Críticas mais do que constantes. Vai dar tudo errado. Os meios de comunicação execram, ridicularizam. É um atabalhoamento, uma falta de senso crítico, poderiam ficar quietos. É o que leio desde a eleição. E me pergunto constantemente, será que isso tem alguma lógica?

Nada vai acontecer. O país vai retroceder. O crescimento será pífio, menos de 1%. A inflação vai estourar, não há como contê-la depois do represamento de preços do segundo semestre do ano passado. Será impossível anunciar novos programas ou corrigir as distorções sem perder o rumo. Nada se concretizará, metas ambiciosas demais, dizem os céticos.  

O posicionamento internacional é equivocado. O país está se metendo em problemas que não são dele. Está sendo ridicularizado. Não tem espaço no cenário mundial. Construir uma nova geopolítica de inserção dos periféricos é impossível. Querer ganhar protagonismo não é compatível com nossa realidade de país, deveríamos nos centrar apenas em nossos problemas, que já são muitos. Voz corrente dos formadores de opinião com maior peso nos meios de comunicação.

O Governo está rendido. Está na mão do Congresso. Não conseguirá aprovar nada, não terá espaço para as propostas estruturais. Tem que ceder a qualquer custo. Terá que se entregar ao Centrão. Ouço com muita preocupação, cada vez mais constantemente. 

A mídia formadora de opiniões, a classe média intelectualizada, os analistas que tudo sabem falam isso como certezas absolutas, não se questionam o porquê de a realidade mostrar cenário tão díspar. Será que se fala de outro país?

Oito meses já passaram. A realidade é profundamente diferente. O país cresce a taxa superior aos 3%, o desemprego cai abaixo dos 8%. A inflação bem controlada e perspectivas de captação de investimentos significativos. O arcabouço fiscal aprovado e a Reforma Tributária bem encaminhada. 

O essencial passa no Parlamento. Medidas tomadas buscando a justiça social. Tributação de Fundos Exclusivos, tributação de apostas esportivas, “off-shores” pagando o equivalente a empréstimos da classe média do país, tudo sendo direcionado. O aumento da arrecadação no caminho de viabilizar, com o novo sistema fiscal, investimentos de peso.

O Novo PAC apresentado, obras e parcerias possíveis o tornam factível. Necessário em um país que perdeu competitividade, que teve uma queda exagerada na sua produtividade. Articulações internacionais para aumento no investimento externo direto, para um novo ciclo de crescimento sustentável.

Programas sociais retomados e reestruturados. Aumento do valor da Bolsa Família, voltar a ser um país sem fome, projetos claros para habitação, mobilidade e vida urbana. 

Ciência e Tecnologia como base da transformação industrial. Sustentabilidade ambiental respeitada, transição energética avançando, atividades produtivas com respeito aos ecossistemas. Caminhos para uma sociedade com maior equidade e respeito.

Evidentemente, nem tudo foi realizado, o tempo é curto. E nem será, dificuldades várias existem e novas aparecerão. Mas é um começo, que aponta para um novo ciclo de prosperidade com maior inserção social e justiça. 

Perguntam-se os incrédulos. Como isso é possível? Ninguém previu, ninguém imaginou ser exequível tal cenário.

Nesse ponto entra a política. Muitos de nós discutimos e nos satisfazemos em tentar entender seus rumos. Poucos, pouquíssimos, entendem-na e sabem como manipulá-la para conseguir alicerçar o projeto que idealizam. E mais, somente um jogo bem estruturado, de avanços e concessões, poderia fazer com que o adverso explícito se torne em ventura observável. Parece que é o que está acontecendo.

Tornar relativos, na prática, tempo e espaço. Fazer com que o tempo ruim se transforme a favor, que o espaço permita que no mesmo lócus se posicionem dois corpos díspares e antagônicos. Imaginação e ilusionismo percebidos apenas a posteriori, estruturados por aqueles que sabem fazer esse jogo.

Ao entrar, o Governo tinha a certeza de que trabalharia com um Parlamento conservador, o qual seria um grande empecilho aos seus anseios de transformação. Mesmo assim, desenhou seu Ministério à sua semelhança, fazendo pouquíssimas concessões, balizado pelo perfil prometido nas urnas. Gerou críticas ferozes. 

Propôs uma pauta econômica moderna, baseada em justiça social e em reversão de catástrofes geradas pela irresponsabilidade de poucos anos passados, mais precisamente de 2016 a 2022. Iniciou uma agressiva agenda internacional que já o leva a um esforço de viabilizar o continente sul-americano como “player” no cenário mundial, e agora assume-se a Presidência do G-20 com uma pauta importante no comércio internacional. 

Na mudança da matriz industrial conseguem-se parcerias, e na esfera ambiental financiamentos significativos. Apesar das críticas de plantão, mantém-se o país como referência para as novas negociações das crises mundiais, e articula-se um novo padrão do comércio internacional menos dependente do padrão dólar. Em síntese, resultados objetivos começam a ser notados.

 Com o Congresso é que se vê a sutileza nas negociações. Nunca se nega, mas usa-se maravilhosamente bem o tempo a seu favor. 

As cartas são explícitas pelo lado do Parlamento. Geram-se dificuldades para conseguir benesses. As moedas de troca são conhecidas, desde Ministérios e Presidências de órgãos públicos até a agilização na liberação de Emendas e o direcionamento de políticas públicas para interesses eleitoreiros.

Uma primeira crise, o foco é o Ministério do Turismo, o Governo se vê cobrado de mudanças radicais. Com habilidade e sem grande pressa, demora a entregar o combinado. Apenas o Ministério, pois a principal agência do setor, a que realmente operacionaliza as atividades, continua sob orientação do projeto exitoso nas urnas, com diretrizes claras predefinidas.

Numa segunda crise, a ameaça é assustadora. Nada mais passará, dizem. E as exigências são enormes. 

O Centrão inicia pedindo o mais cobiçado, Saúde e Desenvolvimento Social. Sem isso, nada feito. Uma loucura, descaracterização total do prometido em campanha. Também a Caixa, com todas as vice-diretorias, terá que ser entregue.

Passa o Arcabouço, estrutura-se a Reforma Tributária. Mas é chegado o recesso, tempo para refletir, tempo para conversar. Inclusive com a Presidência da Câmara. Começa-se a perceber a inviabilidade de tal ousadia. Algo será entregue, mas muito menos do que foi pedido.

Cria-se um Ministério para acomodar aliados de longa data. Evidentemente, sabia-se quais as intenções do Centrão, e que não se satisfaria com essa concessão. Mas é uma maneira de controlar os que não pode perder, os que ficarão a seu lado em momentos mais difíceis.

Na Caixa, demora-se a fazer a reforma. Entregará sim, mas remodelada ao seu olhar, à sua orientação. Nem todas as vice-presidências, claro.

Nos Ministérios, escolhe dois que são importantes, mas não desvirtuam o modelo de gestão idealizado. Portos e Aeroportos, e o dos Esportes. Pequenas concessões ainda podem ser feitas, mas marginais. Uma nova Secretaria em algum Ministério, um programa específico, tudo sem gerar traumas à mudança desejada e aprovada pela nação.

Um jogo feito com paciência, com ajustes que não comprometam o idealizado, somente quem domina a prática política pode fazer tais acomodações. 

Continuamos no rumo certo, conversando, cedendo no periférico, mas sendo muito firmes nos objetivos principais.