Elimar Pinheiro do Nascimento

Podemos gostar ou não, Luís Lula da Silva é um dos maiores líderes políticos do Brasil e da América do Sul. Nada tem a ver com elogios à política conduzida enquanto Presidente, repleta de coisas boas e ruins. Prefiro pensar o futuro.

Quando um líder político sai da prisão, o melhor a fazer é demonstrar generosidade e compaixão por seus adversários. Isto lhe engradece a imagem e angaria simpatias em ambientes hostis. Lula fez o contrário. Saiu batendo em “deus e o diabo”. Bater no Moro era esperado, seu desafeto pessoal. Criticar o Bolsonaro também, seu adversário político. Porém não se pode, no quadro democrático, tratar o adversário como inimigo, como o fez. Inimigo tem-se na guerra, passível de eliminação física. O mesmo não ocorre na disputa democrática, que tem como um de seus princípios a alternância de poder. O oponente sempre merece um mínimo de respeito. Como dizia o poeta, na democracia são as ideias que brigam e não os humanos.

Infelizmente, esse não foi o único deslize do discurso de Lula, ao sair da cadeia. Resolveu bater nos movimentos políticos que investiram em novas vocações políticas. Eles foram  um dos fatos mais alvissareiros das últimas eleições, pois levaram ao Congresso um quadro de jovens, dos mais diversos espectros políticos, com muitas boas intenções éticas e preparo técnico. Nada comparável aos Renans e Malufs da vida, com os quais seu partido se aliou. Denunciou os jovens como políticos financiados pelos ricos, como se as eleições de seu partido tivessem sido financiadas pelos pobres, e não por grandes empresas. Tolice pura. Ganhou antipatizantes sem necessidade.

Para não deixar por menos, resolveu bater em instituições democráticas de prestígio, como o Ministério Público, e se não fosse o bastante, incluiu uma das instituições mais respeitáveis do País, a Polícia Federal. E mais ainda: resolveu dar sua contribuição para destruir o mais moderno meio de comunicação do hemisfério sul. Campanha com que esquerda e direita, petistas e bolsonaristas, comungam. Estão destruindo a TV Globo, para erigir como principal meio de comunicação do país a TV do século XIX, a Record. Troca-se a modernidade pelo conservadorismo mais malsão de que se tem notícias.

Para concorrer com Ernesto Araújo, resolveu defender a ditadura de Maduro, como se fosse a melhor expressão da democracia latino-americana. E ao defender Evo Morales, esqueceu que o povo boliviano havia decidido recusar o quarto mandato ao antigo presidente da Bolívia, em referendo popular, além dos sinais evidentes de manipulação do resultado eleitoral. Aliás, aparentemente Evo fez um bom governo, mas deixou-se dominar pelo amor ao poder a todo custo.

Esses deslizes não satisfizeram Lula, que saiu, erroneamente, destilando ódio. Foi pouco. Resolveu bater na política econômica de Paulo Guedes. Fiquei pensando com meus botões, não estaria repetindo o erro de bater no Plano Real? E se a economia estiver crescendo a 3% em 2021, e os desempregos diminuindo?

Para completar os deslizes, porém, resolveu declarar que saiu “mais à esquerda”. Logo ele, que sempre declarou que não era marxista, nem comunista, nem socialista, amigo de conservadores notórios como Sarney. O país não precisa de um opositor a Bolsonaro mais  à esquerda, pois isso é o que ele quer e lhe garante vitória eleitoral. Vide o resultado da última pesquisa da Veja/FSB: em segundo turno, Bolsonaro teria 46% e Lula, 38%. Huck teve um desempenho melhor, 43% x 39%. Para vencer Bolsonaro, é preciso dividir os conservadores e não alimentar sua tropa com indecisos. Lição primária que um mestre na política, como Lula, não podia olvidar.

Ao invés de trilhar um caminho novo, para eliminar o risco que Bolsonaro representa para a democracia brasileira, Lula preferiu trilhar o caminho da insolência que marcou seu passado, quando o PT expulsou seus membros que votaram em Tancredo, derrotando Paulo Maluf, candidato dos militares à Presidência em 1985; resistiu a assinar a nova Constituição que Ulisses denominou de “cidadã”, em 1988; recusou participar do governo de conciliação nacional comandado por Itamar Franco, depois do impeachment de Collor de Mello, em 1992;  opôs-se à Lei de Responsabilidade Fiscal, que pretendia pôr ordem nas finanças públicas, em 2000.

Pena, somente os inimigos da democracia se regozijaram e agradecem.