Em despacho com o Rei, o Conde responsável pela ordem pública informou, orgulhoso, que o reinado, finalmente, estava completamente livre de todos os bandidos, ladrões, assassinos, contrabandistas e vigaristas.

– E os corruptos?, perguntou o rei

– Claro, os corruptos principalmente, Majestade. Todos na cadeia. As cadeias estão cheias. Vossa majestade lembra que liberou recursos para eu construir mais dois presídios? Pois é, estão todos lotados.

Diante da satisfação do rei, o Conde fez uma pausa no seu relatório e, sem o mesmo entusiasmo, acrescentou: “Mas, agora, majestade, estamos com um problema. Faltam súditos e servidores do reino”. Pela expressão do rei, o Conde percebeu que ele não tinha entendido e completou a informação: “Apenas três pessoas estão fora da prisão: Sua Majestade, claro, eu e o Marco Aurélio”.

O rei levantou, indignado. E agora, quem ia fazer as suas refeições, cuidar das suas roupas e alimentar seus cavalos, preparar seus banhos, quem iria para a guerra contra seus inimigos. “E minha mulher, Conde? E minhas amantes? Um rei sem amantes?!”

– Todas corruptas, majestade. Pra dizer a verdade, Majestade, eu vim me despedir. Deixei uma cela especial reservada pra mim. Sabe aqueles dois presídios que eu construí? Pois é, fiquei com 15% do investimento, tudo aplicado na Suíça. Assustado, confuso e até revoltado, o rei gritou com o seu conselheiro.

– Que reino é este, no qual todos os súditos, amantes e conselheiros do rei estão na cadeia? Eu sou o rei, mas não existe reino sem súditos, serventes, amantes e conselheiros. Ou você quer que eu vá morar também na cadeia? Tenho que fazer alguma coisa, meu caro amigo e conselheiro, antes que até você deixe de me servir.

O rei meditou e fez um apelo ao Conde: “Antes de se prender, meu fiel conselheiro, me dê um último conselho, me diga, que devo fazer numa situação tão grave que ameaça o reino?”

– Tem uma saída, Majestade. Simples e rápida. Chame o Marco Aurélio. Ele é muito competente e vai encontrar as brechas certas na lei. Em pouco tempo ele manda soltar todo mundo. Espero que eu mesmo volte livre para continuar meus modestos serviços a Vossa Majestade.

O rei animou-se, pediu que chamasse logo o seu assessor jurídico, a salvação do seu reino. Antes de sair para sua última missão como conselheiro do rei, o Conde fez uma advertência muito séria para que pudesse garantir a a salvação do reino: “Majestade, depois que tiver solto todo mundo, aconselho que mande prender o Marco Aurélio”.