Jair Bolsonaro se elegeu presidente apoiado em duas grossas camadas de maquiagem para amenizar o seu perfil obscurantista: a Lavajato, que simbolizava o combate à corrupção, abonada enquanto o ex-juiz Sérgio Moro foi Ministro da Justiça; e o Paulo “Posto Ipiranga” Guedes, que prometia uma reorganização das finanças públicas com ampla reforma do Estado, incluindo a privatização de várias estatais.

Em apenas dois anos, a maquiagem derreteu, deixando exposto o verdadeiro Bolsonaro, mistura de saudosismo da ditadura militar com o fisiologismo da velha política do Centrão, que ele tanto atacou na campanha eleitoral.

Em vez de combate à corrupção, compadrio com os malandros do Centrão. Em vez de reforma do Estado, intervenção nas estatais. O presidente ajudou a acabar com a Lavajato e com o combate à corrução no Brasil, enquanto os políticos e empresários poderosos inventam manobras jurídicas para se proteger das investigações e dos julgamentos.

Bolsonaro não é corrupto, dirão os seus seguidores. Será? É verdade que ele não apareceu nos grandes escândalos de corrupção das últimas décadas, mas também ele não tinha poder e era um medíocre parlamentar do “baixo clero”. E tudo indica que, ao longo da sua vida parlamentar, o presidente praticou a pequena e contínua corrupção das “rachadinhas”.

A intervenção de Bolsonaro na Petrobrás, substituindo o presidente de uma grande empresa de capital aberto (vale sempre lembrar que 63,3% das ações são de investidores privados) para agradar aos caminhoneiros, desmanchou outra parte da sua maquiagem, e desmoralizou de vez o ministro Paulo Guedes. Para esconder sua verdadeira face estatista, o presidente correu depois ao Congresso, com propostas de privatização da Eletrobrás e dos Correios, na esperança de enganar os agentes econômicos.

Mas será que alguém ainda confia no discurso do “Posto Ipiranga”? Os empresários e investidores estarão dispostos a investir num país com tamanha incerteza política, e com esse voluntarismo populista do presidente da República? O fato é que, sem maquiagem, Bolsonaro mostra a sua face ameaçadora: autoritário, populista, estatista e tolerante com a velha e carcomida política brasileira.