defensor do Estado. Gostaria até de saber como cada um aqui reagiria, se tivesse a indigitada sorte de ser pai ou mãe das viítimas aqui enunciadas ou das centenas de vítimas que uma polícia despreparada, mal formada, mal orientada e mal renumerada produz diária e permanentemente. Quanto a mim, eu não tenho dúvida nenhuma de como reagiria: dificilmente deixaria inteiro o quer que me aparecesse pela frente. Deixo com vcs, o exame sincero de suas consciências.
Texto excelente. Só acho que você ainda foi muito magnânimo com o ministro Cardozo. Se as polícias de São Paulo e Rio de Janeiro já são dois monstros isoladas, imagina juntas .
Deixo aqui um post de amigo (Christian Fischgold) lá no FACEBOOK a título de reflexão.
“A população está revoltada, saindo às ruas dia sim, outro também. O que você faria para conter as manifestações?
1) apostaria em medidas de cunho social que melhorassem a vida da população e esfriassem a revolta popular
2) Repressão de forma mais “contundente”
O governo Dilma (em conluio com PMDB e PSDB) escolheu a opção 2 – “O Ministério da Justiça anunciou a criação de um grupo de inteligência integrado pela Polícia Federal e pelas secretarias de segurança pública de São Paulo e Rio de Janeiro para tentar conter manifestações violentas nas capitais dos dois estados.” – http://glo.bo/1crdKIZ
Agora junte os pontos com essa noticia aqui: “A presidenta Dilma Rousseff recebeu Itaú e Ambev para falar sobre plano ‘anti-protestos” – http://bit.ly/185piAl
Pior, o Ministro do Genocídio, Cardozo, fala em mudanças que visam “melhorar” a legislação em vigor. O governo do PT adentra o terreno pantanoso da mudança de leis em momento de tensão com as ruas”.
CHICO DE ASSIS , voce e brasileiro ?
Ou quer fazer dos leitores uns idiotas ?
Sabemos que os vandalos , os baderneiros e os bandidos mascarados , estao dominando varias cidades brasileiras , destruindo os patrimonies publicos e privados, alem de causar panico na populacao.
As constants badernas que cham de ” passeatas de protestos ” e uma prova que o Brasil esta entregue as baratas,os governantes so se interessam em se reeleger e ou se eleger na vergonhosa politica brasileira.
E o pior , alem de votarem , perpetuam os politicos ladroes das verbas publicas , os mentirosos, os inuteis.
E o pior ladrao e o das verbas publicas.
DINHEIRO dos contribuintes que deviam ser aplicados na SAUDE, SEGURANCA e EDUCACAO PUBLICA, sao desviados para os politicos comprarem fazendas, avioes, mansoes ,etc..
E os “eleitores ” brasileiros , os perpetuando.
Isso e MASOQUISMO , e desinformacao em politica e politicos, sao os analfabetos politicos.
VOCE, CHICO de ASSIS , acha que os policiais militares deviam tartar os vandals, os baderneiros, os bandidos mascarados , com flores , com rosas, com beijinhos e abracos ?
Este caso do rapaz que afirmou , ” Por que o senhor atirou em mim ?”
Se ele estivesse na escola e ou em um templo religioso e ou em casa , nao teria sido alvejado por balas .
Quem sai na chuva, e para se molhar.
EU resido com meus familiars na California, U.S.A. e ficamos com muita vergonha e nojo do que estar ocorrendo diariamente nas ruas de diversas cidades brasileiras.
A iamgem do BRASIL aqui, nos Estados Unidos ja era ruim, ficou pessima.
EU tenho vergonha de ser brasileiro.
Agradeco muiiiito a Deus ,por residir com meus familiars no Estados Unidos, somos cidadaos norte-americanos, por Lei.
BRASIL ? NUNCA MAIS.
Salvo se DEUS determinar.
Bye, Bye , brasileiros.
Hug.
ITO CAVALCANTI
Rancho Cordova , California, U.S.A..
Bem, como afirma o Sr. cidadão Estadunidense. Então não se preocupe conosco, pois o que está sendo dito é para os Brasileiros refletirem.
