Editorial

A entrada em massa de venezuelanos em Roraima é apenas uma pequena parte do acelerado processo de  emigração de um país destroçado por décadas de governos populistas e autoritários. Desde o ano 2000, cerca de quatro milhões de cidadãos (quase 13% do total da população) fugiram do caos da Venezuela, em busca de sobrevivência e oportunidades em outros países. Crise emigratória comparável ao doloroso espetáculo de sírios e norte-africanos  aventurando-se perigosamente no mar Mediterrâneo, para escapar da guerra e da miséria social. A recessão dos últimos quatro anos levou a um declínio de 42% do PIB da Venezuela, segundo Comissão da Assembleia Nacional, drástica queda da economia e, portanto, do emprego, agravada pela hiperinflação, que desastrutura completamente a economia do país. Nenhum governo sobrevive a tão longa recessão e, menos ainda, a uma hiperinflação. Como é possível então que, nestas dramáticas condições econômicas e sociais, Nicolás Maduro ainda continue governando a Venezuela e, ainda por cima, ignore a Assembleia Nacional? A sustentação de Maduro são as Forças Armadas. Os militares ocupam grande parte da estrutura de poder, generais e coronéis controlam um terço dos ministérios e a maioria das empresas estatais, incluindo a estatal de Petróleo (PDVSA). E mantêm a passividade e mesmo a lealdade de parte da população empobrecida, através do distributivismo seletivo de benesses. Tudo isto associado à intimidação dos protestos e à ameaça à oposição, por parte das milícias bolivarianas. Mais surpreendente que a sua sobrevivência no poder, foi a recente declaração de humildade do presidente bolivariano que, deixando, por enquanto, de responsabilizar o imperialismo pela crise venezuelana, assumiu publicamente a culpa pelo desmantelo econômico do país. “Os modelos produtivos que testamos até agora fracassaram e a responsabilidade é nossa, é minha”, afirmou. E, no entanto, o pacote econômico que acaba de divulgar não representa uma reorientação de rumos da política econômica. Além da substituição da combalida moeda para tirar cinco zeros (o bolívar soberano), da desvalorização cambial e do aumento do preço da gasolina (ambas, medidas que geram mais inflação), não contém nada que permita esperar a recuperação da estabilidade econômica. E a agonia da Venezuela e dos venezuelanos continua. Até quando?