Os pais da pátria – Painting by Junius Brutus Stearns (1856).

 

“O populismo entrou na política americana no final do século 19 para nunca mais deixá-la. Ele colocou o povo, no sentido de todos, menos os ricos, contra as corporações, as quais, por sua vez, reagiram nos tribunais definindo a si como pessoas. Também colocou o povo, no sentido de pessoas brancas, contra as pessoas não brancas que lutavam por cidadania e cuja possibilidade de reagir juridicamente era muito mais limitada, já que esse tipo de luta exigia a presença de advogados muito bem pagos. O populismo também colocou o povo contra o Estado.”

Trecho do livro de Jill Lepore, sobre a história da formação dos Estados Unidos, intitulado Estas Verdades, Intrínseca, 2020.

“Porém, há outra maneira de arruinarmos a democracia. É menos dramática, mas igualmente destrutiva. Democracias podem morrer não nas mãos de generais, mas de líderes eleitos – presidentes ou primeiros-ministros que subvertem o próprio processo que os levou ao poder. Alguns desmantelam a democracia rapidamente, como fez Hitler em 1933, na Alemanha. Com mais frequência, porém, as democracias decaem aos poucos, em etapas que mal chegam a ser visíveis”.

Trecho do livro de Steven Levitsky e Daniel Ziblatt, sobre o risco às democracias, intitulado Como as Democracias Morrem, Zahar, 2018.

Nos anos recentes, o noticiário tem acentuado o risco de metástase das democracias. Autofagia política. Comidas pelos que deveriam alimentá-las. Nos Estados Unidos, na Hungria, na Turquia. E no Brasil.

O cenário é sério. Atestado na prática e na teoria. Certificado na desconstrução institucional de governantes autocráticos. E nos estudos de historiadores e politólogos. No caso brasileiro, o presidente da República, por palavras e atos, tem evidenciado desapreço pelas instituições republicanas. É a presença bizarra em manifestações públicas no espaço urbano de Brasília. É a interferência insólita em assuntos da Polícia Federal. É a assertividade grosseira com a Folha de S.Paulo. E outras.

Não vi tais atitudes no comportamento de nenhum dos presidentes da República, eleitos democraticamente, de meu país. Inclusive no comportamento do ex presidente Lula. Falo à vontade a respeito. Porque escrevi dois livros sobre o ex presidente. O primeiro livro, O Que é o Governo Lula ? , editora Landy, São Paulo, 2002. O segundo livro, Como a Corrupção Abalou o Governo Lula, Edilivro, Rio de Janeiro, 2005.

No primeiro, procurei explicar a importância política de eleger um presidente com o perfil de Lula. No segundo livro, frustrado com o episódio do mensalão, inventariei os fatos que resultaram nos inquéritos e prisões que a nação conhece.

Recordo tais acontecimentos porque vou votar em Marília Arraes. E fui lembrado do risco de empoderar Lula. Considero que o maior adversário da democracia brasileira não é o ex presidente Lula. É o presidente Bolsonaro.

O Brasil precisa, em 2022, de uma frente política que reúna todos os que são fiéis à democracia. Social democratas, os ligados à economia social na linha alemã. E os ligados aos sindicatos na linha do trabalhismo inglês. Liberais, os voltados ao livre mercado. E os voltados ao papel regulador do Estado. O importante é criar o futuro. Adensado na aliança de todos os democratas. Sem discriminar. Como disse Hannah Arendt, política é o agir conjunto.