Editorial

O Estado brasileiro foi saqueado pelas quadrilhas políticas, bilhões de reais de propina distribuídos com políticos, partidos e dirigentes de estatais pelas empresas que ganhavam concorrência com superfaturamento. Privilégios, supersalários e irresponsabilidade da gestão fiscal acabaram de afundar o Estado brasileiro. No vazio de poder, abrem-se as portas para o crime organizado, que domina as ruas e favelas e conta com a simpatia de parte da população, indignada e descrente das instituições públicas. A cena deprimente de centenas de pessoas eufóricas, saqueando as mercadorias que sobraram de dois caminhões incendiados pelos bandidos no Rio de Janeiro, é uma síntese da tragédia brasileira: o Estado falido e destruído, a sociedade abandonada e descrente, e o território livre para o poder violento e altamente armado do exército de criminosos. O Rio de Janeiro mostra a face mais negra da dramática situação de desagregação social e moral do Brasil. Em apenas dois dias foram incendiados oito ônibus e dois caminhões de carga, e foram capturadas mais de 30 armas de alto calibre, incluindo submetralhadoras e granadas, numa operação da polícia que está longe de desmontar o crime organizado. Em menor escala, a falência das instituições públicas e as operações ousadas e violentas de organizações criminosas alastram-se em várias das grandes e pequenas cidades brasileiras, para espanto e desespero dos cidadãos. O Brasil não aguenta mais este desmantelo. É necessária e é urgente a recuperação do poder e da capacidade política, gerencial e fiscal do Estado, para a implementação de uma estratégia de ações e investimentos significativos que permitam deter o processo de anomia social, desarticular o crime organizado e, principalmente, aumentar a oferta de serviços públicos de qualidade – educação, saúde, segurança – para a melhoria da vida da população.