A greve dos caminhoneiros contra os aumentos continuados do preço dos combustíveis tem uma motivação econômica: protesto contra a política de preços da Petrobrás, com aumento quase diário dos preços dos combustíveis. Claro que, como uma empresa de capital aberto (mesmo com controle acionário do Estado), a corporação não pode submeter o preço dos seus produtos aos interesses políticos dos governos de plantão, como foi feito durante o governo Dilma Rousseff, levando-a à grave crise ora vivida. Ocorre, contudo, que tendo quase o monopólio do refino e da produção de combustíveis – das 17 refinarias operando no Brasil, 13 são da Petrobrás e respondem por mais de 95% do total da produção nacional – a empresa também não pode ter plena liberdade para definir o preço final dos seus produtos, tratando-se de componente vital para a economia nacional. Mesmo considerando a necessídade de recuperação dos preços que foram artificialmente achatados no governo Dilma, a Petrobrás errou na dosagem, e principalmente nos critérios de reajuste, vinculando os preços às flutuações da cotação internacional de petróleo e à variação cambial – como diz Eduardo Giannetti, duas variáveis altamente voláteis. Mas a crise de combustível ganhou agora uma clara e perigosa conotação política, por conta de dois movimentos diferentes, mas convergentes e igualmente graves. De um lado, a exploração política do movimento dos caminhoneiros por parte de segmentos da direita, radicalizando os bloqueios das rodovias para provocar o caos econômico e social, muitos defendendo abertamente um golpe militar. Do outro lado, os sindicatos e federações dos petroleiros, em parte controladas pela CUT-Central Única de Trabalhadores, iniciaram, nesta quinta-feira, uma greve “para que o gás de cozinha volte a ter o preço que tinha antes, pela baixa da gasolina, pela baixa do preço do diesel”, segundo as palavras do coordenador do Sindipretro, Anselmo Braga. Parece um “volta Dilma”, com a política que quase destruiu a Petrobrás. No fundo, a greve dos petroleiros é contra a pretensão correta da Petrobrás, de privatização de algumas refinarias, que, além de contribuir para a recuperação da rentabilidade da empresa, reduziria o nefasto monopólio de fato da corporação. Oportunista, aproveitando a mobilização dos caminhoneiros para atacar o governo e a direção da empresa, o movimento dos petroleiros tenta impedir medidas de saneamento financeiro e do patrimônio da Petrobrás.
Sobre o autor
Postagens Relacionadas
Postagens recentes
-
A turbulência de céu clarodez 20, 2024
-
Balanço positivo de fim de anodez 20, 2024
-
Venezuela: suspense numa autocracia caóticadez 20, 2024
-
Chuquicamata, Patagônia, Índios Alacalufesdez 20, 2024
-
Com a Palavra, os Leitoresdez 20, 2024
-
Ceia Natalina, Proust e Polarizaçãodez 20, 2024
-
Última Páginadez 20, 2024
-
O acordo que pode transformar o Brasildez 13, 2024
-
Um islamismo com temperança e liberdade?dez 13, 2024
Assinar Newsletter
Assine nossa Newsletter e receba nossos artigos em seu e-mail.
Alcides Pires A Opinião da Semana Aécio Gomes de Matos camilo soares Caruaru Causos Paraibanos civilização Clemente Rosas David Hulak democracia Editorial Elimar Nascimento Elimar Pinheiro do Nascimento Eli S. Martins Encômio a SPP Estado Ester Aguiar Fernando da Mota Lima Fernando Dourado Fortunato Russo Neto Frederico Toscano freud Helga Hoffmann Ivanildo Sampaio Jorge Jatobá José Arlindo Soares José Paulo Cavalcanti Filho João Humberto Martorelli João Rego Lacan Livre pensar Luciano Oliveira Luiz Alfredo Raposo Luiz Otavio Cavalcanti Luiz Sérgio Henriques manifestação Marco Aurélio Nogueira Maurício Costa Romão Paulo Gustavo Política psicanálise recife Religião Sérgio C. Buarque Teresa Sales
comentários recentes