A imprensa brasileira deveria fazer um boicote generalizado à cobertura do presidente da República na sua saída matinal da residência oficial, quando, aplaudido por uma claque, destila toda a sua molecagem e vulgaridade, e descarrega o seu enorme e inesgotável arsenal de impertinências. O jornalista Roberto Pompeu de Toledo faz um apelo semelhante aos editores dos meios de comunicação sérios do Brasil: “Deixem de enviar seus repórteres ao diário festival de baixarias na porta do Palácio da Alvorada”. Esta seria uma forma eloquente de protesto pelas manifestações irresponsáveis, levianas e desrespeitosas do presidente, parte da sua campanha sistemática contra a imprensa e a liberdade de informação no Brasil. Desqualificando as fontes sérias de informação, o presidente e sua tropa de trogloditas entrincheiram-se nas redes sociais, para divulgação das suas “fake news”. Além do mais, um boicote à sua arrogante saída do Palácio pouparia os brasileiros do desconforto intolerável com o desrespeito do presidente aos mais elementares valores da civilização. Mais uma vez, Bolsonaro passou dos limites esta semana, com a sua agressão à jornalista Patrícia Campos Mello, da Folha de São Paulo, que acompanhava a CPI das “fake news” no Congresso Nacional. Os governantes tendem, normalmente, a criticar a imprensa na proporção direta da sua função social de apurar, organizar, divulgar e analisar fatos e informações. Mas, para Bolsonaro, a imprensa brasileira é uma inimiga que precisa ser combatida com agressões verbais, ameaças e intimidações, e, no limite, silenciada. Felizmente, a imprensa resiste e continua exercendo o seu papel de informar, até mesmo as barbaridades de um presidente, inclusive contra os próprios meios de comunicação. Bolsonaro não tem respeito por ningúem que não seja seu aliado e fanático seguidor, não respeita os profissionais do jornalismo, não se dá ao respeito e, portanto, não merece o respeito dos brasileiros. Ele demonstra que é um personagem totalmente desqualificado para o cargo a que foi alçado, por um desses cruéis acasos da História, que teimam em comprometer o futuro do Brasil.
Postagens recentes
-
A turbulência de céu clarodez 20, 2024
-
Balanço positivo de fim de anodez 20, 2024
-
Venezuela: suspense numa autocracia caóticadez 20, 2024
-
Chuquicamata, Patagônia, Índios Alacalufesdez 20, 2024
-
Com a Palavra, os Leitoresdez 20, 2024
-
Ceia Natalina, Proust e Polarizaçãodez 20, 2024
-
Última Páginadez 20, 2024
-
O acordo que pode transformar o Brasildez 13, 2024
-
Um islamismo com temperança e liberdade?dez 13, 2024
Assinar Newsletter
Assine nossa Newsletter e receba nossos artigos em seu e-mail.
comentários recentes
- Elisabete Monteiro dezembro 22, 2024
- helga hoffmann dezembro 17, 2024
- sergio c. buarque dezembro 17, 2024
- sergio longman dezembro 15, 2024
- helga hoffmann dezembro 13, 2024
Alcides Pires A Opinião da Semana Aécio Gomes de Matos camilo soares Caruaru Causos Paraibanos civilização Clemente Rosas David Hulak democracia Editorial Elimar Nascimento Elimar Pinheiro do Nascimento Eli S. Martins Encômio a SPP Estado Ester Aguiar Fernando da Mota Lima Fernando Dourado Fortunato Russo Neto Frederico Toscano freud Helga Hoffmann Ivanildo Sampaio Jorge Jatobá José Arlindo Soares José Paulo Cavalcanti Filho João Humberto Martorelli João Rego Lacan Livre pensar Luciano Oliveira Luiz Alfredo Raposo Luiz Otavio Cavalcanti Luiz Sérgio Henriques manifestação Marco Aurélio Nogueira Maurício Costa Romão Paulo Gustavo Política psicanálise recife Religião Sérgio C. Buarque Teresa Sales
Excelente análise! — embora deva declarar-me suspeito ao elogiar: é que escrevera algo no mesmo sentido, em minha coluna semanal ‘Comunicação & Problemas’ veiculada na ‘web’ a partir deste fim de semana. Atrevo-me a transcrever a seguir as notas em que proponho boicote da imprensa à ‘pesca em aquário nos portões do Alvorada.
[…]Sair da plateia
Por exemplo, a imprensa.
Há meses o presidente abandonou os encontros com repórteres credenciados no Planalto, só conversa com jornalistas em ambientes adrede preparados; os preferidos são os vigiadíssimos portões da residência oficial, o Palácio da Alvorada, aos quais convoca sua claque para aplaudir o que diz e intimidar os jornalistas.
Não seria o caso de não mais frequentar o local?, deixar que o presidente divirta-se à vontade com a plateia mesmerizada e manter somente a cobertura institucional, na sede do governo e de outros eventos formais da Presidência?
Pesca em aquário
É típica dos ditadores e aspirantes a tal status a aversão à imprensa e seus inconvenientes repórteres, com suas perguntas “cheias de palavras”.
Bolsonaro, mais que outros potenciais tiranetes, odeia o debate aberto e com razão: tosco, mal entende as perguntas e enrola-se nas respostas, falta-lhe agilidade mental para acompanhar e reagir a raciocínios diversos dos seus (se é que raciocina…), irrita-se quando cobrado dos próprios equívocos e de seu governo.
É lícito, pois, que a imprensa defenda-se e recuse participar de enredos em que ele ‘pesca em aquário’, sente-se livre para tergiversar, mentir, ofender sem contestações.
Atmosfera tóxica
Antecipo objeções: sei que compete a jornalistas buscar os fatos onde aconteçam, mesmo em condições adversas.
Entendo que a exibição diuturna do despreparo e destempero de Bolsonaro, a ‘nossa’ avantesma, contribui para que mais brasileiros percebam a armadilha na qual nos enredamos ao elegê-lo.
Parece-me, entretanto, que os heroicos repórteres que sofrem cotidianamente a insultuosa convivência cumpriram com louvor sua missão, bem merecem retirar-se da plúmbea atmosfera que hoje intoxica os portais do poder.
Missão cumprida
A missão, por bem cumprida, esgotou-se.
Os que não compartilham o populismo fascistoide do ex-capitão mas preferiram-no a seu oposto, o do lulismo fantasiado de esquerda, já terão percebido o equívoco na escolha do ‘mal menor’ – e quem não aprendeu é irrecuperável, adianta nem ‘desenhar’…
Algo do processo terá instruído a grande massa desinformada, que costuma dei-xar-se levar pelas ondas populistas – se não, mais do mesmo ser-lhes-á de pouca valia.
E os empedernidos ultrarreacionários, base natural de Bolsonaro muito bem re-presentada pelas claques que convoca às cancelas do Alvorada – esses são impermeáveis a argumentos e à obviedade dos fatos.
Não comentei nada antes, logo que li, porque concordo totalmente: o ataque diuturno à imprensa é um dos aspectos mais perigosos deste governo. Todo mundo deveria se perguntar: que será que eles estão querendo esconder? É suspeita tanta raiva de jornalista que não é sabujo. Pode até ser que alguém alguma vez carregue nas tintas. Mas então o que o governo deve fazer é esclarecer e explicar melhor, com dados e fatos.