Quando ingressei na Fundação Joaquim Nabuco, em dezembro de 1983, levado para ser secretário-executivo do Conselho Editorial da Instituição (não da Editora Massangana, como na prática funcionava) pelo meu admirado mestre o renomado linguista Luiz Antonio Marcuschi, que então assumira a direção daquele órgão encontrei uma Fundação ainda eufórica com o novo statusadquirido em 1980. À frente do Instituto de Documentação, ao qual se vinculava a Massangana, estava o prestigiado e prestigioso nome de Joaquim Falcão, intelectual já renomado, ex-diretor do Departamento de Ciência Política do Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais e professor da Universidade Federal de Pernambuco.
À Massangana, Marcuschi logo imprimiu uma excelente dinâmica de trabalho, cujos frutos foram a publicação de importantes obras sobre as regiões Norte e Nordeste, áreas de atuação legal da Fundaj. Sem exagero, posso dizer que Marcuschi profissionalizou a Editora, conferindo-lhe disciplina e respeitabilidade nacional. Todavia, devo enfaticamente assinalar (sobretudo para as novas gerações) que a história editorial da Fundação começa bem antes, nos primórdios do Instituto Joaquim Nabuco, o que não é de estranhar numa instituição de pesquisa e cultura que, de par com sua produção, necessita publicar, estimulando seus intelectuais e difundindo os seus trabalhos.
Com a saída de Marcuschi e Falcão da Fundaj em 1985, o presidente Fernando de Mello Freyre chamou-me para trabalhar, ainda com o mesmo cargo de secretário-executivo do Conselho Editorial, que lhe era diretamente subordinado, no gabinete da presidência, onde pude conviver com o poeta Jaci Bezerra e com o escritor Maximiano Campos, assessores do presidente. Sebastião Vila Nova, de assessor de Fernando Freyre passaria a diretor da Editora, numa experiência efêmera que logo levou à chegada de Leonardo Dantas Silva, o mais longevo dos diretores da Massangana e o mais devotado à construção de uma bibliografia histórica.
Para mim, foi um importante aprendizado trabalhar, ainda jovem, na casa verde dos 26 anos, numa editora como a Massangana. Conhecer de perto o paciente trabalho de equipe que transforma textos em livros, porque, como bem nos adverte o historiador Roger Chartier, “Os escritores não escrevem livros, escrevem textos”. Conhecer também profissionais altamente capazes em suas áreas de atuação: gráficos (nessa época, a Massangana dispunha de um parque gráfico), programadores visuais, bibliotecárias, revisores, gestores comerciais, gente que se move e se mexe nos bastidores para que a matéria-prima intelectual se transforme neste objeto fantástico que é o livro. Sem falar na satisfação de conhecer e conviver com vários autores da Casa, a exemplo dos admirados Edson Nery da Fonseca, Mário Souto Maior, Rachel Caldas Lins, Mário Lacerda de Melo, Roberto Motta, Frederico Pernambucano de Melo, Clóvis Cavalcanti, Edson Nery da Fonseca, José Antonio Gonsalves de Mello, Waldemar Valente.
Finalmente, após várias outras missões na Fundação Joaquim Nabuco, voltei a conviver de perto com a Massangana como seu editor (de janeiro de 2012 a fevereiro de 2015) e assim pude a ela devolver tudo o que dela, lá atrás, recebera de aprendizado. Reencontrei velhos e bons colegas e tive a sorte de ter como braço direito uma das mais dinâmicas e competentes colegas da Fundaj: Anita Carneiro. Por outro lado, levava a minha experiência de mais de 15 anos da consultoria editorial que criara em 1997 com Inge Neumann, minha esposa — a Consultexto. À época da minha indicação para editor, estava, sem falsa modéstia, de fato maduro para a missão que o então presidente, Fernando José Freire, egresso da Universidade Federal Rural de Pernambuco, me confiava. Obsessivo, eu havia lido praticamente tudo o que se publicara no Brasil sobre livros, editoras e gestão editorial.
Àquela altura, em 2012, malgrado toda a carência de recursos humanos e técnicos da Massangana, sua enxuta equipe agiu e reagiu bravamente e deu o melhor de si para editarmos cerca de 80 publicações. Apesar do constante e generoso apoio do presidente Fernando José Freire, enfrentamos ondas e tempestades as mais diversas, mas chegamos naquele porto onde nos esperam, felizes e gratos, os que sabem que cumprimos da melhor maneira o nosso dever para com eles: os autores. Em parceria com um conselho editorial representativo e atuante, tanto publicamos pesquisadores da Casa quanto outros autores de alta qualidade acadêmica. Assim, ressalto, a Massangana pôde não só publicar o que de melhor editaram as suas gestões passadas como promover novos lançamentos de grande qualidade. Apropriando-me dos belos versos do poeta César Leal, digo que “Não fiz pela Massangana o quanto quis. / Fiz o que pude e permitiu-me a lei”.
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