Luciano Oliveira

Jornaleiro.

Ontem, quarta-feira (data-limite que me imponho para enviar o “hebdô” à Será?), ainda não tinha dado à luz uma mísera linha. E como o pensamento não fluía, deixei-o flanar. Foi quando me lembrei de uma bela passagem de Norberto Bobbio no seu Elogio da Serenidade, que fui reler: “nos últimos anos, ao perceber as primeiras mordidas da velhice, fui me envolvendo e em certa medida me dispersando na reflexão sobre o problema do mal no mundo e na história, e diminuindo minhas ligações com o universo da política”. É isso.

Esses últimos dias e seus acontecimentos não têm me encorajado a escrever nada que valha a pena ser lido. Ficar só falando mal do mundo em geral e do Brazuca em particular… Pra quê? E, aliás, faz mal à saúde. Assim, frente ao desafio (terrível para quem escreve) da página em branco, resolvi dar a volta por cima! Saiu-me algo que Millôr chamaria de “livre pensar é só pensar”. Isto.

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NOVO MANIFESTO COMUNISTA

“A vida não tem conserto”

– sentencia Karl.

“Então faça um concerto”

– observa Groucho.

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Numa das vezes em que nosso querido e saudoso Fernando Mota foi hospitalizado, encontrei-o desolado num leito de doente. Abrindo a porta do quarto, e com a mão ainda na maçaneta, saiu-me de supetão este hai-kai:

Sem morfina

Mais sofreu Jesus

Na Palestina!

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E por falar em leito de doente, contam que Goethe, o grande Goethe, representante maior do Iluminismo alemão, teria, no seu leito de morte, no instante de entregar a alma ao outro lado do Mistério, lançado esta derradeira conclamação: “Mais luz!” É bonito. Mas certa feita, enquanto lia Jorge Luis Borges, imaginei-o escrevendo uma de suas pequenas farsas literárias sobre essa história: nela, o grande alemão estaria simplesmente pedindo que abrissem as cortinas!

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Tamanho não é documento, se diz. E não é mesmo. A prova definitiva? Ei-la: Tolstói é genial quando escreve as mais de 1400 páginas de Guerra e Paz, e é também genial quando escreve as cerca de cem páginas de A Morte de Ivan Ilitch.

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Um velho amigo me diz achar estranho que eu tenha escolhido Paulo Francis, um “direitão”, para homenagear no título desta coluna. Já eu, de minha parte, acho que é preciso não ter senso de humor para detestar Francis, ou para levá-lo tão a sério. Há pouco, surfando nas ondas do Youtube, terminei me deparando com uma velha emissão do Manhattan Connection, onde se discutia a respeito de artistas modernos à la Andy Warhol – aquele das infinitas reproduções de garrafas de coca-cola e de fotos de Marilyn Monroe. Nessas ocasiões, os colegas de programa (um palco para Paulo Francis) ficavam espicaçando o autor de O afeto que se encerra, sabendo que em algum momento, para deleite da plateia, o bobo da corte iria proferir alguma enormidade. Era tiro e queda. Quando foram citados alguns nomes que ele desconhecia, explicou assim sua ignorância: “se não sei quem é, é porque não presta”.

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Vou concluir como Mário de Andrade termina seu Macunaíma – o herói sem nenhum caráter: “Tem mais não!”