Editorial

A invasão da Câmara de Deputados por um grupo de 60 manifestantes raivosos e violentos foi um grave atentado à democracia brasileira, que deve ser repudiado por todos os brasileiros. De imediato, constitui um desrespeito àquela que é uma das principais instituições da democracia brasileira, violando o patrimônio público, impedindo os trabalhos parlamentares, ocupando a mesa diretora e agredindo os deputados. Por mais que esteja desacreditado, o Congresso Nacional é a base da democracia, e deve ser fortalecido, e nunca desmoralizado ou destruído. Tão grave quanto a violência da invasão, a verborreia grotesca de radicais autoritários, repudiando a democracia e pedindo o fechamento do Congresso, a intervenção militar e a imediata deposição do atual governo, foi a agressão desmedida e inaceitável às instituições e ao sistema democrático brasileiro. Nada compatível com as investigações da Operação Lava-Jato, as medidas do pacote anticorrupção e a atuação do juiz Sérgio Moro, que diziam defender e que constituem, na verdade, elementos importantes de fortalecimento da democracia e da Constituição. Vale acrescentar a indignação dos pernambucanos com uma manifestante que agitava, de forma indevida e completamente inadequada, a bandeira de Pernambuco, símbolo do Estado que representa a Revolução Pernambucana de 1817 contra a monarquia imperial portuguesa. Não basta, contudo, condenar com veemência a atitude e os discursos grotescos deste grupo de saudosistas da ditadura, porque, em grande medida, reflete um sintoma preocupante na sociedade brasileira: o descrédito e a desconfiança geral nas instituições e, principalmente, nos políticos, num momento de crise econômica e fiscal aguda. O duplo atentado à democracia – invasão do espaço e defesa da intervenção militar – deve ser um alerta e um estímulo para a realização de reformas profundas nas instituições e na sociedade, incluindo o combate à corrupção, que restaurem a dignidade e a credibilidade na política e nas instâncias do sistema democrático brasileiro.