Réquiem by Zdzis?aw Beksi?ski .

 

La guerre est finie.  A situação hoje vivida pelos brasileiros honestos, que pautam sua conduta pelos valores da ética e da democracia, é comparável à dos republicanos espanhóis que, com a vitória de Franco e o fim da Segunda Guerra Mundial, mergulharam numa luta subterrânea e sem esperanças.  Tudo indica que a saga descrita por Jorge Semprun está para ser revisitada.

O cerco contra a Operação Lava Jato começa a se fechar, nas esferas públicas do Executivo, Legislativo e Judiciário.  Sabe-se que o principal compromisso do candidato do presidente Bolsonaro, eleito para o comando da Câmara dos Deputados, foi justamente pôr fim ao movimento que parecia inaugurar uma nova era em nossos costumes políticos. Sua vitória foi ignominiosamente festejada numa farra em que políticos corruptos, adesistas de última hora e bolsonaristas fanáticos desrespeitaram todas as regras de combate à pandemia do Coronavírus, e extravasaram sua euforia.

Enquanto isso, aqueles políticos (em minoria, infelizmente) que não têm “rabo preso”, por amizades talvez, ou por uma equivocada noção de lealdade, de rosto compungido, lamentam que a Operação Lava Jato esteja morrendo “por seus erros”. Que erros, enfim?  Conversas ilegalmente gravadas entre juiz e procuradores, decisões judiciais monocráticas consideradas “tendenciosas”, apesar de ratificadas unanimemente por cortes superiores, a paranoia de um “projeto de poder” do Ministério Público Federal, como se suas atribuições não estivessem balizadas pela Constituição, a hipotética motivação do juiz Sérgio Moro para impedir a candidatura à Presidência de um condenado em três instâncias judiciais, que só está livre das grades pela vergonhosa reviravolta jurisprudencial do STF, ao impedir a prisão de um réu após duas sentenças condenatórias – caso único no mundo.

A última pá de terra parece estar sendo jogada pelo ministro Lewandowski, aquele mesmo que avalizou o inconstitucional “fatiamento” do impeachment de Dilma Roussef, e foi flagrado pela teleobjetiva de um jornalista esperto, combinando mudanças de voto sobre o relatório do ministro Joaquim Barbosa, no episódio do ”mensalão”.  Mesmo sem ser o relator do processo em causa, a quem caberia a possível providência, deu “de bandeja” aos advogados de Lula as fitas gravadas – ilegalmente, repita-se – das conversas entre juízes e procuradores da Lava Jato.

Assim, com o interesse do chefe do Executivo, cuja prioridade limita-se hoje a proteger os filhos, a clara intenção do Legislativo, pelas óbvias razões acima apontadas, e a tibieza do STF, para dizer o mínimo, é tempo de oficiar o réquiem para a Lava Jato. Só falta mesmo o julgamento da suspeição do juiz Sérgio Moro, ainda não levada ao plenário do STF, talvez, pelo temor do escândalo que representaria, tendo como consequência a liberdade de todos os corruptos. Pois “quórum” para isso eles já têm, com o voto do tosco e obscuro ministro nomeado por Bolsonaro, cujo nome sequer é lembrado.

Que fazer?  A pergunta é bem antiga. Além de entoar nênias pela morte da Esperança, perseverar e lutar pela reação de um povo sofrido, que está a merecer melhor destino.  Tristes trópicos! Triste Brasil!