Editorial

A democracia está sendo esmagada pelo governo de Nicolás Maduro na Venezuela. No meio de uma forte repressão às manifestações, que resultou na morte de mais de cem pessoas, e depois de impor uma Assembleia Constituinte por cima do Legislativo eleito apenas há dois anos (a Assembleia Nacional, de maioria opositora), demitiu a Procuradora Geral e agora está afastando e prendendo prefeitos que, supostamente, não impediram as manifestações populares nos seus municípios. O poderoso e autoritário Maduro está acossado por dois fantasmas. De um lado, o fantasma de Hugo Chavez, que o assessora e orienta através de singelos mensageiros – passarinhos e borboletas – que se comunicam com o ditador para transmitir mensagens do seu padrinho político. Os poéticos mensageiros, contudo, não podem ser responsabilizados pelos conselhos insensatos do líder do bolivariano, que estaria levando a Venezuela a um regime autoritário e repressivo, e à iminência de uma guerra civil. Deve ter sido numa noite em que, segundo diz, dormiu ao lado do túmulo de Chavez, que o fantasma teria levantado do túmulo, sem intermediários, para sugerir o rompimento das regras democráticas, assumindo Maduro, através da Assembleia Constituinte, o poder absoluto naquele país da América do Sul. Diante do completo fracasso do seu governo, inventou ele outro fantasma, para fugir das suas responsabilidades: uma suposta conspiração mundial, comandada pelo “imperalismo norteamericano”. Explorando o conveniente papel de vítima e procurando despertar a memória anti-imperalista dos venezuelanos e dos ingênuos sul-americanos, o ditador venezuelano tenta transferir para as forças externas, representantes do mal, a culpa pelo desastre econômico, social e político do populismo bolivariano. E, convenhamos, acaba ajudado pelo desequilibrado Trump, com seu projeto de  construção de um muro na fronteira do México, e assim isolar-se de toda a América Latina.