21 de agosto de 2018
Um debate sobre “Eleições 2018: quem vai ganhar?”, motivaram-me a escrever este artigo. De tudo o que ouvi no debate, chamou-me mais atenção o que não é novidade: a instituição mais confiável para a população brasileira é a Igreja.
Nós, acadêmicos, costumamos avaliar as eleições com argumentos puramente racionais e abstratos.
E, no entanto, eleições majoritárias, sobretudo para presidente da república, decidem-se não somente (nem principalmente) por motivos racionais, mas também por sentimentos, emoções, desejos, mitos. Os marqueteiros sabem disso.
Quem tiver mais recursos financeiros levará grande vantagem na campanha eleitoral, pois não são todos os escritórios de marketing que dispõem de máquinas caríssimas e profissionais de ponta em várias áreas, inclusive da neurociência. Pesquisas avançadíssimas, das quais os nossos pobres recursos de powerpoint das aulas e congressos universitários estão a anos luz de distância. Os entrevistados não apenas respondem questões objetivas. Isso terá menos importância do que suas emoções enquanto presenciam cenas da vida cotidiana. Estas são captadas diretamente dos neurônios pelas tais máquinas.
Simplificando muito, assim se elegem os candidatos. O último prefeito de São Paulo, o riquinho, teria sido eleito não fosse o trabalho de sua assessoria de marketing que foi moldando um candidato à imagem e semelhança de algumas aspirações, desejos de mudança, emoções, captados com a acuidade dessas poderosas máquinas de acesso aos neurônios?
Porém a sociedade é de uma complexidade muito mais rica e cheia de contrastes do que a nossa pobre ciência política pode alcançar. Aí que entra por vezes o azarão.
No meio de uma crise econômica, de uma separação extrema de classes sociais “como nunca antes nesse país”, da violência nas ruas que trancafia a elite (nós todos) em fortalezas versus uma imensa periferia que enfrenta a guerra às drogas; no meio de tudo isso, a sociedade se move. Não é a ciência política nem a economia que podem dar conta do movimento da sociedade.
Aqui vai uma sugestão aos marqueteiros. Ao contratar uma nova propaganda, seja da classe empresarial ou dos políticos em períodos eleitorais, incluam no preço uma espécie de imposto. Não ao estado, mas à ciência social. Cobrando menos de 1%, daria, por exemplo, para financiar o melhor sociólogo brasileiro vivo e atuante, José de Souza Martins, para manusear e analisar a riqueza desses dados, produzindo conhecimentos novos sobre a sociedade brasileira de que estamos tão carentes. É preciso conhecer para transformar.]
Volto à proposição inicial. A Igreja é a instituição depositária de mais de noventa por cento da confiança do povo brasileiro. Não é gratuito. Essa igreja é principalmente a evangélica. São os “irmãos”. Elegem uma bancada no Congresso nacional. Grande parte desses irmãos adquiriram muito de sua cidadania civil, não concedida pelo Estado, na Igreja. Lá, têm sua dignidade. Essas igrejas alimentam seus fiéis com os cultos, programas de TV e rádio. E, contraditoriamente, muitos jovens, quando militam por uma causa social, fazem-no através de sua igreja.
Em março deste ano presenciei a um ato de jovens pertencentes a 53 organizações cristãs (inclusive católica), que em seus bairros apoiam famílias que perderam parentes para a guerra às drogas. No imenso areal da praia do Pina, ergueram mil pequenas cruzes pretas de madeira, simbolizando os jovens, negros, moradores da periferia (90% dos casos, estimativamente) que foram assassinados somente no primeiro trimestre de 2018 em Pernambuco.
O marqueteiro às vezes faz milagres. Porém não tem como impedir – só Deus – o azarão. Este é como uma onda, que só explode no momento final. Apostar não custa, afinal foi o que fizeram os três palestrantes da semana passada, com argumentos racionais. Sigo por outro trilho, como se estivesse (puro devaneio) analisando um gráfico produzido pelas máquinas que alcançam os neurônios. Fico imaginando a força dos jovens. Eles costumam ser poderosos e muitas vezes nem se dão conta disso. Com as redes sociais então … Já imaginaram uma centelha da sociedade que se move … tá certo, em grande medida atrás de bens materiais, “presente de Deus” … mas … Uma centelha de esperança pode aparecer numa mulher evangélica, que não é simulacro de um mito, mas é ela por si, limpa, corajosa. O resto, a gente sabe, inclusive do jogo sujo com o Congresso Nacional para poder governar. Virão por acréscimo.
comentários recentes