Editorial

Alguém tem que avisar a Jair Bolsonaro que ele foi eleito presidente da República, que não é mais aquele parlamentar meio moleque que circulava na Câmara de Deputados esgrimindo, sem controle, ideias e agressões que lhe vinham à cabeça. Talvez ele não o tenha percebido, ou mesmo não goste da nova função. Mas foi eleito, e agora é o presidente da República de um país enorme, complexo e cheio de problemas.

Isso tem grandes consequências na sua vida. Para não falar nas consequências para o Brasil. Em primeiro lugar, ele não é o presidente dos 57 milhões que o elegeram. Ele é o presidente do Brasil, com uma sociedade cheia de diferenças de visões de mundo, interesses e propostas. Ele não foi eleito pelos fanáticos pentecostais, como parece pensar, e para quem parece pretender governar. Bolsonaro não teria a menor chance de ser eleito se se tivesse limitado ao voto de um grupo reacionário e altamente conservador nos costumes, tendo recebido milhares de votos de vários segmentos da sociedade insatisfeita com a política tradicional, e revoltada com os governos do PT-Partido dos Trabalhadores. E não tem que governar apenas para os seus eleitores, alguns mesmos dos quais devem estar muito incomodados com o festival de besteira das suas manifestações nas redes sociais.

A divulgação no twitter de uma cena obscena no Carnaval não corresponde à dignidade do cargo de Presidente da República, tampouco sua arenga infantil e grosseira com jornalistas e alguns artistas. O Brasil precisa de um lider que se dirija à nação com propostas para os graves problemas do país, como a reforma da Previdência. O presidente deveria imediatamente desligar esse twitter, que tem servido apenas para espalhar intrigas e anátemas, e provocar conflitos desnecessários e de baixo nível, além de envergonhar a nação pelo ridículo que propaga na rede social. Para que comece a cuidar do que interessa, construir consensos num quadro tão difícil de fanatismo, formar maioria para tomar decisões relevantes e, principalmente, respeitar as minorias, mesmo as que, eventualmente, destilam ódio contra o seu governo.