Certo e errado são só pontos de vista. Mas não sei se os Estadunidenses, donos da verdade, conseguem compreender…
Excelente texto,Chico de Assis , e que merece uma grande reflexão. Acho que os brasileiros ainda não se deram conta da gravidade dos problemas que estamos vivenciando ,a situação é critica e extremamente preocupante.
Caro Chico
Seu desabafo é muito justo e válido, sua indignação com os fatos recentes pertinentes e corretos, seus argumentos consistentes. Mas acho que é necessário qualificar um pouco mais as circunstâncias e os fatos que têm levado à explosão de violência nas manifestações públicas do Brasil. A começar pelo sistema político-institucional. O texto de Bruno Cavas que você cita parece que foi escrito em 1970 ou descreve a ditadura militar daquela época, pinta um quadro muitíssimo exagerado, como se estivéssemos numa ditadura cruel, falando de “agressões e prisões indiscriminadas” e “verdadeiras aberrações jurídicas”. Não imagino que você concorde com essa avaliação da democracia brasileira. Fora esta clara distorção da realidade, acho que devemos considerar alguns outros elementos para um julgamento mais isento. Gostaria de compartilhar com você e os nossos leitores as seguintes ideias:
1. As manifestações, tanto as mais amplas de Junho como as mais localizadas dos últimos meses, refletem e expressam, sim, uma enorme insatisfação da sociedade com a situação social e um total desalento com os políticos e os governos. Portanto, são manifestações legítimas e importantes para promover uma mudança social e política no Brasil.
2. É natural que numa manifestação de massas ocorram casos de quebra-quebra e violência, principalmente considerando um elevado grau de ressentimento e revolta na população com a situação, com os políticos (todos) e com incidentes nas ruas.
3. Há indícios bastante claros de que grupos organizados (pelo menos mobilizados pelas redes sociais) estão utilizando as manifestações – e qualquer motivação serve – para promover ações diretas de destruição de agencias bancárias e do patrimônio público, incêndio de ônibus e provocação e agressão a policiais, desejosos de uma resposta para gerar mais indignação. Os grupos que vão mascarados, alguns com barras de ferro e com bombas molotovs, não vão se manifestar livremente, vão com intenções de ações clandestinas e violentas. Numa manifestação pública ninguém precisa esconder a cara no Brasil de hoje, podendo carregar as faixas e os cartazes que achar válido e gritar as palavras de ordem que quiser.
4. Comparar estes mascarados e agressores com os partidos da luta armada durante a ditadura, como faz Pedro Albuquerque com seu apoio, é no mínimo injusto com vocês mesmos que estavam na frente de combate. Naquela época vivíamos uma violenta ditadura sem espaços e direito de manifestação, a repressão era durissima e indiscriminada e, nestas circunstâncias, tínhamos que viver clandestinos (mascarados), mesmos os que não estavam na luta armada. Mesmo sem concordar com a luta armada, tenho de reconhecer que os meios de ação política estavam violentamente reprimidos. Ao contrário do discurso de Bruno Cavas, vivemos hoje num regime democrático que permite amplas manifestações e completa expressão de pensamento ideias e reinvindicações.
5. A democracia não pode permitir a propagação de violência e a depredação do patrimônio público ou privado que compromete a liberdade do conjunto da população, inclusive da parte que se manifesta, questiona a autoridade do Estado que, como sabemos, leva à desestabilização das instituições no nosso caso, das instituições democráticas. Não por acaso, há indícios de que grupos de bandidos do PCC estariam aproveitando as manifestações para provocar também violência e, em muitos casos, saque a lojas.
6. Claro que os black blocs são um sintoma do desalento da sociedade, como diz Pedro, mas sua prática o distancia do mal-estar social da população e não se pode ser benevolente concedendo o direito às suas ações de violência. Esta ação que ultrapassa o jogo democrático e transcende às manifestações da sociedade termina tendo um efeito negativo e desastroso sobre a própria organização e manifestação da sociedade, descolando das massas. Se queremos reforçar e apoiar as manifestações da sociedade como o novo da atual fase política e social do Brasil temos que repudiar a utilização sistemática e programada de violência e depredação que, segundo consta, é provocada e liderada pelos chamados black blocs.
