Um, é ex militar. Deixou, de forma peculiar, o Exército. Ingressou na política. Foi deputado federal durante décadas. Sem notícia de apresentação de projeto relevante. E elegeu-se presidente da República. Cargo no qual vai gradualmente se descredenciando.
O outro, filho da remediação, foi tocado pelos fados. Mostrou extraordinário talento no futebol. Enriqueceu. Com o tempo, evitou assumir a consciência de sua expressão social. Acentuou duas preferências: baladas e sexo. No campo, especializou-se em estrebuchar pirotecnias.
Senso de responsabilidade é atributo pessoal. Decorre de educação, como escreveu Anísio Teixeira. E de livre arbítrio, como dizem os tomistas. Educação é ferramenta que aperfeiçoa a natureza. E projeta os dons de cada um. Livre arbítrio é exercício de cidadania, no plano democrático das escolhas que fazemos.
Junte-se educação e livre arbítrio e teremos variada extensão de vocações. Desde a poesia prematura e azul de Carlos Pena Filho. Até os cabelos brancos de Alceu de Amoroso Lima. Passando pela genialidade literária de Nelson Rodrigues.
Mas, há exceções. No curso da vida, as pessoas optam. Pelo que entendem ser mais fácil. Ou mais sensual. Ou mais proveitoso a seu apetite. E propósitos.
Em A Corrosão do Caráter, Richard Sennett anotou que a experiência leva o indivíduo a escolher. Entre valores. Decência, responsabilidade, verdade, harmonia. Tempo e vontade, segundo o autor, conduzem o indivíduo a optar. Conforme sua escala de valores.
Essa disposição de atuar, de acordo com a valoração de modos de agir, significa manter fidelidade a si. Fidelidade a si é o conforto de quem vai dormir e indaga a si mesmo: tudo bem ?
E vai dormir em paz. Ou não.
O cenário social no Brasil é de enorme tragédia. São mais de 200 mil pessoas mortas. Milhões de infectados. Sem política de saúde. Sem plano de combate à covid. E, tão escabroso quanto, com o presidente da República afirmando: “Eu não ligo”. E largou-se para o Guarujá para réveillon.
Por sua vez, o milionário jogador do Paris Sant Germain – PSG organizou festa para 500 convidados. Com tudo a que têm direito. E sem constrangimento. Nem um fio de solidariedade, sequer, aos que perderam vidas, afetos e amparo. Vai celebrar festa de fim de ano. É caráter.
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Que triste! Tudo triste. Acrescentaria apenas um dado, o de que o ex-capitão não deixou o Exército “de forma peculiar” . Deixou em decorrência de uma investigação sobre o planejamento de um ato terrorista. Que planejou um ato terrorista ficou comprovado, mas uma manobra na maneira como foram contados os laudos técnicos sobre os croquis evitou sua condenação final. Mas já não havia “clima” para uma carreira militar.