Guernica – Pablo PIcasso.

 

Guernica é uma pequena vila no país basco. Fica ao Norte da Espanha. Tem ao redor de seis mil habitantes. Foi bombardeada em 26 de abril de 1937, nas prévias da Segunda Guerra Mundial, por aviões nazistas. Com autorização do presidente, Francisco Franco. O intuito teria sido testar armas.

O pintor cubista, Pablo Picasso, antinacionalista, vivia em Paris. Tomou conhecimento do episódio por jornal norte americano. E viu a destruição brutal e desnecessária do povoado. Foi possuído por grande emoção e revolta. Apanhou o pincel e começou a desenhar a tela: Guernica.

Selecionou cores que não acentuassem brilho: preto, branco, tons de azul. Definiu espaço de 351 centímetros por 782 centímetros. E produziu grito pictórico que ecoou em toda Europa. Vindo da boca de cavalo com língua pontiaguda. Um lustre de forma arredondada assemelhando-se ao sol espanhol. A figura da Pietá refletindo o sofrimento de mães e filhos da tragédia. E uma vela, ardendo, mantendo acesa a esperança de sensatez.

Vacina e pão. Frase escrita em pedaço de papelão. Levado em passeata por um cidadão brasileiro. Numa tarde tropical. Em que, protestando, pedia o avanço da vacinação contra covid. E comida. A vacinação, no Brasil, vem sendo feita quase contra a vontade do governo. Pois o presidente, que usa capacete e não máscara, determinou que não se comprasse a vacina fabricada na China. Nem a da Pfizer. Motociclista distraído.

O presidente também não providenciou nenhuma campanha publicitária para orientar a população. E estimular as pessoas a se vacinar. Ao contrário. Incentivou o povo a tomar drogas para tratamento clínico, sem comprovação científica. O vírus, sem encontrar resistência científica, começou a espalhar-se. O número de infectados aumentou. As mortes foram sendo registradas em gráficos mortíferos. Hoje, são meio milhão de mortos. Uma Guernica tropical?

A falta de vacina, de campanha e de planejamento, é apenas uma das distorções do governo. Que prometia uma nova política. Veio uma política nova. Mas não exatamente do modo prometido. Exemplos: 1º Veio um orçamento secreto. Para que parlamentares comprassem tratores para suas bases eleitorais; 2º Veio um secretário nacional de Cultura que trabalha contra a cultura. E a favor do racismo. Dizendo que o artista negro, Jones Manoel, deve tomar “um bom banho”; 3º Veio um ministro do Meio Ambiente que funcionava contra florestas e recursos naturais. Desmobilizando a fiscalização do Ibama. E ampliando os quilômetros de desmatamento na Amazônia; 4º Veio um ministro da Economia que negou recursos para realização do Censo. Sonegando informações à formulação de políticas públicas melhor orientadas; 5º Veio a liberação para compra de armas por particulares. O percentual de mortes, no Brasil, por arma de fogo, saltou de 72%, em 2019, para 78%, em 2020; 6º Veio o aumento obsceno do fundo partidário, na alegria disfarçada dos Partidos, para R$ 5,7 bilhões. Um acinte.

Governos têm suas metáforas. Pode ser a vida. Pode ser a morte. Em Cuba, o ex-ditador Fidel Castro proclamava: “Pátria ou morte”. Esta semana, o povo cubano, lutando por liberdade e comida, desfilou um protesto inédito em Havana, gritando: Pátria e vida.

Na Guernica tropical, a morte espalhou-se como atestado de insanidade política. Passada no cartório da subserviência funcional. Mas a resistência continua. A vida se transforma em estandarte. Elevado nos montes republicanos de Olinda: “Minha terra tem palmeiras, onde canta o sabiá”.