Editorial

A cada dia, o presidente Jair Bolsonaro agride a democracia, as instituições da República, as regras mínimas de convivência política e social, a civilidade e os bons costumes, diretamente e/ou recorrendo às suas milícias virtuais, na produção de fake news e nas ameaças aos opositores. Agora, com a distribuição do convite para a manifestação pública do dia 15/3, que ataca o Congresso Nacional e o Judiciário, Bolsonaro ultrapassou todos os limites razoáveis de desrespeito à democracia e à Constituição, recorrendo ao velho estilo populista e golpista de contato direto com as suas bases, mobilizando-as contra as instituições da República. Toda manifestação pública é legítima e respeitável na democracia. Mas o teor do convite da concentração do próximo dia 15 é um direto e duro ataque às instituições, Congresso e STF, inaceitável numa democracia. Alguns sinais parecem indicar que o presidente ignora o Congresso e aposta num clima de tumulto e instabilidade política e social, para sensibilizar os militares na direção de uma ruptura institucional. Não deu apoio explicito, mas silenciou diante dos amotinados da Polícia Militar do Ceará, apoiados diretamente por seu filho, Eduardo Bolsonaro, e pela sua ministra da Mulher e dos Direitos Humanos, Damares Alves. A jornalista Vera Magalhães especula que o presidente deseja a propagação do motim das polícias militares, como preparação para a “criação de uma milícia paraestatal bolsonarista inspirada na criada por Hugo Chavez e inchada por Nicolás Maduro na Venezuela”. A situação é muito preocupante. Mas, se esta é mesmo a estratégia de Bolsonaro, ele pode provocar tensões e conflitos sociais no Brasil, mas não tem condições para liderar um movimento golpísta. Apesar da instabilidade e da polarização política no Brasil, não existe ambiente social e político que mobilize e unifique as Forças Armadas numa aventura golpista, menos ainda para entregar o poder a uma figura desqualificada, desequilibrada e incompetente como Bolsonaro. A esmagadora maioria dos brasileiros rejeita a eventual volta de uma ditadura militar, e a comunidade internacional não aceitará a quebra das regras democráticas, jogando o Brasil no isolamento diplomático e econômico. Bolsonaro não tem a menor consideração para com a opinião pública e para com os protestos internacionais, mas é difícil imaginar os militares embarcando numa arriscada manobra ditatorial, em um Brasil moderno, complexo e integrado em um mundo globalizado.