Editorial

Pandora – John William Waterhouse.

A tecnologia da informação e comunicação tem o peso da força da gravidade. Nada escapa a ela. Nunca tivemos tanto acesso a informação e conhecimento, nem foi tão fácil e intensa a comunicação entre as pessoas. O outro lado da moeda é que estar na rede é abrir mão da sua privacidade, pois tudo é rastreado e, por meio de sofisticadas ferramentas tecnológicas, estas informações podem ser usadas para fins escusos, como foi recentemente o caso do Facebook e da Cambridge Analytica. A empresa inglesa, especializada em marketing político, por meio de dados pessoais de milhares de usuários da hegemônica rede social, é acusada de ter influenciado, com a propagação de conteúdo segmentado, as eleições nos EUA e o plebiscito do Brexit, no Reino Unido.

É inegável o enorme salto de qualidade que a humanidade vem experimentando com as intensas e céleres transformações na tecnologia da informação e comunicação. Poder-se-ia afirmar que que vimos tendo revoluções dentro de revoluções, como se, a cada ano, tivéssemos inovações do porte da Revolução da Imprensa, forjada por Johannes Gutenberg e seus tipos móveis, que democratizou, possibilitando livros mais acessíveis, a produção e a disseminação do conhecimento.

Vive-se hoje um grande dilema, que é qual deve ser o papel do Estado e suas instituições reguladoras. Dever-se-ia exercer maior controle sobre uma sociedade globalizada, digital e informatizada, freando a necessária liberdade e a criatividade inovadora? Ou dever-se-ia correr o risco de, em não intervindo, abrir espaços também para que o primitivo e indelével traço humano de perversão, agressão e compulsão pela dominação do outro prevaleça?