Editorial

Recorte do O Julgamento de Salomão – Nicolas Poussin ( 1649).

Recorte do O Julgamento de Salomão – Nicolas Poussin ( 1649).

Com a economia em frangalhos – terceiro trimestre de recessão econômica e quase falência do Estado – prisão do líder do Governo no Senado, Delcídio do Amaral, presidente da Câmara de Deputados, Eduardo Cunha, sob investigação, pedido pelo Procurador da República de abertura de denúncia contra o presidente do Senado, Renan Calheiros, além de vários outros parlamentares, inicia-se agora um turbulento processo de impeachment contra a presidente da República. Quando os presidentes do Executivo e das duas casas do Congresso são processados e investigados jurídica e politicamente, quem julga quem? O governo perdeu credibilidade e demonstra total incapacidade política e gerencial para lidar com a crise e recuperar a governabilidade. E o Congresso? O Congresso é o terreno da mediocridade e da manipulação, envolvido em corrupção e dominado por interesses privados. Instituições da República desmoralizadas e amesquinhadas por disputas de migalhas de poder convivendo com extorsão e compra de apoios políticos. Se a presidente soube pelos jornais que Eduardo Cunha chantageava o voto do PT na comissão de ética da Câmara, nós brasileiros tomamos conhecimento pelos mesmos jornais que o ex-presidente Lula e a Casa Civil da Presidência queriam trocar os votos com o presidente da Câmara. Rui Falcão, presidente do PT, melou o acórdão sem vergonha. Se este fosse um país sério, a presidente da República renunciava e, ao mesmo tempo, o Congresso decidia pela auto-dissolução, abrindo caminho para novas eleições gerais comandadas pelo presidente do STF-Supremo Tribunal Federal, numa tentativa de zerar o jogo e na esperança de que o eleitorado escolhesse melhor os seus dirigentes e representantes. À pergunta “quem julga quem?” a democracia tem uma resposta: o eleitorado.