Para encerrar, Chico, quero registrar que acho uma mistificação desgraçada a afirmação de Bruno Cavas de que a proibição das máscaras seria para impedir que “negros, pobres e favelados possam se juntar democraticamente e em segurança aos protestos”. Esse é um discurso tão repetitivo quanto falso e não acho que você concorde com esta mistificação simplista. Em primeiro lugar, os mascarados são quase sempre brancos, de classe média e moradores de bairros bem urbanizados; em segundo lugar, nada impede neste país hoje que negros, pobres e favelados se manifestem democraticamente e não consta que alguém tenha sido preso ou punido pela participação em manifestações pacíficas. A explosão de violência recente no caso do assassinato do jovem Douglas foi um protesto carregado da justa indignação dos parentes, dos amigos, dos vizinhos e de todos os brasileiros. Mas não podemos generalizar este fato e trata-lo com mesma métrica que se analisam as manifestações políticas, mesmo que também tenhamos todos uma justa revolta contra a situação social e contra a degradação da política no Brasil. Também não podemos confundir com os atos de agressão dos black blocs contra os chamados “símbolos do capitalismo”. A que leva isso?
Esse é um bom debate e a questão é, evidentemente, complexa e cheia de nuances. Gostei do seu texto e, mesmo discordando, acho que levanta aspectos interessantes para a reflexão. Não gostei e não acho consistente com seu pensamento estas falas desfocadas do Bruno Cavas que você cita. Espero a tréplica.
“Por que o senhor atirou em mim?”.
“Por que você só com 17 anos não está na escola, ou namorando, etc em vez de destruir o patrimônio daqueles que quando na sua idades estavam lutando por uma vida melhor?”
O assunto é polemico e a reflexão não é tão simples assim. A analise deve partir de décadas e décadas atras com o abandono da educação, coisa que se mantém até hoje.
Reação! Cada ato requer uma reação e não importa o lado.
Caríssimo Sérgio:
Seu comentário traz a marca da sensatez com que vc sempre tem interferido em debates diversos e não só neste que iniciei, sem nenhuma pretensão, além da de tentar aprofundar o máximo possível a análise sobre o complexo momento político que estamos vivendo. Pretendo ainda voltar a ele, quando já puder cotejá–lo com outras possíveis opiniões que venham a ser manifestadas.
Mas por enquanto eu gostaria que vc se debruçasse sobre esses dois vídeos com pronunciamentos do professor Nilo Batista – fundador do Instituto de Criminologia Carioca, professor do quadro permanente do Programa de Mestrado em Direito da Universidade Cândido Mendes, professor titular de Direito Penal na Universidade do Estado do Rio de Janeiro e, desde 2006, professor titular de Direito Penal na Faculdade Nacional de Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Eles nos ajudam a entender com mais profundidade, o que talvez o Bruno Cavas tenha sumarizado de forma um tanto emocional (dê–se a ele o desconto do calor do debate; por experiência própria de militância política, nós sabemos o quanto esse calor leva a conclusões precipitadas e às vezes despropositadas).
Eu tenho participado com razoável frequência de um Programa levado a cabo pela Secretaria Estadual de Direitos Humanos, que já implantou em diversos municípios pernambucanos a exposição intitulada “Memória, Verdade e Justiça”, parte do programa mais geral do Ministério da Justiça chamado “Marcas da Memória”.
Participo sempre ao lado dos companheiros, ex–presos políticos, Marcelo Melo, Carlos Alberto e Alberto Vinicius (que exerce mais uma vez o papel de nosso comandante rs rs rs, porque é ele o vinculado formalmente à Secretaria). Pois bem. Embora a exposição e o debate consequente remetam ao periodo da ditadura, é natural que os últimos eventos feitos tenham desaguado na situação atualmente vivida, particularmente no tocante às manifestações e a forma como os governos (o federal e os estaduais) têm lidado com elas. No último, inclusive, um estudante de História nos perguntou o que achávamos da nossa “falsa democracia”. Eu fiz questão de ressaltar que ela não era falsa. Pelo contrário. Estávamos vivendo o período democrático mais longo de toda nossa história. Mas a busca pela sua plenitude ainda nos obriga a vários percalços e os bolsões de resistência encontrados no caminho formavam quistos que, se não extirpados (e eles, infelizmente, não estão sendo!), podem se transformar sim em tumores malignos, cujas metástases terão consequências imprevisíveis. Alberto veio em meu socorro e cunhou de forma mais simples o diagnóstico que eu tentava exprimir:
“Talvez a democracia que estejamos tendo – disse ele – possa ser chamada de “democracia da bala de borracha”, distinguindo–se assim do que ocorria na ditadura, quando as balas eram de chumbo”.
