Editorial

Renuncia, Temer!

O senhor já deu uma colaboração importante para tirar o Brasil do atoleiro econômico, e compôs uma agenda altamente positiva e consistente de redefinição do modelo fiscal, necessária para a recuperação da capacidade de investimento público e da confiança dos agentes econômicos. Mas sua capacidade, como presidente da República, para conduzir as negociações para aprovação desta agenda, está praticamente esgotada, depois do enorme desgaste provocado pelas denúncias que levaram à abertura de processo no STF e a um inevitável interrogatório pela Polícia Federal. A insistência em permanecer cria um clima alongado de instabilidade, desconfiança e incerteza em relação ao futuro, contribuindo para a contenção das incipientes melhorias da economia e, mais grave ainda, para a degradação das relações políticas e sociais do Brasil. Este seria o momento para um gesto de grandeza do senhor presidente, gesto que poderia servir de base para negociar uma transição: renúncia ao mandato, condicionada a um entendimento com as grandes lideranças políticas de diferentes tendências, para a definição de um plano de contingência que prepare o país para as eleições de 2018, focando nas questões mais urgentes, que não devem esperar pelo presidente que vier a assumir o governo em janeiro de 2019. A gravidade da situação econômica e social do Brasil e a dramática fragmentação política pode (deve) facilitar este entendimento. Embora os políticos, mesmo as grandes lideranças políticas, pensem mais no poder do que no país, não vale muita coisa a detenção do poder no meio do acentuado caos que se anuncia. Convidem-se para a negociação as principais lideranças políticas da atualidade no Brasil, independentemente mesmo de envolvimentos em investigações da Lava Jato (quase todos estão de alguma forma sendo investigados) e de diferentes tendências, convide-se o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva, a ex-senadora Marina Silva, líderes de outros partidos de peso na política brasileira. Henrique Meirelles deve ser o avalista do acordo. Com a renúncia assinada, o senhor entregaria sua proposta de reformas e construiria uma agenda mínima de consenso. Difícil? Muito. Mas este é o momento de um gesto de ousadia e grandeza do presidente, que pode forçar as outras correntes políticas a assumirem também uma posição de flexibilidade em seus interesses, para a aprovação das medidas mínimas necessárias à transição.