Com a economia brasileira em completa desorganização – inflação, volatilidade cambial (dólar ultrapassou R$ 3 reais) e déficit fiscal – no meio de uma instabilidade política que compromete a base de sustentação do governo, a bomba Lava Jato caiu em Brasília gerando desespero entre os políticos enquanto os nomes não surgem e as especulações aumentam. Pelas informações não confirmadas, os presidentes da Câmara de Deputados e do Senado estariam envolvidos e citados na corrupção da Petrobrás. Numa possível jogada de marketing, para se redimir da acusação, Renan Calheiros decidiu enfrentar o governo devolvendo a Medida Provisória que aumentava encargos sociais de alguns setores. Decisão correta pelo abuso de MPs sem urgência, mas tardia porque a avalanche de Medidas Provisórias dos últimos governos foi aceita e defendida por Renan Calheiros. Além de tardia, a decisão joga mais fogueira na crise econômica, na medida em que rejeita um dos instrumentos do ajuste fiscal, ampliando a desconfiança dos investidores e dificultando a redução do déficit público. Esta combinação perversa de crise econômica e política está jogando o Brasil num abismo de imprevisível desdobramento. O Brasil está sendo desmantelado pela incompetência e voluntarismo do governo, e pela falta de espírito público de grande parte dos políticos. No meio deste temporal, corre nas redes sociais a convocação para uma manifestação pedindo o impeachment da Presidente Dilma Rousseff. No entanto, por mais que esteja evidente o fracasso do governo e sinais de envolvimento do PT na corrupção que financiou a campanha da Presidente, será que o movimento pelo impeachment não servirá apenas para aumentar o desmantelamento e a fratura política do Brasil? Em que essas manifestações ajudam a enfrentar a nossa crise política e institucional?
O Brasil desmantelado – Editorial
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Não podemos ficar reféns das crises.
Nosso país, que levou duas décadas em uma transição de um regime autoritário para o que vivemos hoje, o período mais longo e consolidado da nossa história como uma democracia, enfrenta agora, logo após uma eleição que o dividiu, um tsunami de crises. A grande mídia, quase na sua totalidade, capturada pelo esforço legítimo de fazer um jornalismo investigativo entope sua pauta com as crises e passa a analisar tudo, inclusive a produção e seus impactos na economia, apenas a partir dela. Nós, cidadãos e cidadãs, coitados, ficamos atordoados com o histriônico fluxo de informação nas redes sociais, simulacro rasteiro do jornalismo verdadeiro, nos deixando capturar, em nosso dia-a-dia, por um pessimismo que vai pingando, gota a gota, notícia a notícia em nosso espírito – nos afogando em um estado de torpor e impotência. Isto irá, provavelmente, mais uma vez, explodir em 15 de março nas ruas, de forma absolutamente fragmentada e dispersa sem lideranças ou uma agenda política capaz de interferir na realidade política da nação. Talvez dê, no máximo, um ótimo sketch para o Porta dos Fundos, sem contar a previsível volta dos black blockers. Mas apenas isto.
É importante destacar que democracia é exatamente o ambiente político que, uma vez consolidado estruturalmente – e isto é dinâmico e permanente – é feito para que as crises venham à tona, e com toda a transparência possível, sejam administradas. Como está sendo a crise do Petrolão. Agora, com a Lista de Janot, mais de cinquenta políticos serão citados, processo que poderá levar todo o segundo governo de Dilma. Abraham Lincoln, durante a Guerra de Secessão, que matou cerca de um milhão de americanos, estava discutindo no Congresso o Morris Land – Grant Act, o qual que regulava a intervenção do governo para criação de universidades públicas e foi base para a rede de universidades naquele país – hoje uma das melhores do mundo. O Brasil é muito maior do que a crise, ou crises. Já demonstrou isso no impeachment de Collor e de muitos outros obstáculos previsíveis – porém não desejados – em uma sociedade como a nossa. Não é para baixarmos a guarda mas para aguçarmos nosso olhar para além das crises, pois somos um país com um enorme potencial cultural e econômico, e com uma força empreendedora invejável.
Vamos buscar ou construir, em nosso interior, o Lincoln em cada um de nós. Corrupção? Assim como o Jornal Nacional e a novela das oito entra em nossa agenda como um compromisso amargo que temos que saber lidar, sem sermos inundados pela paralisia e o pânico.
João Rego
O esforço investigativo da grande mídia é apenas para um lado. Não investigou p* nenhuma da crise hídrica de SP no período anterior às eleições; nem o helicóptero de cocaína lá em Minas, nem o escândalo dos trens de SP. Veja bem, não estou defendendo que o PT deva ser isentado de nada, mas tão somente desejando que a mídia investigasse a todos. Como não faz isso, não tem a menor credibilidade, a meu ver. Sua atuação é POLÍTICA e faz a cabeça de muita gente, como fez em 1954 e 1964. É aí que mora o perigo.
Bom editorial. E comentário perfeito de João Rego. O psicanalista a nos dizer que, apesar de tudo, a vida continua? E que é preciso continuar a administrar o cotidiano? Enfim, há muitas mensagens embutidas no comentário de uma situação complicada.
Caríssimo Homero:
Quando eu era menino usava calça curta, tinha o cabelo Jackie Dempsey, e levava petelecada nas orelhas acabanadas de um vizinho chato (Ten. Pessoa, lembra dele?). Hoje estou careca, muito acima do peso e “atento e firme” porque já passei dos sessenta. O que me preocupa mais? O passado ou o presente?
Sei da sua justa inquietação por conta de outros roubos ainda não investigados, mas tenho que admitir: o PT mostrou um apetite e uma “competência” na corrupção de fazer Ademar de Barros, Maluf e outros “minino buchudo” — daqueles que o padre manda rezar, ajoelhados e contritos, duas ave-marias e três pais-nossos e depois libera.
Embora minha reflexão não seja voltada para o escândalo em si, mas sim para a necessária atitude do cidadão, em entender que ser democrático é conviver com as mais atrozes ações da natureza humana e, apesar disto, continuar investindo na democracia e nas suas instituições; é também – e nisto estamos de acordo – não ser capturado pelas vias cavernosas da mídia e suas manipulações tenebrosas, mas também não negar a realidade quando esta se apresenta com a solidez de uma rocha milenar.
Um forte abraço do amigo.
João Rego
Nenhum comentário, seria mais apropriado do que o próprio título da crônica:
BRASIL DESMANTELADO. è o retrato do nosso apaís hoje.
(não precisamos falar o dialeto dos gringos) o nome correto e impedimento.
não adianta tirar somente dilma temos que fechar o congresso e fazer um novo brasil do povo para o povo.
Prezados
Quanto à crítica a mídia que só vê os ¨malfeitos¨ do PT, esquecendo aqueles do PSDB, de FHC, e anteriores, além do que diz o João Rego (Ademar de Barros era ¨minino buchudo¨…), é preciso destacar que a corrupção do PT era e é para A SUA PERMANÊNCIA NO PODER, PARA O CONTROLE DO PODER, diferente de todas outras. O objetivo sempre foi garantir seu poder para aprofundar suas política ¨socialistas¨, como se vê na Venezuela.
O tão falado impeachment, eu acreditava que não ia dar em nada, mas hoje já não sei. A Magrinha Presidenta não precisa de inimigos, pois seus amigos estão todos contra ela, e podem, sim, se unir aos adversários históricos. O que seria uma tremenda burrice, pois ela e o lulopetismo não são iguais a Collor. Quando este saiu, foi varrido por toda a nação; se Dilma for impedida, o caldo vai ficar muitíssimo grosso e complicado.