As falas do professor, penso, talvez nos expliquem, de forma bem mais fundamentada, o que estamos tentando dizer. Dê uma escutada nelas. Grande Abraço…
https://www.youtube.com/watch?v=DrDPEFWhoWM
https://www.youtube.com/watch?v=xYjACv3LQXc
Caro Ney:
O jovem Douglas, de 17 anos, não estava na escola, ou namorando, de fato. Nem muito menos estava destruindo patrimônio nenhum (embora, se o estivesse, não mereceria morte tão estúpida, porque o Brasil, diferentemente do país que o senhor Ito Cavalcanti escolheu para ele – e que Deus o mantenha por lá, definitivamente -, ainda não instituiu a pena de morte, como punição para qualquer tipo de delito). Ele voltava pacificamente do trabalho, quando foi criminosamente abordado por um dos vândalos fardados que, garanto, são muito mais numerosos do que os vândalos de máscaras.
Quanto a esse ponto, então, não há que haver qualquer discussão ou polêmica: o que houve foi um crime bárbaro, gratuito, fruto do despreparo e da prepotência características da atuação das polícias (civil e militar) nas regiões da periferia.
Tal comportamento também não é excepcional, meu caro Sergio (aproveito o embalo pra responder a um dos seus reparos). Infelizmente. Ele é a regra geral, aparecendo como exceção um comportamento decente, minimamente compatível com o regime democrático a duras penas (e vc sabe bem quão duras foram essas penas) conquistado pelo povo brasileiro. Além do caso Amarildo – que ficará por longo tempo como expressão do que seja esse comportamento policial e da inocuidade efetiva que atravessa o programa de combate ao crime e à violência, midiaticamente mais badalado do país, o das UPPs no RJ -, basta lembrar a Chacina da Maré, quando 10 moradores da localidade, foram friamente assassinados, em ação policial que teve toda a característica de uma torpe vingança. É disso que nossos governos têm que cuidar em primeiro lugar. Acho que foi em algum texto seu, meu caro Sérgio, que li – e concordei integralmente – que o pais precisava de uma reforma de Estado, muito mais do que uma mera reforma política. (A q se cogitou depois das manifestações era tão pífia, que mesmo ela já está outra vez esquecida). Essa reforma de Estado tem que compreender o enfrentamento corajoso do que se tem hoje como “forças armadas” – aí compreendidas as três armas e as policias militares -, organizadas até hoje com base em obsoletos pressupostos que orientam a chamada Doutrina da Segurança Nacional, não tão por acaso a mesmíssima que orientou a atividade do sistema governante, por todo o longo e triste período da ditadura civil-militar.
CHICO DE ASSIS , RESPONDA , porque no periodo da Ditadura Militar os vandalos, os baderneiros e os bandidos mascarados , nao foram para as ruas destruir os patrimonios publicos e privados e causar panico nas pessoas do bem ???
E uma prova que a grande maioria do homens brasileiros sao covardes .
Esta provado que os brasileiros NAO podem ter LIBERDADE.
Liberdade nao e liberdinagem.
Democracia , nao e anarquia.
E por que os covardes vandalos , baderneiros e bandidos mascarados , correm dos pioliciais militares ?
TODOS covardes sao medrosos.
Bateu com o pe , correm de medo.
Sou a favor da pena de morte e da prisao perpetua.
Bandido bom , e bandido morto.
Quem deve ficar em CIMA da TERRA , sao as pessoas cultas, educadas e de boa moral.
