Elimar Pinheiro do Nascimento

Nas sociedades desenvolvidas (ou em claro movimento neste sentido, como o Brasil) o leque político-partidário caminha para o centro, o que reduz a força dos extremos e torna a percepção dos problemas e as suas soluções mais compartilhadas. É ao caso do Brasil entre o final do século passado e este. Por mais que alguns rejeitem, o PSDB e o PT estão mais próximos do que parece. Há divergências sem dúvida, mas estas são em menor monta do que as convergências. Pelo menos do ponto de vista estratégico. Ademais, algumas das divergências dos anos 1990 foram vencidas. Hoje, o PT está mais convencido do que antes que não pode prescindir do capital privado nas obras de logística, e o PSDB finalmente se convenceu que é possível romper a exclusão social. Ambos estão aos poucos se convencendo que a educação é o gargalo estratégico do País. Estranhamente há mais aproximação entre Aécio e Lula do que entre Dilma e Fernando Henrique Cardoso.

Contudo, a aproximação ao centro por parte dos partidos políticos não é verdadeira em situações de crise, quando os extremos ganham força. Vide o surgimento do nazismo nos anos 1930 na Alemanha e a atual situação política da Europa. Nas últimas eleições europeias observamos a ascensão dos partidos de extrema direita. E no dia a dia europeu se registra o crescimento do fundamentalismo laico contra os imigrantes, sobretudo negros e árabes, mas também latinos americanos.

Aparentemente, estamos nos aproximando desta situação perigosa. Há claros sinais de uma crise econômica se achegando. O PIB tende a ficar perto do 1%, agravado pelo desempenho medíocre desde 2011. A inflação chegou ao patamar do teto da faixa definida pelo Banco Central, 6,5%. Segundo Delfin Neto, 8,5%, porque há 2% de inflação embutida. A balança comercial é crescentemente negativa, assim como a produção industrial. As contas públicas parecem comprometidas, obrigando o governo a adotar procedimentos condenados internacionalmente. O Brasil perde a imagem positiva criada no governo Lula. Os investimentos caem, a atração de capital externo também. E, sobretudo, cai a confiança na economia por parte do empresariado, e a confiança dos brasileiros em suas instituições. Aproximamo-nos da perigosa situação de uma crise econômica, e social, cujos efeitos já se fazem sentir na mesa dos brasileiros com a queda do consumo, o aumento do endividamento familiar e a perda de ritmo na geração de emprego. A continuar assim ingressaremos em uma situação de aumento do desemprego e explosão da insatisfação social. Contudo, ainda não estamos lá. É uma possibilidade de futuro que estará nas mãos do próximo governo resolver.

Isso significa que se houver o aprofundamento da atual crise econômica que vive o País teremos o mesmo movimento? É possível. Por enquanto estamos ainda longe dessa situação. Por enquanto. Se o próximo governo conseguir enfrentar os problemas mais emergenciais com sucesso e conseguir obter o retorno do crescimento econômico não caminharemos nesse sentido. É no momento a tendência dominante. Qualquer que seja o resultado eleitoral.

 

Afinal, pouco pode ser feito no momento atual, pois o governo perdeu a credibilidade junto aos investidores, e mantém sua política, ineficiente, de criar estímulos econômicos por meio de isenções pontuais. A solução do problema de retomada do crescimento econômico será desafio do presidente eleito ou presidente reeleita.

Essa aproximação de uma crise econômica reflete-se em nossas atuais eleições. Serão as mais árduas desde a redemocratização. Serão tensas, e com muito jogo baixo. Programa proibido para menores de 18 anos.

A situação irá insistir sobre as conquistas realizadas nos últimos 12 anos. O passado é o aval de um futuro melhor. A oposição PSDB irá insistir sobre a perda de rumo de nossa economia, e os riscos que se avizinham com a atual gestão presidencial – o futuro está a construir. O PSB/REDE irá desenvolver um discurso de reconhecimento das conquistas (afinal seus membros foram ministros no governo Lula), mas com um alerta: os desatinos do governo atual colocam em risco estas conquistas. É preciso mudar a forma de governo para assegurar e avançar nas conquistas.

No entanto, não teremos muitas chances de conhecer as reais propostas dos candidatos. Eles falarão e escreverão aquilo que os seus marqueteiros disserem, pesquisas em mãos. Teremos que escolher em meio ao tiroteio das acusações, insultos e inverdades que serão propaladas aos quatro ventos. Teremos que escolher na base da emoção. Que nem sempre é uma boa conselheira para decisões relevantes.

Por outro lado, a polarização PT x PSDB tende a se confirmar, tornando ainda mais tensas as eleições, e mais provável a relação de forças hoje imperante. Em grande parte porque a candidatura Eduardo/Marina não consegue colocar na mesa novas propostas. Não temos uma proposta clara de enxugamento deste carnaval de ministérios e cargos comissionados, nem de mudanças na gestão pública, reconhecidamente ineficiente. Nada sobre o peso da burocracia e dos impostos sobre as empresas e os cidadãos. E menos ainda, de forma contundente, no campo do combate à corrupção, da reforma política e da melhoria dos serviços públicos. Enfim, não há propostas que conversem com as insatisfações do cidadão brasileiro. Apenas generalidades.

Finalmente, no campo estratégico. Não há propostas consistentes sobre a educação, onde não ganhamos nem o quarto lugar, ao contrário, estamos em 85o sobre 106. Uma vergonha. Nada sobre a retomada da produtividade econômica, da diversificação da economia, da abertura ao exterior para melhorar nossa competitividade. Não há uma palavra de peso sobre a adoção de planejamento no fazer público. Nada no campo da ciência, tecnologia e inovação, onde reside o futuro. Nenhuma inovação no campo da logística, da mobilidade social ou do espaço urbano. Nada que revolucione a situação de extrema precariedade da saúde pública. Nenhuma proposta significativa no campo da inserção social, quando todos sabem que a inserção assistencialista se esgotou e que o novo caminho passa necessariamente por investimentos de qualidade na educação, sobretudo na gestão, e programas de inserção socioprodutiva. Não se milagres, mas propostas ousadas, inovadoras, que mobilizem as pessoas que tem um compromisso em construir um país mais justo. E muitos esperam.