Já que é difícil fugir do tema nestas semanas de alegria e efusão, podemos especular um pouco a respeito de alegados efeitos de um evento como esse sobre Governo e Política. Há quem creia que vitórias ou derrotas mundiais de futebol podem debilitar ou fortalecer governos, e houve mesmo quem recomendasse, nos anos sombrios da Ditadura Militar, a “torcida contra” o Brasil. O esporte bretão, hoje mais brasileiro que tudo, seria um novo ópio do povo, como os marxistas acreditaram, por um tempo, fosse a crença religiosa. No entanto, o retrospecto histórico não revela nenhuma regularidade nessa relação. Ganhamos na democracia e sob ditadura, com a economia atribulada ou em boa marcha, com governantes plausíveis ou censuráveis. E não se pode provar efeitos benéficos das vitórias em qualquer dos casos. Na realidade, se crítica pudesse ser admitida em relação ao futebol, por distrair o povo de suas agruras, ela deveria ser estendida a qualquer atividade esportiva. Pois a filosofia do esporte é também essa: além de fortalecer o corpo e o espírito dos seus praticantes, canalizar as suas energias e seus impulsos agressivos, naturais do bicho homem, para uma prática inocente, e dar alegria e divertimento aos seus espectadores. Panem et circenses, uma velha e saudável fórmula que está acima de qualquer juízo moral de pequeno alcance. Além de tudo, no plano das competições internacionais, é gratificante ver como jogadores de diversas raças e cores se confraternizam, se abraçam, se beijam. A mais completa negritude dos africanos se mescla com a branquidão quase fantasmagórica dos nórdicos, O futebol consegue o que a comunidade internacional organizada gostaria de conquistar. Portanto, vibremos todos, e vamos confiar no bom desempenho da seleção brasileira. Com mais uma recomendação final: reconheçamos nossos valores. Não depreciemos nossos atletas, como se faz com Neymar, um dos melhores jogadores do mundo, apenas pelo pecado venial das “manhas”, comum aos jogadores de todos os quadrantes, como qualquer espectador pode perceber. Livremo-nos, de uma vez, do “complexo de vira-latas” de que falava Nelson Rodrigues. Nisso, e em mais nada do mundo do futebol, os estrangeiros são melhores do que nós.
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