E DEBAIXO da TERRA , sao os bandidos.
CHICO DE ASSIS , se este jovem estivesse no colegio, na faculdade, em um templo religioso e ou em sua casa, nao teria acontecido este fato.
Isto e Brasil, um ” pais” de ” sabios” comentaristas.
E a Revistra SERA ? Publica varios comentarios inuteis , que deviam ir para a lata do lixo.
Varios comentarios sao agressoes a cultura.
Isto e BRASIL.
ITO CAVALCANTI
Rancho Cordova , California ,U.S.A..
O artigo do Francisco Carlos Teixeira, em Carta Maior, me põe no ar outra vez. É uma panorâmica internacional, envolvendo a luta de jovens em vários paises do mundo – França, Espanha, Inglaterra, Egito, Chile. Em todos, a raiva represada por anos de opressão, explodindo em revoltas descontroladas, traduzidas em vidraças quebradas, veículos queimados, confrontos travados. Em todos, sempre uma tragédia rondando lares. Em todos, a incapacidade estatal de se fazer presente, senão pela truculência, pelas bombas, pela força.
Deixo com vcs os trechos finais, porque traçam uma sequência de fatos ocorridos no Brasil. Que hão de um dia fazer a nação refletir:
“Rocinha, 14 de junho: Amarildo de Souza, o boi, pedreiro, casado, pai: “levado para interrogatório”, torturado até a morte num próprio público. Suas últimas palavras: “-…me matem que eu não aguento mais!”. Pois é, Amarildo não aguentou! A autoridade declara: “um ponto fora da curva!” Que merda! Quem inventou esta frase deveria ir para uma UPP. Pacificadora! P-A-C-I-F-I-C-A-D-O-R-A! A paz dos cemitérios!
Vila Medeiros,27 de outubro: São Paulo: Douglas Rodrigues, 17 anos, trabalhador e estudante, passa pela rua com o irmão e o policial “em missão” atira. Ponto fora da curva! Últimas palavras de Douglas: “Por que o senhor atirou em mim?”
Parque Regina, Campo Limpo, Sampa, 26 de outubro: Severino Paulo, cabelereiro, é morto com um tiro de fuzil durante uma “missão policial” dentro de seu local de trabalho. Ponto fora da curva. Severino não falou antes de morrer.
Manguinhos, área pacificada, com uma UPP: o jovem Paulo Roberto Pinheiro, 18 anos, com passagens por uso de drogas, é encontro morto após interrogatório policial. Registro: “sofreu uma queda!” Paulo morreu sozinho, não há registro de ter falado qualquer coisa.
Ponto fora da curva: o Caso de Marli Pereira Soares, 1979; a Chacina de Acari, O Caso Marcellus Gordilho, em 1987; a Chacina de Vigário Geral, em 1993; a Chacina da Candelária, em 1993; a chacina da Favela da Maré, 2013.
Num “post” alguém diz: você errou, não foi “chacina’, foi “faxina”!
Que sorte que o povo brasileiro é pacifico e só o black bloc é violento!”
Quem quiser ler o artigo inteiro, o link é este:
http://www.cartamaior.com.br/?/Coluna/Vandalos-Quando-os-jovens-se-rebelam-/29411
o artigo do Francisco Carlos Teixeira, em Carta Maior, me pôs no ar outra vez. É uma panorâmica internacional, envolvendo a luta de jovens em vários paises do mundo – França, Espanha, Inglaterra, Egito, Chile. Em todos, a raiva represada por anos de opressão, explodindo em revoltas descontroladas, traduzidas em vidraças quebradas, veículos queimados, confrontos travados. Em todos, sempre uma tragédia rondando lares. Em todos, a incapacidade estatal de se fazer presente, senão pela truculência, pelas bombas, pela força.
Deixo com vcs os trechos finais, porque traçam uma sequência de fatos ocorridos no Brasil. Que hão de um dia fazer a nação refletir:
“Rocinha, 14 de junho: Amarildo de Souza, o boi, pedreiro, casado, pai: “levado para interrogatório”, torturado até a morte num próprio público. Suas últimas palavras: “-…me matem que eu não aguento mais!”. Pois é, Amarildo não aguentou! A autoridade declara: “um ponto fora da curva!” Que merda! Quem inventou esta frase deveria ir para uma UPP. Pacificadora! P-A-C-I-F-I-C-A-D-O-R-A! A paz dos cemitérios!
