Todo mundo sabe que o núcleo duro do bolsonarismo, a começar pelo seu líder máximo, não pretendia sair do poder, menos ainda passar a faixa presidencial para Lula da Silva, o presidente eleito em 2022. Bolsonaro nunca escondeu, desde sempre, sua simpatia pela ditadura militar e seu desejo de implantar um regime ditatorial no Brasil. Ao longo do seu desastroso governo, ele ameaçou, várias vezes, romper as regras democráticas para se consolidar no poder. Durante o processo eleitoral, o próprio ex-presidente e sua máquina de fake news divulgaram falsas informações sobre insegurança das urnas eletrônicas, como forma de justificar o não reconhecimento dos resultados do pleito. Depois da derrota, a conspiração avançou, combinando a preparação de um Estado de Sítio, com a incitação de violência dos seus fanáticos seguidores e a mobilização de manifestantes nas portas dos quartéis, pedindo golpe. E tudo convergiu para os atos de vandalismo de 8 de janeiro de 2023, com agressão e destruição das principais instituições de República brasileira. 

Todo mundo sabe disso. Mas agora surgem novas evidências da tentativa de golpe de Estado, que se somam àquela minuta de Estado de Sítio, encontrada na casa de Anderson Torres, ex-ministro da Justiça e Segurança Pública, em dezembro de 2022, que teria sido discutida em reunião de Bolsonaro com chefes militares. A tentativa de golpe parece ter fracassado naquele momento porque não houve apoio unânime dos militares à aventura bolsonarista. Mais evidências surgiram na delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid. E esta semana, a operação Tempus Veritatis descobriu elementos adicionais que denunciam o golpe: outra minuta de providências golpistas e um vídeo de reunião em julho de 2022, no qual, entre outras coisas, o general Augusto Heleno, ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, afirmava que estava na hora de “virar a mesa”. Tentativa de golpe é crime contra o Estado de Direito. E só se configura como crime porque a tentativa, felizmente, não se consumou. Do contrário, quem poderia julgar e condenar os autores e seus mandantes? São muitas evidências. Mas é necessário ainda aprofundar as investigações, dentro do legítimo processo legal e respeitando o contraditório e a defesa dos investigados. Sim, porque a democracia se consolida com mais democracia.