A última pesquisa da Datafolha mostrou uma queda de seis pontos percentuais na aprovação do presidente Jair Bolsonaro, chegando a apenas 24%, o nível mais baixo desde que assumiu o governo. Embora esta aprovação seja ainda surpreendentemente alta, considerando os absurdos e o desmantelo completo do seu governo, o presidente deve ter sentido o golpe. E reagiu: no último sábado, alguns dias depois da publicação da pesquisa, uma multidão reuniu-se na Esplanada dos Ministérios para apoiar Bolsonaro, numa demonstração de resiliência política do bolsonarismo.

O presidente participou da manifestação e o Ministro da Defesa, o General Braga Neto, ameaçou mobilizar as Forças Armadas para impor um decreto inconstitucional que o presidente estaria preparando. “As Forças Armadas estão prontas para garantir que todos tenham direito de trabalhar”, afirmou o general, de cima de um caminhão. Mas o presidente foi jogado nas cordas, outra vez, por dois eventos independentes que denunciam sua irresponsabilidade com a saúde pública e desmoralizam a sua apregoada honestidade. A CPI-Comissão Parlamentar de Inquérito da Covid-19 está evidenciando a atitude desumana e criminosa do presidente diante da pandemia que provocou centenas de milhares de vítimas fatais, que poderiam ter sido evitadas se ele não tivesse rejeitado vacinas, “vendido” medicamentos ineficazes e perigosos e desestimulado a população a seguir protocolos de proteção.

E, para completar a sucessão de golpes, a Polícia Federal realizou mandados de busca e apreensão no Ministério do Meio Ambiente, no gabinete e na residência do próprio ministro Ricardo Salles, um dos mais fiéis seguidores de Bolsonaro. Salles é investigado por suspeita de movimentações financeiras atípicas e de exportação ilegal de madeira, envolvendo corrupção, advocacia administrativa, prevaricação e, especialmente, facilitação ao contrabando. O risco para o Brasil é que, encurralado, o presidente seja dominado por seus instintos reacionários e aposte numa desastrosa aventura golpista.