Vila Medeiros,27 de outubro: São Paulo: Douglas Rodrigues, 17 anos, trabalhador e estudante, passa pela rua com o irmão e o policial “em missão” atira. Ponto fora da curva! Últimas palavras de Douglas: “Por que o senhor atirou em mim?”
Parque Regina, Campo Limpo, Sampa, 26 de outubro: Severino Paulo, cabelereiro, é morto com um tiro de fuzil durante uma “missão policial” dentro de seu local de trabalho. Ponto fora da curva. Severino não falou antes de morrer.
Manguinhos, área pacificada, com uma UPP: o jovem Paulo Roberto Pinheiro, 18 anos, com passagens por uso de drogas, é encontro morto após interrogatório policial. Registro: “sofreu uma queda!” Paulo morreu sozinho, não há registro de ter falado qualquer coisa.
Ponto fora da curva: o Caso de Marli Pereira Soares, 1979; a Chacina de Acari, O Caso Marcellus Gordilho, em 1987; a Chacina de Vigário Geral, em 1993; a Chacina da Candelária, em 1993; a chacina da Favela da Maré, 2013.
Num “post” alguém diz: você errou, não foi “chacina’, foi “faxina”!
Que sorte que o povo brasileiro é pacifico e só o black bloc é violento!”
Quem quiser ler o artigo inteiro, o link é este:
http://www.cartamaior.com.br/?/Coluna/Vandalos-Quando-os-jovens-se-rebelam-/29411
Vale a pena!
OLAVO AUGUSTO , voce e mais um ” sabio ” recifense.
Voce escreveu que o assunto e para os brasileiros refletirem .
E uma pidada de pessimo gosto.
Sabemos que encontrar um brasileito que saiba reletir, e raissimo.
E se for um recifense , e dificicicicililililimo.
Ponto de vista so deve ser elogiado se merecer .
EU nao devia me intrometer nos serios problemas dos brasileiros.
MAS sou brasileiro e nao sou egoista.
EU gostaria muito se TODOS os brasileiros tivessem uma boa qualidade de vida.
Como eu e meus familiares ( esposa e tres filhos) temos na California, U.S.A..
Cuidado, inveja pode matar.
Voce e recifense, compreendo.
Deus de protecao , saude e sucesos para todos da Revista SERA ?
Abraco brasileiro .
ITO CAVALCANTI
Rancho Cordova , California, U.S.A..
CHICO DE ASSIS , na minha opiniao, uma vidraca vale mais do que uma vida de um bandido mascarado , de um vandalo, de um baderneiro.
Voce e inteligente e sabe demais que bandido bom e bandido morto.
VOCE gostaria que os vandalos, os baderneiros, os bandidos mascarados quebrassem os vidros do seu carro e ou da sua residencia ?
Tire a mascara e mostre sua verdadeira face.
Destruir NUNCA.
Construir , SEMPRE .
Os vandalos, os baderneiros e os bandidois mascarados, tem que ficar ” hospedados ” em um hospital publico e ou nos presidios,por muito anos .
Em CIMA da terra , as pessoas cultas, educadas e de boa moral.
E DEBAIXO da terra, os vandalos, os baderneiros, os bandidos mascarados.
Liberdade nao e libertinagem.
Democracia nao e anarquia.
Respeto e bom e todos gostam.
Menos os marginais, os bandidos.
ACORDA , Chico de Assis, voce e brasileiro e reside no BRASIL.
E nao e ingenuo e nem e idiota.
Para as pessoas do bem , tudo.
Para os bandidos , a LEI.
Deus nos de saude , sucessos para todos nos , amem.
Abraco sincero .
REVISTA SERA ? PARABENS .
Suas materias sao de boa qualidade cultural.
Aceite meu reconhecimento.
ITO CAVALCANTI
Rancho Cordova , California, U.S.A..