Luiz Otavio Cavalcanti

Compare-se Votorantim e JBS. Um tem itinerário árduo de mais de cinquenta anos de trabalho. Outro tem dez anos de improvável construção. Um tem sistema de governança regulamentado. Outro tem esquema de patrimonialismo revogado. Um tem marca avaliada no teste de mercado. Outro tem certidão em temíveis transações.

O que terá levado a JBS a tomar outro caminho que não o de grupos vitoriosos e profissionalizados como o Votorantim, Brennand ou Bradesco ?

“Quando nada se vê no horizonte, é hora de fazer mais esforço para sobrevoar o imediato”. Assinado, Míriam Leitão. Esta frase está no seu livro História do Futuro (Editora Intrínseca, 2015, p. 161). É o Brasil.

A via torta assumida por Joesley Batista parece contar com dois condicionantes: um, pessoal, psicológico. Outro, social, político.

O condicionante pessoal traz a consideração do homem, de sua formação, sua história, sua circunstância. Um homem que, por sua audácia, galgou o cume do sucesso empresarial. Sem o contorno harvardiano de um MBA. Sem a convivência construtiva de associações corporativas. Sem a formação moral dos verdadeiros líderes. Apenas com a miopia provinciana do jeca fascinado pelas luzes do poder.

Na prática, um gigante pigmeu. Grande na pequena ousadia. Pequeno na grande fraude. Cresceu por fora. E diminuiu por dentro.

Essa moldura psicossocial o levou a esconder-se do sol. A esquivar-se do dia. A esgueirar-se pelas sombras noturnas do ato menor. Blandicioso. Banido.

O condicionante político reflete a instância de tempos cinzentos. Sem altura, sem azul. O ambiente econômico induzindo o pensar miúdo de uns. O cenário político incentivando o fazer inepto de outros. A incerteza social assustando todos.

Na verdade, um quadro no qual lideranças empresariais deixaram de ser referência. Perderam a chance da exemplaridade. E os menos preparados se deixaram seduzir pelo oportunismo reles.

Então, o pigmeu da carne entra na cena do patrimonialismo nativo. Encontra território enganoso e fértil para plantar sua auto ilusão. Numa quadra em que falsos profetas alimentaram a farra patrimonialista.

No fundo, um deserto. Porque o calendário político agendou o fim de uma geração. A safra de Ulysses, Covas, Fernando Henrique, Pedro Simon, acabou. E não há sucessão. O velho morreu. E o novo ainda não nasceu. Há um interregno áspero. Uma sensação de vazio estéril.

Na gestão empresarial, ninguém surgiu depois de Antônio Ermírio de Moraes. Um empresário com espírito público. Agora, o dirigente da maior empreiteira do país está na cadeia. Política e economia encontram-se na finitude do talento.

Sucesso como o de Joesley é derrota. Porque oco. Sem essência. A vitória verdadeira é feita de brilho genuíno. Contém arte. Pedaços de inspiração celeste. E magnífico engenho. Essas, sim, são vitórias.

Olhando para dentro e para fora do Brasil, parece que, com exceções, os melhores não estão no topo. Porque na ética de princípios o fracasso não é fracasso. O êxito está em quem respeita valores. E guarda algo íntimo, valioso. Como disse o poeta Mário Faustino, em Balada, citado por Renato Janine Ribeiro:

“Não conseguiu firmar o nobre pacto

Entre o cosmos sangrento e alma pura

Gladiador defunto, mas intacto,

Tanta violência mas tanta ternura”.

Não perco a esperança. Busco apoio na transversalidade que assinala o conhecimento no século XXI. Leio a palestra de Sílvio Meira sobre inovação, no Seminário de Tropicologia da Fundação Joaquim Nabuco, em 24 de maio de 2017:

“O ano da graça de 2019, você sabe, é daqui a quinhentos dias úteis ou menos. Se essas previsões se cumprirem e você não estiver junto, não vai ser legal. Se você estiver, beleza. Aí você terá que fazer ainda mais para fazer melhor, e mais barato, do que quem chegar lá junto com você. Porque o papel do CIO, nessa parada, vai ser de Chief Innovation Officer, de liderar inovação baseada em informação e gestão de seu ciclo de vida no negócio”.