Editorial

Com a imagem desgastada pela incompetência e pelo desmantelo do seu governo, e com um notável isolamento político – desorientação no Congresso e confronto com militares – o presidente da República decidiu partir para uma arriscada mobilização dos seus fiéis seguidores,  com uma manifestação de rua cheia de bandeiras autoritárias. Perigosa aventura populista, com a chamada aos seus eleitores para o confronto com as instituições que asseguram o equilíbrio democrático:  o Judiciário, e mais ainda o Congresso, que incomoda, não apenas pelo jogo da chamada “velha politica”, mas principalmente porque tenta assumir o protagonismo político diante do desgoverno. Com cinco meses de governo, o presidente ainda não saiu do palanque, e continua falando e agindo como o líder de um movimento fanático de Direita, e não como o chefe de Estado de uma nação complexa e diversificada, de 200 milhões de habitantes. O governo não tem rumo, e o presidente tem um talento especial para envenenar a política com decisões reacionárias e desencontradas, fundamentadas numa anacrônica paranoia anticomunista e antiglobalização. No meio dessa confusão toda, o presidente parece ter  ficado descompensado, diante da decisão da Justiça do Rio de Janeiro de quebra do sigilo bancário e fiscal do seu filho, o senador Flávio Bolsonaro. Além da suspeita de corrupção e lavagem de dinheiro, a relação do senador com figuras ligadas às milícias do Rio de Janeiro deve despertar grande inquietação no núcleo familiar de um presidente que se elegeu como o campeão da luta contra a corrupção. Convencido pela sensatez de alguns auxiliares, o presidente Jair Bolsonaro decidiu não participar diretamente da manifestação do domingo. E como é muito provável que, felizmente, o bolsonarismo, em baixa, não demonstrará grande poder de mobilização neste domingo, o presidente sairá ainda mais enfraquecido, esvaziado em suas pretensões populistas.