Editorial

O ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva recebeu o título de cidadão honorário de Paris, honraria concedida pelo “seu engajamento na redução das desigualdades sociais e econômicas no Brasil”, segundo comunicado da Prefeitura de Paris. A simpatia dos franceses  para com Lula reflete uma visão tendenciosa e desrespeitosa das instituições jurídicas do Brasil, considerando-se  a sua condenação a 12 anos de prisão por crime de corrupção e lavagem de dinheiro, pena confirmada por colegiado de segunda instância. A Prefeitura de Paris parece entender que o Brasil está sob o domínio de uma ditadura, e que Lula é um condenado por crime político, engolindo a narrativa falaciosa do ex-presidente e seus seguidores, e alimentando o mito do salvador dos pobres. Não há dúvida de que, durante parte do governo Lula, houve uma redução da pobreza e das desigualdades no Brasil. Mas, como já foi demonstrado por vários dos nossos colaboradores nesta “Revista Será?”, essa mudança social foi o resultado da combinação de dois movimentos: o crescimento médio da economia, favorecido pela estabilidade econômica interna (herança bendita do governo anterior), e pelo excepcional dinamismo econômico internacional; e a queda drástica do tamanho médio das famílias, fenômeno demográfico que não tem nada a ver com política de governo. O principal mérito de Lula foi dar continuidade à política macroeconômica de Fernando Henrique Cardoso, que ele teima em criticar.

A competente fábrica de mitos convenceu e sensibilizou a opinião pública mundial, a ponto de ignorar, confortavelmente, a máquina de corrupção montada pelo ex-presidente e o desmonte da economia brasileira, iniciado nos últimos anos do seu segundo mandato, e intensificado ao extremo pela sua sucessora petista, Dilma Roussef. No atual ambiente político brasileiro, o mito Lula é altamente tóxico, acirrando uma guerra fanática entre dois políticos populistas, inibindo o debate de ideias e dificultando mesmo a formação de um movimento sério de defesa das instituições democráticas. Como Bolsonaro, Lula e o seu partido vivem atacando a imprensa (chamada de golpista) e desqualificando o Judiciário, que o condenou à prisão, o que foi reiterado agora no seu discurso de agradecimento à honraria francesa. A Prefeitura de Paris faria um enorme favor ao Brasil convidando Lula pra ficar por lá. Fica, Lula!