Editorial

A globalização acelerou a propagação do Covid-19 em todo o mundo, oferecendo rápido acesso do insidioso vírus a sete bilhões de hospedeiros acumulados nas cidades. Em vez de devolver a gentileza, o virus atacou a globalização, provocando uma forte retração da globalização, com o isolamento dos paises, fechamento de fronteiras, contração do comércio e do movimento internacional de mercadorias e pessoas. A manifestação mais grave do isolamento das nações é a guerra comercial por produtos e equipamentos de saúde, cada país disputando uma oferta restrita e, além do mais, altamente concentrada na China e na Índia. Nessa guerra comercial, os Estados Unidos e o seu arrogante presidente mostram a face perversa de uma pirataria moderna, desviando produtos destinados a outros países, cobrindo os valores contratados por outras nações, como um cruel leilão de salva-vidas. As autoridades da Alemanha afirmaram que os Estados Unidos, após determinação de Donald Trump, desviaram 200 mil máscaras compradas pelo governo alemão, numa forma de “pirataria moderna”, segundo o ministro do interior, Andreas Geisel. O ministro alemão protestou dizendo que “não é assim que se lida com parceiros transatlânticos” e que, “mesmo em momentos de crise global, não é correto usar métodos do “velho oeste”.  A França, e mesmo o Brasil, foram vítimas também desse inaceitável desrespeito às regras do comércio internacional. Na semana passada, uma carga de 600 respiradores artificiais comprada pelos Estados do Nordeste foi retida em Miami, ao mesmo tempo em que o vendedor cancelou, unilateralmente, o contrato. Importante ressaltar, contudo, que os vendedores que aceitam desfazer um negócio assinado por conta de sobrepreço de outro cliente são tão desonestos quanto os piratas. Num ambiente como este, de verdadeiro faroeste comercial e elevada demanda global por equipamentos médicos, figuras destacadas do bolsonarismo – o filho do presidente e o ministro da Educação – provocam ridículos e extemporâneos conflitos diplomáticos com a China, principal produtor mundial de bens e serviços de saúde. O retardado Abraham Weintraub ainda ameaçou: “Só peço desculpas à China se os chineses me venderem equipamentos para os hospitais universitários”. O “Império do Meio” deve estar tremendo de medo deste personagem grotesco.